Numa entrevista alargada à Euronews, o nosso antigo jornalista, autor da saga best-seller "Metro 2033" explica para que é que o presidente russo precisa da guerra.
"A chantagem nuclear é um instrumento muito importante, embora atualmente trivial, da diplomacia e da política externa russas. Sempre que Putin pensa que a sua posição se deteriorou, começa a ameaçar com uma guerra nuclear ou a testar novos mísseis, e foi exatamente isso que fez agora". As palavras são de Dmitry Glukhovsky, um conhecido escritor e dissidente russo, numa entrevista à Euronews, referindo-se ao recente teste do míssil nuclear Burievstnik.
Glukhovsky, que enfrenta uma pena de oito anos de prisão por criticar Putin se regressar à Rússia, foi jornalista da Euronews e é conhecido como autor da série de ficção científica Metro 2033, na qual descreve um mundo pós-guerra nuclear em que os habitantes de Moscovo vivem em túneis de metro abandonados. Na sua opinião, a concretização desta visão não acontecerá na realidade.
"O único cenário em que Vladimir Putin seria realmente forçado a iniciar uma guerra nuclear seria se colunas de tanques americanos se aproximassem de Moscovo. Nesse caso, não teria nada a perder e poderia premir o botão. Nada mais justifica um conflito nuclear", defende Glukhovsky.
Na entrevista, o escritor explicou também porque é que Putin não está disposto a fazer a paz ou, pelo menos, a assinar um cessar-fogo. Apontou várias razões. Em primeiro lugar, o presidente russo pode estar convencido, com base na desinformação que lhe é transmitida pelos serviços secretos, de que está a ganhar a guerra. Em segundo lugar, não pode dar-se ao luxo de terminar a guerra sem obter um objetivo que possa apresentar como uma vitória. Em terceiro e último lugar, está convencido de que é capaz de continuar a lutar durante uma década até à vitória total.
"Entretanto, a liderança ocidental terá mudado na sequência das eleições e a opinião pública ter-se-á cansado de pagar por esta guerra. A situação económica não é tão má e a sociedade pode ser perfeitamente controlada com novos instrumentos de vigilância e medidas repressivas. Atualmente, Vladimir Putin não precisa desta paz", diz Glukhovsky.
Na sua opinião, a guerra na Ucrânia vai continuar enquanto Vladimir Putin estiver no poder. De facto, a existência de um Estado ucraniano independente e democrático que procura a integração na Europa constitui uma ameaça real ao seu poder. A Ucrânia é um projeto civilizacional rival da Rússia de Putin.
"A situação atual resulta do facto de o povo ucraniano ter repetidamente derrubado o domínio dos usurpadores, e o cheiro de rebelião é a única coisa considerada uma ameaça real ao domínio de Putin. Temos de compreender que, para ele, a manutenção do poder é a principal prioridade", sublinha Glukhovsky.