Morte do jornalista que era dissidente do regime saudita foi tema de desconforto na Sala Oval, durante visita do príncipe herdeiro Mohammad bin Salman à Casa Branca.
O presidente dos EUA, Donald Trump, rejeitou na terça-feira as alegações dos serviços secretos norte-americanos de que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman, provavelmente tinha alguma culpa no assassinato do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi, em 2018.
Trump acolheu calorosamente o líder de facto da Arábia Saudita na sua primeira visita à Casa Branca em sete anos, em que a relação entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita esteve tremida.
O líder norte-americano disse que Mohammad bin Salman seria um ator indispensável para a configuração do Médio Oriente nas próximas décadas.
O príncipe herdeiro saudita, por sua vez, negou o envolvimento no assassinato de Khashoggi.
"Quer goste dele ou não, as coisas acontecem. Mas ele não sabia nada sobre isso. E podemos deixar assim. Não é preciso envergonhar o nosso convidado fazendo uma pergunta dessas", disse Trump sobre o incidente internacional quando questionado por um jornalista na Sala Oval com o príncipe Mohammed.
Trump elogiou mesmo o líder saudita pelos avanços feitos pelo regime em matéria de direitos humanos sem especificar. "Estou muito orgulhoso do trabalho que ele fez. O que ele fez é incrível em termos de direitos humanos e tudo mais", afirmou.
O príncipe Mohammad bin Salman, por sua vez, anunciou que a Arábia Saudita está a aumentar os seus investimentos nos EUA. Os sauditas já tinham adiantado que planeavam investir 600 mil milhões de dólares nos Estados Unidos quando Trump visitou o país em maio.
Ecoando a retórica que Trump gosta de usar, o príncipe usou o momento à frente das televisões para lisonjear o líder republicano, apelidando os EUA do "país mais atrativo do planeta" para investir.
Antes da chegada do príncipe Mohammed, Trump anunciou que concordou em vender os caças F-35 aos sauditas, apesar de algumas preocupações dentro da administração de que a venda poderia levar a China a ter acesso à tecnologia dos EUA.
O anúncio de Trump também surpreende porque alguns elementos no governo republicano têm sido cautelosos em perturbar a vantagem militar qualitativa de Israel sobre os seus vizinhos, especialmente num momento em que Trump está dependente do apoio israelita para o sucesso de seu plano de paz para Gaza.
Mas o movimento inesperado surge numa altura em que Trump tenta empurrar os sauditas para normalizar as relações com Israel. No seu primeiro mandato tinha ajudado a forjar laços comerciais e diplomáticos entre Israel e Bahrein, Marrocos e os Emirados Árabes Unidos através dos Acordos de Abraão.
Trump vê a expansão dos acordos como essencial para os esforços mais amplos para construir estabilidade no Médio Oriente após a guerra de dois anos entre Israel e o Hamas em Gaza. E fazer com que a Arábia Saudita - a maior economia árabe - assine o acordo desencadeará um efeito dominó.
No entanto, os sauditas têm mantido que um caminho claro para o Estado Palestiniano deve primeiro ser estabelecido antes de a normalização das relações com Israel poder ser considerada.
Ronaldo deverá juntar-se ao príncipe saudita durante a visita à Casa Branca
Cristiano Ronaldo também estará na Casa Branca na terça-feira. O internacional português tem sido o rosto da liga de futebol saudita desde que se juntou ao Al-Nassr no final de 2022, com um contrato de 200 milhões de dólares por ano.
O astro do futebol, de 40 anos, assinou uma prorrogação de dois anos em junho com Al-Nassr, clube que é maioritariamente detido pelo fundo soberano saudita que o príncipe herdeiro preside.
Esta é também uma rara visita aos EUA para Ronaldo, depois de ter vindo a pública uma acusação de violação de uma mulher num hotel em Las Vegas em 2009. Os advogados de Ronaldo afirmaram que o sexo foi consensual e nunca foram apresentadas acusações criminais, mas em 2017 o Der Spiegel revelou que CR7 tinha pago 375 mil euros à alegada vítima num acordo até hoje secreto.