O anúncio da RÚV surge uma semana depois de quatro outros países terem anunciado a sua retirada da Eurovisão do próximo ano, em protesto contra a participação de Israel. Em Portugal, a pressão é cada vez maior para que a RTP se retire do evento.
A Islândia anunciou que não participará no Festival Eurovisão da Canção de 2026, depois de a União Europeia de Radiodifusão (UER) ter dito que Israel poderia participar no evento.
O anúncio foi feito esta quarta-feira pela emissora pública islandesa, RÚV.
"Dado o debate público neste país e as reações à decisão da UER tomada na semana passada, é evidente que nem a alegria nem a paz prevalecerão no que respeita à participação da RÚV na Eurovisão. Por conseguinte, a RÚV decidiu notificar hoje a UER de que não participará no Festival da Eurovisão no próximo ano", declarou o organismo de radiodifusão em comunicado.
O comunicado de imprensa assinado pelo diretor-geral da RÚV, Stefán Eiríksson, refere que a decisão da UER de autorizar a participação do organismo público israelita KAN causou desunião.
A declaração não refere se o programa musical anual Söngvakeppnin, que é utilizado para selecionar a candidatura da Islândia ao Festival Eurovisão da Canção, terá lugar no próximo ano. Este programa, transmitido pela primeira vez em 1981, é cinco anos anterior à participação da Islândia na Eurovisão.
Os meios de comunicação social locais islandeses referem que uma multidão se reuniu em frente à sede da RÚV em Reiquiavique para manifestar o seu apoio à decisão.
Outros países desistem
O anúncio da RÚV surge uma semana depois de quatro outros países terem anunciado a sua retirada da Eurovisão do próximo ano, em protesto contra a participação de Israel.
Espanha, Países Baixos, Eslovénia e Irlanda disseram que não iriam participar depois de a UER, o organismo que junta estações de televisão de toda a Europa e que organiza o festival, se ter reunido para discutir as preocupações relativas à participação de Israel, acusado de crimes de guerra em Gaza e na Cisjordânia, sobretudo tendo em conta a exclusão da Rússia depois da invasão em larga escala da Ucrânia.
A emissora holandesa AVROTROS afirma que a participação de Israel "já não é compatível com a responsabilidade que temos enquanto emissora pública".
"A cultura é algo que liga as pessoas, mas não a qualquer preço. O que aconteceu no ano passado toca nos nossos limites. Valores universais como a humanidade e a liberdade de imprensa foram gravemente violados e não são negociáveis para nós... a independência e a natureza unificadora do Festival Eurovisão da Canção não podem continuar a ser tomadas como garantidas", afirmou o Diretor-Geral da AVROTROS, Taco Zimmerman.
A emissora estatal espanhola RTVE afirmou que o país se retira do concurso depois de a UER ter votado a favor da participação de Israel em 2026. "Gostaríamos de expressar as nossas sérias dúvidas sobre a participação da emissora israelita KAN na Eurovisão de 2026", afirmou o secretário-geral da RTVE, Alfonso Morales, durante a assembleia geral da UER.
As desistências surgiram depois de os membros da UER terem votado a favor da adoção de regras de votação mais rígidas, em resposta às alegações de que Israel teria manipulado a votação a favor do seu concorrente.
Quanto a Portugal, a RTP votou a favor da participação no festival de 2026, mas não sem uma grande contestação: a petição a pedir que o país não participe vai nas 22 mil assinaturas. Um conjunto de 17 músicos, compositores e intérpretes, encabeçado por Cristina Branco, declarou recusar-se a participar no Festival da Eurovisão caso a sua canção saia vencedora no Festival da Canção português que antecede o certame europeu. Salvador Sobral, vencedor da edição de 2017 da Eurovisão, tem sido uma das vozes mais críticas em relação à participação portuguesa. Também os trabalhadores da RTP, através das duas listas concorrentes às eleições para a Comissão de Trabalhadores, se mostraram contra a participação portuguesa.
A gala de música que atrai mais de 100 milhões de telespectadores todos os anos tem sido agitada, pelo menos nos últimos dois anos, pela polémica em redor das ações de Israel nos territórios palestinianos e a participação do país no evento.
A UER, um grupo de organismos públicos de radiodifusão de 56 países, realizou a sua assembleia geral bianual onde alguns países pediram a exclusão de Israel por alegada interferência na votação e pela sua conduta na guerra contra o Hamas em Gaza.
"A Eurovisão está a tornar-se um evento um pouco fraturado", disse Paul Jordan, um perito no concurso conhecido como Dr. Eurovision. "O slogan é 'Unidos pela Música'... infelizmente, está a ser desunido pela política. Tornou-se uma situação bastante confusa e tóxica", afirma.