Chefe de governo da Polónia critica impasse europeu sobre preço do gás

"Alguns países que têm de lidar com a crise do ponto de vista dos preços do gás e do petróleo, fazem-no de uma forma muito egoísta", afirmou o primeiro-ministro da Polónia, Mateusz Morawiecki, em entrevista à euronews, em Bruxelas.
euronews: "Gostaria de abordar o recente escândalo chamado Qatargate em torno do alegado suborno de funcionários da União Europeia, incluindo uma vice-presidente do Parlamento Europeu. Quando ouviu esta notícia, ficou chocado ? O que pensa de tudo isto?
Mateusz Morawiecki: "Fiquei bastante chocado e tomei conhecimento de alguns detalhes deste caso. Espero que o Estado de direito regresse ao Parlamento Europeu e que todos os comportamentos escandalosos sejam explicados".
euronews: "Enquanto os cidadãos da União Europeia assistem a este drama político, vemos que a União Europeia, após meses de intermináveis conversações, ainda está num impasse quanto à forma de lidar com a crise energética. Os ministros da UE voltaram a não conseguir chegar a um acordo, esta semana. Devemos esperar avanços em breve?"
Mateusz Morawiecki: "Não tenho muitas certezas porque vejo que alguns países que têm de lidar com esta crise do ponto de vista dos preços do gás e do petróleo, fazem-no de uma forma muito egoísta. Eles não vêem a situação na sua globalidade. Não vêem o impacto para a Ucrânia dos recursos naturais e dos preços. A compra de combustíveis alimenta as máquinas de guerra da Rússia, que devem parar o mais rapidamente possível. A Polónia é um dos poucos países que têm sido mais radicais em termos de agravar muito rapidamente os grandes pacotes de sanções, porque, na nossa opinião, quanto mais cedo atingirmos a máquina de guerra russa, mais cedo a paz, a boa paz, estará de volta à Europa".
euronews: "Em relação às negociações sobre os preços do gás, como se pode explicar aos cidadãos confrontados com o aumento das contas de energia, que os líderes europeus não conseguem encontrar uma solução?"
Mateusz Morawiecki: "Exactamente. Há alguns meses, em Abril, Maio e Junho, vários países, incluindo a Polónia, países do Norte, e também a Itália e a Espanha pressionaram a Comissão Europeia. Estávamos a tentar agir de forma a ajudar a resolver o problema. Estávamos a tentar encontrar um denominador comum apropriado, porque sabíamos que o limite do preço do gás deveria ser encontrado algures , a meio caminho entre as nossas expetativas e as expetativas da Alemanha e dos Países Baixos entre outros países. Eles bloquearam esse esforço, teimosamente, o que é para mim bastante preocupante, porque ainda estamos longe de encontrar um compromisso sobre um limite máximo para o preço do gás".
euronews: "A culpa deste impasse é da Alemanha e dos Países Baixos?"
Mateusz Morawiecki: "Não estou a culpar ninguém, estou apenas a sublinhar que a solidariedade a nível europeu significa trabalhar o mais rapidamente possível para ter um denominador comum, mas nem sempre o menor denominador comum".
euronews: "A segurança energética do continente está em risco este Inverno e nos próximos Invernos ?"
Mateusz Morawiecki: " “Completamente. A União Europeia é uma potência económica. E podemos ditar as regras. Talvez ditar seja uma palavra demasiado forte, mas, podemos forçar os nossos parceiros. E não me refiro em particular à Rússia. Refiro-me a outros países com os quais podemos ter acordos para a compra de gás, a médio ou longo prazo, a um nível apropriado e não dependentes das flutuações e especulações como as que se registaram em Agosto e em Setembro deste ano".
euronews: "A guerra na Ucrânia está em curso, sem fim à vista. O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que o Ocidente devia dar garantias de segurança à Rússia para pôr fim à guerra. É uma opção realista?"
Mateusz Morawiecki: "A Rússia, enquanto superpotência, enfraquecida, mas que possui armamento nuclear e um exército forte, não precisa de qualquer tipo de garantias porque tem as garantias nas suas próprias mãos. O único país que precisa de apoio e garantias para a sua soberania e segurança é a Ucrânia. Por isso penso que a abordagem adequada seria apoiar a Ucrânia através de uma entrega de armas mais forte e ajuda financeira, para que Putin e o Kremlin vejam que estamos seriamente empenhados em apoiar a Ucrânia não só durante este Inverno, mas nos próximos anos".
euronews: "A União Europeia decidiu congelar os fundos europeus para a Hungria por temer que o dinheiro possa favorecer a corrupção. Qual é a sua opinião sobre esta questão?"
Mateusz Morawiecki: "Posso dizer-vos que estou surpreendido e chocado com a corrupção no Parlamento Europeu. É primeira coisa. Penso que os procedimentos no Parlamento Europeu e nas outras instituições deveriam ser revistos em grande escala. No que diz respeito à abordagem da União Europeia à Hungria, tendo em conta que a Hungria tem um governo bastante conservador, isso é uma das razões pelas quais a Hungria é tão atacada. Não sou especialista do ecossistema húngaro. Mas penso que uma parte significativa, se não a totalidade dos ataques, é injustificada".
euronews: "O seu país, a Polónia, também suscita preocupações. Mas não foi tomada qualquer decisão desse tipo. O que tem a dizer aos que afirmam que a UE tem dois pesos e duas medidas?
Mateusz Morawiecki: "Só posso salientar que tanto a Hungria como a Polónia são tratadas de uma forma muito injusta, isso não deveria acontecer".
euronews: "Sente-se visado pela Comissão Europeia?"
Mateusz Morawiecki: Somos alvo da Comissão Europeia constantemente, nos últimos anos porque não eles concordam com a nossa reforma do sistema judicial pós-comunista".
Euronews: "Sente que Bruxelas tem sido mais branda em relação à Polónia após a guerra?"
Mateusz Morawiecki: "Mais branda ? Não, de todo. Vejo que ainda estão a intervir de forma muito brutal para além das suas competências, que não fazem parte dos tratados. E não nos calamos em relação a isso. É por isso que estou muito surpreendido com a abordagem da Comissão nos últimos anos".