O que se conseguiu foi uma vitória estratégica que redesenha as regras do jogo, ou apenas uma conquista momentânea que pode ser ultrapassada pelo próximo confronto?
Desde que foi lançado o ataque-surpresa israelita a alvos no interior do Irão, Telavive parecia estar a tentar alterar as regras de combate no conflito com Teerão, contando com o apoio político e militar dos Estados Unidos e de algumas potências ocidentais.
À medida que os ataques se expandiram e, mais tarde, evoluíram para uma intervenção direta dos EUA, que visaram as instalações nucleares fortificadas, uma questão fundamental foi levantada nos círculos políticos e militares: Terá Israel alcançado uma verdadeira vitória e, em caso afirmativo, tratar-se-á de uma vitória tática ou de uma mudança estratégica no longo confronto com o Irão?
A ofensiva israelita
Israel iniciou as suas operações militares no interior do Irão com ataques aéreos de precisão que visaram instalações militares, centros de comando e controlo, bem como locais de fabrico e desenvolvimento de mísseis e drones. Estes ataques caracterizaram-se pela sua rapidez e pelo recurso a informações de alta precisão, que confundiram as defesas iranianas e constituíram um primeiro choque para o regime de Teerão.
A mensagem israelita foi clara: a geografia já não protege a República Islâmica dos ataques e o confronto já não se limita aos conflitos por procuração, seja na Síria, no Líbano ou no Iraque. No entanto, estes ataques ainda não resultaram num colapso militar ou de segurança dentro do Irão.
A intervenção dos EUA
A maior mudança ocorreu quando os Estados Unidos atacaram as principais instalações nucleares de Fordow, Isfahan e Natanz, utilizando aviões B-2 e mísseis perfurantes GBU-57. Estes ataques marcaram o auge da escalada contra o programa nuclear do Irão.
De acordo com um relatório apresentado ao Conselho de Segurança da ONU pelo diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, os danos nestas instalações foram extensos, mas a AIEA não pôde avaliar a da destruição no interior das infraestruturas subterrâneas.
Irão: Sem recuar
Apesar dos duros golpes, o Irão não deu sinais de recuar, intensificando a sua retórica e ameaçando retaliar contra os EUA, ao mesmo tempo que prossegue os bombardeamentos contra Israel.
Avaliar os ganhos: Imediatos ou estratégicos?
Israel conseguiu, sem dúvida, marcar pontos importantes a curto prazo, quer demonstrando a sua capacidade de penetrar nas profundezas iranianas, quer conduzindo ataques diretos. Conseguiu também voltar a colocar a atenção internacional no programa nuclear iraniano e obter apoio para conter as ambições de Teerão.
No entanto, os ataques ainda não conseguiram alterar o rumo estratégico da política iraniana, pois ainda não forçaram Teerão a regressar à mesa das negociações em novas condições. Pelo contrário, o conflito parece ter entrado numa nova fase de tensões contínuas e de ataques mútuos que poderão prolongar-se.
Domingo, o antigo primeiro-ministro israelita Ehud Olmert fez uma declaração importante. Considerou que os ataques dos EUA neutralizaram o programa nuclear do Irão e alertou para repercussões maiores. Olmert afirmou que o regime não cairá apesar da força dos ataques e apelou a que se tenha em conta o arsenal de mísseis de Teerão. Olmert distanciou-se um pouco da posição oficial israelita. Afirmou que era "arrogante e irrealista" pensar que os ataques preventivos iriam pôr de joelhos um país de 90 milhões de habitantes com uma herança de milhares de anos.
Por conseguinte, os observadores consideram que o que Israel conseguiu até agora foi uma vitória imediata com um impacto estratégico limitado. Foi um duro golpe para o prestígio do Irão, mas não pôs fim ao projeto nuclear, segundo os responsáveis iranianos.
Com a entrada dos Estados Unidos, o custo aumentou, mas os riscos também.
Conseguirá Israel traduzir este avanço numa mudança permanente da equação regional, ou terá aberto as portas a um longo conflito que poderá ultrapassar a sua capacidade de controlar o seu curso?