A Polónia tornou-se, na quarta-feira, o primeiro membro da NATO a intervir ativamente contra drones russos desde a invasão total da Ucrânia por Moscovo, no início de 2022. Varsóvia afirmou que a violação foi deliberada.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir-se de emergência na quinta-feira, a pedido da Polónia, após a incursão sem precedentes de drones russos sobre o país da Europa Central.
Na quarta-feira, as forças armadas polacas e o primeiro-ministro Donald Tusk afirmaram que Varsóvia abateu pelo menos três drones russos numa operação descrita como "sem precedentes".
A Polónia registou pelo menos 19 incursões de drones, alguns dos quais voaram a uma profundidade suficiente no interior do país para que quatro aeroportos suspendessem temporariamente os voos. Foram recuperados fragmentos de 16 objetos abatidos.
O incidente foi a primeira vez que um país membro da NATO se envolveu ativamente com drones russos desde o início da invasão em grande escala de Moscovo, em fevereiro de 2022.
A Polónia, que também acionou o Artigo 4.º do tratado da NATO na quarta-feira, pediu que o Conselho de Segurança das Nações Unidas fosse convocado para "chamar a atenção de todo o mundo para este ataque sem precedentes de drones russos", disse o ministro das Relações Exteriores Radosław Sikorski à rádio.
O Conselho de Segurança da ONU tem autoridade para investigar conflitos que ameacem a segurança internacional e propor contramedidas, como sanções económicas.
Uma reunião de emergência é normalmente convocada em resposta a uma crise internacional súbita e grave.
Sikorski acusou a Rússia de visar deliberadamente o espaço aéreo polaco na incursão, o que provocou uma onda de condenação e receio entre os aliados da NATO.
"A avaliação das forças aéreas polacas e da NATO é que não se desviaram da rota, mas que foram deliberadamente visadas", afirmou Sikorski numa declaração em vídeo.
Escalada, não fim
Os líderes europeus afirmaram acreditar que a incursão, que teve lugar no momento em que o Kremlin lançou uma vaga de ataques contra a Ucrânia, representou a expansão internacional da guerra da Rússia - um receio profundo dos aliados europeus da Ucrânia.
"A guerra da Rússia está a aumentar, não a acabar", disse a chefe da política externa da UE, Kaja Kallas, aos jornalistas em Bruxelas. "O que (o presidente russo Vladimir) Putin quer fazer é testar-nos. O que aconteceu na Polónia é uma mudança de jogo".
O espaço aéreo da Polónia foi violado inúmeras vezes desde o início da invasão russa, mas nunca com esta dimensão. O país da Europa Central afirmou que, neste caso, uma parte significativa dos drones veio da vizinha Bielorrússia.
O major-general bielorrusso Pavel Muraveiko, chefe do Estado-Maior do país e primeiro vice-ministro da Defesa, pareceu tentar distanciar o seu país da incursão.
Numa declaração online, afirmou que as forças de defesa aérea bielorrussas seguiram "drones que perderam a rota" depois de terem sido bloqueados, acrescentando que Minsk avisou os seus homólogos polaco e lituano sobre a aproximação de "aeronaves não identificadas" ao seu território.
O Ministério da Defesa russo afirmou que os seus ataques noturnos visaram a indústria militar da Ucrânia ocidental e que os ataques em território polaco não foram planeados.
No entanto, os dirigentes dos Estados bálticos da Lituânia, Letónia e Estónia manifestaram a sua profunda preocupação com o que consideraram ser uma prova clara da expansão da agressão de Moscovo.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy afirmou que a incursão dos drones é um "precedente extremamente perigoso para a Europa" e apelou à Rússia para que "sinta as consequências".
"Moscovo testa sempre os limites do que é possível e, se não encontrar uma resposta forte, mantém-se num novo nível de escalada", afirmou.
O presidente dos EUA, Donald Trump, que tem pressionado repetidamente para mediar um acordo de cessar-fogo entre a Ucrânia e a Rússia, apenas disse num curto post nas redes sociais: "O que se passa com a Rússia a violar o espaço aéreo da Polónia com drones? Aqui vamos nós".