O descontentamento pode assumir vários nomes e formas: “Indignados”, “Primavera Árabe”, os protestos no Brasil. Todos têm em comum a crescente crise de confiança nos sistemas políticos que não conseguem dar resposta à instabilidade financeira e económica.
Na Europa, os números do desemprego são galopantes, e duplicam quando falamos nos mais jovens. A cerca de um ano das eleições para o Parlamento Europeu, consolida-se a tendência de penalizar os atuais governantes. Ao mesmo tempo, sublinha-se o receio da abstenção. O último escrutínio registou uma afluência de apenas 43%. Se houver ainda uma descida, é o próprio Parlamento Europeu que arrisca a crise existencial.
Neste contexto, como abordar esta angústia generalizada que tem encontrado na internet o veículo para a sua mobilização? As revoltas populares têm abalado pilares de autocracias e democracias.
Aqui ficam algumas das respostas dos três convidados desta edição do The Network:
- Sol Trumbo, coordenador do projeto europeu de governação económica do Instituto Transnacional, que reúne vários académicos ativistas: “Na minha opinião, enfrentamos uma crise sistémica. As estruturas políticas caíram no descrédito porque já não representam as necessidades reais da população. Isso reflete-se na maneira como os partidos políticos, sobretudo na Europa, estão a gerir a crise. Aliás, não a estão a gerir, estão a utilizá-la para implementar a agenda da austeridade.”;
- Robert Manchin, diretor-executivo da Gallup, que apresentou recentemente uma sondagem que indica que 75% dos europeus acredita que não pode encontrar um emprego nesta altura, o que atesta dos níveis de confiança: “Por um lado, queremos criar uma consciência europeia, uma Europa unificada onde as pessoas são representadas e essa representação manifesta-se diretamente no Parlamento Europeu. Ao mesmo tempo, a forma como a União Europeia foi construída estabelece uma confiança repartida entre as instituições europeias e as instituições nacionais. As nacionais fazem tudo o que podem para recolher o máximo de confiança possível. E a Europa fica dividida. Em alguns países, confia-se muito mais nos governos locais e nacionais. Noutros, é nas instituições europeias. Este equilíbrio está a alterar-se.”;
- Pierre Winicki, diretor-geral do Institut Confiances, um grupo de reflexão
que procura formas de restabelecer a confiança entre políticos, media e cidadãos: “A culpa não pertence a ninguém e pertence a todos ao mesmo tempo. Como é que se pode esperar ter um clima de confiança entre os cidadãos europeus, quando dentro das próprias instituições não existe uma cultura de confiança, ou se existe, é muito limitada?”.