Moscovo negou que a última ronda de sanções da UE e as novas medidas rigorosas de Washington tenham qualquer efeito na sua economia ou na sua estratégia de guerra, dando a entender que a Rússia não vai recuar na sua invasão da Ucrânia nem concordar com um cessar-fogo.
As sanções da União Europeia (UE) contra Moscovo estão "na verdade a funcionar contra Bruxelas", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia na quinta-feira, acrescentando que "as possibilidades de as expandir foram esgotadas".
O Kremlin continua a negar que as novas medidas mais rigorosas tenham qualquer impacto na economia russa e na estratégia de guerra de Moscovo na Ucrânia, sinalizando que não vai alterar a sua posição de invasão e que não vai concordar com um cessar-fogo.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo afirmou que mesmo as sanções dos EUA contra os gigantes petrolíferos Rosneft e Lukoil "não causarão problemas à Rússia, que desenvolveu uma forte imunidade a tais restrições".
"No entanto, enviam um sinal contraproducente, incluindo do ponto de vista do acordo ucraniano", afirmou a porta-voz Maria Zakharova na quinta-feira.
Dmitry Medvedev, antigo presidente e ex-primeiro-ministro da Rússia, foi mais longe e classificou Washington como inimigo de Moscovo.
"Os Estados Unidos são nossos inimigos, e o seu 'pacificador' falador embarcou agora totalmente num caminho de guerra com a Rússia", disse Medvedev, referindo-se ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"As decisões tomadas são um ato de guerra contra a Rússia. E agora Trump alinhou totalmente com a Europa louca".
Irá a Rússia concordar com um cessar-fogo?
"Agora é o momento de parar a matança e de um cessar-fogo imediato", disse o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, na quarta-feira, ao anunciar a notícia das sanções de Washington, as primeiras desde o regresso de Trump à Casa Branca.
"Dada a recusa do presidente Putin em pôr fim a esta guerra sem sentido, o Tesouro está a sancionar as duas maiores empresas petrolíferas da Rússia que financiam a máquina de guerra do Kremlin. O Tesouro está preparado para tomar outras medidas, se necessário, para apoiar o esforço do presidente Trump para acabar com mais uma guerra. Incentivamos os nossos aliados a juntarem-se a nós e a aderirem a estas sanções."
Donnacha Ó Beacháin, cientista político da Universidade da Cidade de Dublin, disse à Euronews que esta medida não vai fazer a Rússia recuar na sua guerra contra a Ucrânia.
"Não acredito que Putin vá recuar agora ou concordar com um cessar-fogo ou com negociações significativas. Porque é que o faria?", questionou Ó Beacháin.
"Durante o fim de semana, Trump convocou o presidente (Volodymyr) Zelenskyy para Washington e, após um briefing telefónico de duas horas de Putin, repreendeu o líder ucraniano, dizendo-lhe que tinha de ceder às exigências da Rússia ou enfrentaria a destruição da Ucrânia", salientou.
Ao chegar à cimeira da UE, na quinta-feira de manhã, em Bruxelas, Zelenskyy disse que a Ucrânia não está a ser pressionada a fazer concessões territoriais e que não vai ceder nenhuma das áreas temporariamente ocupadas pela Rússia.
"Os apoiantes da Rússia - sobretudo a China e a Coreia do Norte - têm apoiado o esforço de guerra do Kremlin. A Coreia do Norte enviou dezenas de milhares de tropas e forneceu mais munições à Rússia do que toda a União Europeia forneceu à Ucrânia", afirmou Ó Beacháin.
Ó Beacháin disse ainda à Euronews que Putin só contempla um cessar-fogo ou negociações "quando acredita que está em risco de perder território ou poder".
"Para Putin, qualquer acordo refletirá as realidades no campo de batalha. Enquanto se aperceber de um progresso mínimo, terá poucos incentivos para parar", sublinhou, referindo-se aos 0,4% de ganhos territoriais em 2025, conseguidos com enormes custos humanos.
Ó Beacháin realçou que Putin deixou claro que só se encontraria com Zelenskyy "para formalizar um acordo pré-estabelecido que equivaleria à capitulação da Ucrânia".
"Não há provas de que esta posição tenha mudado", concluiu.