Moscovo rejeitou a possibilidade de um cessar-fogo na Ucrânia, afirmando que esta ideia contradiz o acordo alcançado por Vladimir Putin e Donald Trump no Alasca. No entanto, o Kremlin continua a querer que o segundo encontro entre os dois em Budapeste se realize.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não tem "planos" para se encontrar com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, "no futuro imediato", afirmou um funcionário da Casa Branca na terça-feira.
A Ucrânia, juntamente com os aliados europeus, apelou a um cessar-fogo nas atuais linhas da frente da guerra russa, considerando-o como um ponto de partida para quaisquer outras negociações e, em última análise, para qualquer acordo futuro.
Kiev não alterou a sua posição e tem vindo a insistir neste plano desde o início das negociações com Washington.
A posição de Moscovo também não mudou. Para o Kremlin, um cessar-fogo está fora de questão, mas a Rússia continua a querer que se realize uma reunião entre Putin e Trump em Budapeste, dois meses após a cimeira do Alasca.
Para Trump, a atual linha de contacto não é o primeiro passo, mas sim um acordo final para pôr fim à guerra total de Moscovo, agora no seu quarto ano.
Após a sua reunião com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, na passada sexta-feira, Trump disse: "Devem ficar onde estão. Que ambos reclamem a vitória."
Trump acrescentou que iria encontrar-se com o seu homólogo russo em Budapeste, "dentro de duas semanas, muito rapidamente". Mas os preparativos para a cimeira poderão demorar mais tempo e envolver mais negociações.
Qual é o calendário da cimeira?
O Presidente dos EUA afirmou que pretende aproveitar a dinâmica do acordo de cessar-fogo em Gaza entre Israel e o Hamas para pôr termo à guerra da Rússia na Ucrânia. É por esta razão que pretende que a reunião com Putin tenha lugar "dentro de duas semanas".
Para que tal aconteça, o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio e o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergey Lavrov deverão reunir-se antes da cimeira presidencial.
Durante a noite de terça-feira, os meios de comunicação social norte-americanos informaram que mesmo este primeiro passo poderia ser adiado após a primeira conversa telefónica entre Lavrov e Rubio, que terá demonstrado diferenças significativas nas posições de Moscovo e Washington.
Quando questionado sobre o adiamento da reunião entre Rubio e Lavrov, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo classificou-a como um "circo de informação".
A reunião estava prevista para quinta-feira, altura em que os líderes europeus se vão reunir em Bruxelas para discutir a Ucrânia e a defesa europeia, juntamente com Zelenskyy.
Posição de Moscovo inalterada
Lavrov disse na terça-feira que durante o telefonema com Rubio, as partes "confirmaram seu firme compromisso de implementar os acordos alcançados por Vladimir Putin e Donald Trump" no Alasca.
Trump disse que na cimeira do Alasca, Putin garantiu-lhe que quer chegar a um acordo de paz para pôr fim à sua guerra contra a Ucrânia.
O antigo enviado de Trump para as negociações com a Ucrânia disse à Euronews, no início de outubro, que Putin também prometeu a Trump encontrar-se com Zelenskyy.
Desde então, o presidente norte-americano tem tentado organizar conversações diretas entre Moscovo e Kiev, mas o Kremlin rejeitou esta oportunidade da mesma forma que tem dito não a um cessar-fogo.
Na terça-feira, Lavrov afirmou que Moscovo não alterou a sua posição desde a cimeira do Alasca e que a ideia de "cessar imediatamente" as hostilidades significa esquecer aquilo a que a Rússia chama "as causas profundas do conflito".
"Os apelos a um cessar-fogo imediato sem abordar as causas profundas do 'conflito ucraniano' contradizem os acordos alcançados por Putin e Trump no Alasca", acrescentou.
De acordo com Moscovo, as "causas profundas" incluem as aspirações da Ucrânia de aderir à UE e à NATO, bem como a alegada violação dos compromissos da NATO de não se expandir para leste, a alegada discriminação do governo ucraniano contra os russos étnicos e o que Putin chama de "desnazificação" da Ucrânia.
Putin e a Rússia utilizaram estes argumentos falsos para justificar a invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro de 2022, mas não conseguiram apresentar provas de nenhuma destas alegações.
Moscovo culpa a Europa
Os líderes europeus e Zelenskyy emitiram uma declaração conjunta na terça-feira apelando a um cessar-fogo ao longo das actuais linhas da frente na Ucrânia.
"Continuamos empenhados no princípio de que as fronteiras internacionais não podem ser alteradas pela força".
Sergey Lavrov acusou os europeus de insistirem num cessar-fogo para "reabastecer" a Ucrânia com armas, dizendo que esta é a única razão pela qual a UE, juntamente com a Ucrânia, está a insistir num acordo de cessar-fogo.
Além disso, (o Presidente francês Emmanuel) Macron disse no passado que este cessar-fogo deveria ser feito sem quaisquer condições prévias, incluindo, disse ele publicamente, (que) ninguém seria capaz de restringir o fornecimento de armas a Kiev", disse Lavrov.
"O gato está fora do saco e tornou-se imediatamente claro porque é que este cessar-fogo era necessário".
Lavrov acusou ainda a UE de encorajar Kiev a "atacar as infra-estruturas civis e os civis no território da Rússia".
A Rússia tem vindo a atacar continuamente as infraestruturas civis ucranianas em toda a Ucrânia há mais de três anos e meio, desde o início da invasão total da Ucrânia por Moscovo.