A situação em Al-Fashir, no Darfur, é catastrófica, depois de as Forças de Apoio Rápido terem assumido o controlo da cidade no oeste do Sudão, anteriormente nas mãos do exército. Há relatos de massacres horríveis e dezenas de milhares de pessoas estão a fugir.
A cidade de Al-Fashir, no Darfur, caiu nas mãos das Forças de Apoio Rápido (RSF), que já tinham cometido vários massacres e atrocidades, e o exército sudanês teve de se retirar da região. Após a ocupação desta importante cidade no oeste do Sudão, dezenas de milhares de pessoas optaram por fugir dos atos de violência do grupo paramilitar para um campo de refugiados nas proximidades.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), mais de 26 mil pessoas chegaram até agora ao campo, que se situa a cerca de 60 quilómetros da cidade conquistada, refere o Der Spiegel. "Os recém-chegados relatam rotas de fuga perigosas e abusos horríveis", escreve Filippo Grandi, alto comissário da ONU para os Refugiados, no X.
Segundo um representante do ACNUR, os refugiados vindos de Al-Fashir relatam violência arbitrária, assassinatos e execuções de pessoas com deficiência. Outros foram abatidos a tiros durante a fuga. Muitos permaneceram lá porque não têm condições ou são muito débeis para fugir, disse Jacqueline Wilma Parlevliet, chefe do escritório do ACNUR no Sudão.
Os 300 mil habitantes da cidade, sitiada há um ano e meio pelas RSF, correm o risco de serem torturados, roubados, extorquidos, violados e de as crianças serem recrutadas para grupos armados.
O Laboratório de Investigação Humanitária da Universidade de Yale disse à BBC que, desde que a cidade foi ocupada, imagens de satélite mostram pilhas de corpos de pessoas que foram executadas em massa ou abatidas por franco-atiradores. Numa publicação no X, o diretor-executivo da equipa de investigação descreveu como ficou chocado com o facto de as imagens de satélite mostrarem "manchas de sangue evidentes".
Da mesma forma, a equipa humanitária da ONU no Sudão também descreveu como "horríveis" os relatos de "execuções sumárias", ataques contra civis nas rotas de fuga, violência sexual e rusgas de casa em casa.
Neste contexto de tensão, o governo sudanês decidiu expulsar do país Laurent Bukera, diretor do Programa Alimentar Mundial (PAM) no Sudão, e Samantha Chattaraj, coordenadora da Ajuda de Emergência do PAM para o Sudão. Os funcionários da ONU tinham 72 horas para abandonar o país. O governo ainda não explicou os motivos na base da sua decisão.
Não é a primeira vez que o governo sudanês recorre a uma medida deste tipo, recorda o Der Spiegel. Em junho de 2023, o enviado especial da ONU, o diplomata alemão Volker Perthes, foi declarado persona non grata. Foi acusado de incitar ao conflito no Sudão.
Os milicianos não pouparam os funcionários do Crescente Vermelho: cinco dos seus voluntários foram mortos durante uma missão recente. "A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) está chocada, consternada e profundamente entristecida", declarou a organização com sede em Genebra.
Os voluntários perderam a vida na cidade de Bara, a cerca de 300 quilómetros a sudoeste de Cartum, vestindo coletes que os identificavam como membros da Cruz Vermelha. Três dos seus colegas continuam desaparecidos.
O Sudão mergulhou numa situação de caos a 15 de abril de 2023, quando as tensões entre o exército e as RSF se transformaram numa guerra aberta em todo o país. Desde então, pelo menos 24.000 pessoas foram mortas e cerca de 13 milhões de cidadãos tiveram de abandonar as suas casas, quatro milhões dos quais fugiram para países vizinhos.