De acordo com um inquérito recente, nove em cada dez pessoas em todo o mundo querem tributar os super-ricos para pagar a resposta climática e serviços públicos. Mas onde é que, na Europa, as pessoas são mais favoráveis à tributação das grandes fortunas?
Com o aumento da desigualdade, a tributação das grandes fortunas está no topo da agenda, com os indivíduos mais ricos a serem frequentemente criticados por contribuírem menos para as finanças públicas do que os contribuintes comuns.
Um estudo recente encomendado pelas ONG Oxfam e Greenpeace revelou que, a nível mundial, os filipinos são os que mais apoiam a tributação dos super-ricos.
O estudo também defende que esta tributação permite aumentar a despesa do governo em serviços públicos e na luta contra as alterações climáticas.
Estas ONG estão a pressionar no sentido de uma maior tributação global dos ricos para apoiar mais de 3,7 mil milhões de pessoas - quase metade da população mundial - que vivem na pobreza. No outro extremo da escala, a Oxfam afirma que os 3.000 multimilionários do mundo ganharam 6,5 biliões de dólares (5,5 biliões de euros) em riqueza nos últimos dez anos.
Este inquérito, que recolheu dados sobre filiações políticas, níveis de rendimento e grupos etários, foi realizado em maio de 2025 em 13 países, incluindo o Reino Unido, Estados Unidos, França, Alemanha, Itália e Espanha.
As perguntas tinham como objetivo descobrir o nível de apoio público à tributação dos super-ricos para permitir o aumento da despesa pública em serviços públicos, como cuidados de saúde, escolas, investimentos renováveis, entre outros.
De entre os países europeus inquiridos, a Itália foi o que revelou maior apoio em todos os serviços. O mais popular, apoiado por 94% da população, foi a tributação dos super-ricos para permitir melhores cuidados de saúde. Esta ideia obteve o apoio de 91% da população em Espanha, 90% em França, 89% no Reino Unido e 85% na Alemanha.
Uma ideia igualmente popular foi a de os governos colmatarem as lacunas para impedir os ricos e as empresas internacionais de utilizarem paraísos fiscais e utilizarem o aumento das receitas fiscais para melhorar os serviços públicos, com 94% das pessoas inquiridas em Itália a apoiar esta ideia, 91% no Reino Unido, 90% em Espanha e em França e 86% na Alemanha.
As razões menos populares para cobrar impostos aos super-ricos incluíam o aumento dos investimentos em energias renováveis e a melhoria do isolamento das casas. Na Alemanha, 18% das pessoas opuseram-se ao aumento dos impostos sobre os super-ricos para permitir o aumento da despesa pública em energias renováveis, sendo que apenas 75% apoiaram a ideia. Em França, 16% opuseram-se e 79% apoiaram e no Reino Unido, 16% opuseram-se e 80% apoiaram. Em Espanha, a relação é de 15% contra 81%, enquanto em Itália é de 10% e 88%.
O apoio à melhoria do isolamento das habitações neste contexto mereceu a desaprovação de 28% dos inquiridos na Alemanha, 22% em Itália e no Reino Unido e 20% em França e Espanha.
Outro estudo revela um apoio igualmente alargado à tributação das pessoas com mais recursos. De acordo com o último inquérito Eurobarómetro sobre fiscalidade, 80% dos cidadãos da União Europeia afirmaram que apoiariam a imposição de um imposto mínimo às grandes empresas multinacionais em todos os países onde operam. Quase dois terços (65%) dos inquiridos apoiariam a introdução de um imposto para os indivíduos mais ricos. O apoio parece ser mais elevado na Hungria (78%), na Bulgária e na Croácia (ambos com 71%).
Onde é que na Europa já se tributam os ricos?
De acordo com os dados do think tank Tax Foundation, com sede em Washington, apenas uma minoria de países europeus aplica impostos sobre os ricos.
Os impostos sobre a riqueza líquida, que incidem sobre toda a riqueza que um indivíduo possui (sem as dívidas), são aplicados na Noruega, Espanha e Suíça, enquanto que os impostos sobre a riqueza em ativos selecionados existem em França, Itália, Bélgica e Países Baixos.
Entretanto, a Oxfam nota que está a crescer o apoio devido a uma proposta do G20 para tributar os ultra-ricos. A proposta obrigaria os indivíduos com mais de mil milhões de dólares (860 milhões de euros) de património a pagar um montante mínimo de imposto anual equivalente a 2% do seu património.
Espanha também mostrou estar empenhada no combate à desigualdade quando, em julho, uniu forças com o Brasil e criou uma nova coligação global para tributar os super-ricos. Os países também apelaram a outros para se juntarem à discussão e criarem um sistema fiscal global progressivo.
"Eles apontam para uma dura realidade: o 1% mais rico da população global possui mais de 95% da humanidade combinada", disse a ONU, elogiando a iniciativa dos países para combaterem esta desigualdade.