Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico divulga "Economic Outlook", atualizando previsões de junho e antecipando já 2019, o ano do "brexit."
A economia mundial está a surfar uma onda positiva, mas é preciso mais, avisa a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.
A OCDE mantém a estimativa de crescimento global deste ano nos 3,6 por cento e aumenta a de 2018 para os 3,7 (em junho, ficava-se pelos 3,6).
A economista-chefe da organização, Catherine Mann, no relatório semestral de estimativas da OCDE, reconhece os "sinais positivos", como a recuperação do investimento das empresas, mas diz não serem suficientemente firmes para o efeito positivo se prolongar durante 2019, quando a economia deverá voltar a desacelerar (3,6%).
À euronews, Catherine Mann explicou a sincronia de crescimento, "primeiro, com o ajuste contínuo da política monetária". "Talvez alguns desconheçam a existência de certos estímulos fiscais no sistema e isso é somado ao crescimento. O terceiro elemento é a recuperação do comércio e a respetiva progressão positiva neste momento", acrescenta.
Na zona Euro, a OCDE melhorou em três décimas a estimativa deste ano anunciada em junho, agora nos 2,4 por cento; e em mais duas décimas a do próximo ano, para os 2,1 por cento.
"Não há dúvida de que 2017 está a ser um ano muito melhor para o euro. O que gostávamos é que este bom momento perdurasse por 2018 e 2019", salientou Catherine Mann, referindo-se já ao ano em que a União Europeia se reduz a 27 Estados-membros com o "brexit."
A incerteza do "brexit"
A economia britânica deverá progredir este ano apenas 1,5 por cento e no próximo ano ainda mais lenta: 1,2 por cento.
"Temos a incerteza [do 'brexit'] e os prazos para resolver essa incerteza. O que precisamos é de chegar a uma posição de proximidade económica entre o Reino Unido e a União Europeia, que seja boa ambos", considerou a economista-chefe da OCDE.
No respetivo canto do ringue, numa alegoria ao duelo que está a ser a negociação do "brexit", os bancos britânicos parecem estar preparados para o pior cenário.
Pela primeira vez, desde o início da crise, todos os grandes bancos de crédito do Reino Unido passaram os testes de stresse. O governador do Banco de Inglaterra referiu esta terça-feira que "a Comissão de Política Financeira britânica, informada dos testes do stresse à banca, também considerou que o sistema bancário britânico pode continuar a suportar a economia real mesmo perante um inesperado 'brexit' desgovernado."
Portugal deve evitar política fiscal demasiado expansionista
Quanto a Portugal, a OCDE prevê um crescimento do PIB, este ano, na ordem dos 2,6 por cento e de 2,3 em 2018 e 2019, o que significa crescer acima da média europeia durante três anos e impulsionado pela procura interna e pelas exportações.
O organismo alerta, porém, que uma política fiscal demasiado expansionista ameaçaria a sustentabilidade do Estado. "O crescimento do consumo continuará sólido, suportado pela descida da taxa de desemprego [de 9,1% este ano para 8,2% em 2018 e 7,4% em 2019] e por um mais forte crescimento dos salários", lê-se no relatório, segundo o qual "o investimento será impulsionado pela aceleração do mercado exportador e pelo crescente investimento público".
Prevendo que a política fiscal deverá ser "moderadamente expansionista em 2017 e 2018", a OCDE avisa que "estímulos orçamentais adicionais devem ser evitados dada a necessidade de reduzir a dívida pública", que considera continuar "demasiado alta" e "limitar a capacidade de resposta do Governo na eventualidade de futuros choques externos negativos".
Ainda assim, a organização com sede em Paris diz haver "margem para uma política fiscal mais amiga do crescimento, mediante ajustamentos na composição da despesa e dos impostos".
No que se refere ao défice orçamental português, as estimativas da OCDE apontam para um défice de 1,5% do PIB este ano, de 1% em 2018 e de 0,3% em 2019.
O "Economic Outlook" de outono refere ainda o "elevado nível de endividamento" do setor privado em Portugal, "apesar da desalavancagem feita nos últimos quatro anos", advertindo que esta situação "agrava a vulnerabilidade do sistema bancário", que "continua a apresentar baixos níveis de rentabilidade e um elevado nível de crédito malparado".
A este nível, a OCDE nota que "medidas políticas de apoio ao desenvolvimento do mercado da dívida permitiriam reduzir as vulnerabilidades financeiras, apoiar o crescimento a longo prazo e promover a estabilidade fiscal".