A RTP mantém a participação no Festival da Eurovisão da Canção deste ano, tendo votado a favor da continuidade de Israel, mas corre o risco de ficar sem representante. Há artistas portugueses que, caso vençam a competição interna, recusam a ida até Viena.
Ao todo são 17 os artistas e intérpretes que anunciaram a recusa de participar no Festival Eurovisão da Canção em 2026.
Entre eles estão artistas convidados pela própria RTP para participar no Festival da Canção, a competição interna que irá determinar o representante português no concurso.
A posição é clara: caso algum vença o Festival da Canção, não deverá avançar para o evento internacional que decorre no próximo ano, em Viena.
Cristina Branco, uma das artistas convidada pela RTP para o Festival da Canção, partilhou a posição concertada dos artistas nas redes sociais, que lamenta a votação a favor da participação de Israel no certame.
"Apesar da proibição de participação da Rússia na edição de 2022 na Eurovisão, por motivos políticos (a invasão da Ucrânia), foi com espanto que constatámos que não foi dado o mesmo destino a Israel, que está, segundo a ONU, a cometer atos de genocídio contra os palestinianos em Gaza", escreveram os artistas.
Além dela, estão também presentes na lista nomes como Bateu Matou, Rita Dias e Djodje.
Participação portuguesa sob forte contestação
A confirmação da participação portuguesa na Eurovisão deste ano não tem sido consensual nem livre de polémica. Salvador Sobral, o único português a vencer a competição, veio criticar a posição da RTP através de um vídeo nas redes sociais, mostrando indignação depois de ter participado num concerto a favor da Faixa de Gaza, que será transmitido pela emissora portuguesa, que acusou de "cobardia política".
"A RTP, o canal do Estado, decidiu participar na Eurovisão mesmo com a participação de Israel. Aquela expressão dar uma no cravo e outra ferradura nunca teve tanto sentido como ontem à noite. A televisão nacional transmite um concerto por Gaza e ao mesmo tempo tem medo de fazer a coisa certa”, afirmou o músico.
Além de Salvador Sobral, o único vencedor por Portugal e recordista de pontos na competição, a indignação chegou à esfera pública que lançou uma petição pela retirada imediata de Portugal da Eurovisão.
Assinada já por mais de 22 mil pessoas, o texto do documento salienta a votação da RTP a favor da participação de Israel, o que "coloca Portugal do lado errado da história".
"Esta postura é inaceitável perante a contínua catástrofe humanitária e ofensiva militar na Faixa de Gaza, e perante os escândalos de manipulação de voto que mancharam a edição de 2025 em Basileia, comprovando a incapacidade da organização (EBU/UER) em travar a politização do evento", é possível ler.
Nem dentro da própria RTP a posição é consensual, com estruturas representativas de trabalhadores da emissora a constetarem "a decisão da UER [União Europeia de Radiodifusão] de manter Israel no Festival Eurovisão da Canção de 2026, apesar da continuação das ações militares em Gaza e das graves violações de direitos humanos amplamente denunciadas pela comunidade internacional".
A posição foi lida em plenário de trabalhadores da RTP convocado a propósito da greve geral de dia 11, e divulgada pela agência Lusa.
A Islândia foi o mais recente país a anunciar a desistência do concurso internacional, juntando-se assim ao lote, cada vez maior, de países que anunciaram a saída do festival após a aprovação da participação israelita, composto por Espanha, Irlanda, Eslovénia e Países Baixos.