A sinagoga mais antiga de África voltou a ser palco de um ataque, durante a celebração final de uma peregrinação. Quatro pessoas perderam a vida
Dois fiéis que participavam numa peregrinação judaica à sinagoga Ghriba, na ilha de Djerba, no leste da Tunísia, foram mortos na noite de terça-feira num ataque perpetrado por um polícia.
O agente começou por matar um colega, a quem retirou a arma antes de se dirigir à sinagoga e disparar sobre a multidão.
Segundo o comunicado do Ministério do Interior tunisino, o atentado desenrolou-se em duas fases: o agente da polícia que disparou os tiros atingiu primeiro um dos seus colegas e levou as suas munições, dirigindo-se depois para a zona em redor da sinagoga, onde abriu fogo contra as forças de segurança e foi morto a tiro. Dois "visitantes" da sinagoga foram mortos pelos tiros do atacante antes de ele ser abatido, e quatro outros ficaram feridos e foram transportados para um hospital.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Tunísia declarou, em comunicado, que os dois mortos são "um tunisino de 30 anos e um francês de 42 anos", sem fornecer as suas identidades.
A sinagoga, a mais antiga de África, tinha sido alvo de um atentado suicida com um camião, que matou 21 pessoas, em 2002.
O ataque suscitou reações internacionais.
"Os Estados Unidos deploram o atentado na Tunísia, que coincide com a peregrinação judaica anual que atrai fiéis de todo o mundo à sinagoga de Ghriba. Expressamos as nossas condolências ao povo tunisino e elogiamos a ação rápida das forças de segurança tunisinas", declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, no Twitter.
O ataque ocorreu quando centenas de fiéis estavam a participar na peregrinação anual judaica Ghriba, que terminava na terça-feira à noite na sinagoga.
De acordo com os organizadores, mais de 5 000 peregrinos judeus, na sua maioria estrangeiros, participaram na peregrinação de Ghriba deste ano, que foi retomada no ano passado após um hiato de dois anos devido à pandemia de Covid-19.
Organizada no 33.º dia da Páscoa, a peregrinação de Ghriba está no centro das tradições dos tunisinos de fé judaica, que são apenas 1 500, maioritariamente instalados em Djerba, contra 100 000 antes da independência, em 1956.
Tradicionalmente, os peregrinos vêm também de países europeus, dos Estados Unidos e de Israel, mas o seu número diminuiu consideravelmente após o atentado de 2002.
Este atentado ocorre numa altura em que o turismo está a registar uma forte recuperação na Tunísia, após um forte abrandamento durante a pandemia.
Após vários anos de deterioração devido à instabilidade que se seguiu à revolução de 2011, este setor-chave para a economia tunisina foi gravemente afetado após os atentados de 2015 contra o museu Bardo, em Tunes, e um hotel em Sousse, nos quais foram mortas 60 pessoas, incluindo 59 turistas estrangeiros.
O ataque ocorre no momento em que a Tunísia enfrenta uma grave crise financeira que se agravou desde que o presidente Kais Saied tomou o poder em julho de 2021, pondo em causa a frágil democracia nascida da revolta mãe da Primavera Árabe, em 2011.