A guerra começou em 2023, quando as tensões eclodiram entre o exército e as RSF, que deveriam supervisionar uma transição democrática após um golpe de Estado de 2019 que destituiu o antigo presidente Omar al-Bashir.
A União Europeia impôs sanções a um dos principais dirigentes do grupo paramilitar sudanês devido às "graves e contínuas atrocidades" cometidas pelas suas forças na guerra de mais de dois anos contra o exército nacional, nomeadamente na região ocidental do Darfur, onde capturaram o último reduto militar no mês passado.
As medidas anunciadas contra Abdel-Rahim Hamdan Dagalo vêm na sequência de sanções semelhantes que a UE e os EUA impuseram às Forças de Apoio Rápido (RSF), o grupo paramilitar envolvido numa luta pelo poder com o exército sudanês.
Washington impôs sanções a Dagalo em setembro de 2023, no início do conflito.
Dagalo é o número dois das RSF e é irmão do seu líder, Mohamed Hamdan Dagalo, mais conhecido como Hemedti.
O Conselho dos Negócios Estrangeiros da UE declarou que impôs as medidas contra Dagalo devido a violações cometidas pelas suas tropas, nomeadamente durante a tomada de el-Fasher, uma cidade-chave no Darfur, no mês passado.
"A União Europeia condena com a maior veemência as graves atrocidades cometidas pelas Forças de Apoio Rápido no Sudão, nomeadamente na sequência da tomada da cidade de el-Fasher", declarou o Conselho dos Negócios Estrangeiros.
De acordo com a Comissão Europeia, as sanções impõem a Dagalo uma proibição de viajar em toda a UE, congelam determinados bens e proíbem-no de obter lucros indiretos ou diretos ou outros recursos dentro do bloco de 27 nações.
"Isto envia um sinal de que a comunidade internacional irá atrás dos responsáveis", disse aos jornalistas a chefe da política externa da UE, Kaja Kallas.
"A situação está a deteriorar-se drasticamente", disse Kallas sobre a guerra, acrescentando que a queda de el-Fasher "abriu outro capítulo devastador nesta guerra".
Não houve qualquer reação imediata das RSF, que sitiaram el-Fasher durante mais de 18 meses antes de tomar a cidade ao exército e de se apoderarem efetivamente de toda a região do Darfur.
Os ataques das RSF causaram centenas de mortos e obrigaram dezenas de milhares de pessoas a fugir para campos sobrelotados.
Anouar el-Anouni, porta-voz da Comissão Europeia, afirmou que a UE está a aumentar a severidade das suas medidas contra ambos os lados do conflito no Sudão.
"Não se trata de uma redução. Faz parte de uma abordagem gradual e progressiva", acrescentou el-Anouni.
Luta armada pelo poder
A guerra entre o exército e as RSF começou em 2023, quando as tensões eclodiram entre os dois antigos aliados que deveriam supervisionar uma transição democrática após um golpe de 2019 que destituiu o ex-presidente Omar al-Bashir.
Surgiram discussões entre Hemedti e o chefe do exército do Sudão, Abdel Fattah al-Burhan, sobre os planos de fundir as RSF de 100.000 homens com o exército e quem lideraria a nova força combinada.
Suspeitava-se que nenhum dos generais queria abdicar da sua posição de poder e perder potencialmente riqueza e influência.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, os combates já mataram pelo menos 40.000 pessoas e deslocaram 12 milhões. No entanto, grupos de ajuda humanitária afirmam que o verdadeiro número de mortos pode ser muitas vezes superior.
A União Europeia afirmou que o ataque deliberado a civis, os assassinatos por motivos étnicos, a violência sexual e de género sistemática, a fome como arma de guerra e a recusa de acesso à ajuda constituem crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
O grupo paramilitar disse na sexta-feira que se congratula com os esforços internacionais para um cessar-fogo, enquanto afirma que os militares são o "verdadeiro obstáculo para alcançar a paz".
No início deste mês, as RSF tinham concordado com uma trégua humanitária proposta por um grupo de mediadores liderado pelos EUA, mas os militares disseram que só concordariam em parar de lutar quando as RSF se retirassem completamente das áreas civis e se desarmassem.