Evitar o Brexit implica o início do fim da UE?

Evitar o Brexit implica o início do fim da UE?
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Será que os líderes europeus convencem os britânicos a manterem-se na União Europeia? O acordo que Cameron pretende para evitar o Brexit pode ser o

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Será que os líderes europeus convencem os britânicos a manterem-se na União Europeia? O acordo que Cameron pretende para evitar o Brexit pode ser o início do fim?

Os líderes europeus encaminham-se para uma cimeira dominada pelo futuro do Reino Unido. O primeiro-ministro britânico pretende que a União Europeia avance com reformas para evitar o “Brexit”, nomeadamente o endurecimento das políticas de imigração; o reforço do poder dos governos nacionais; e a redução da burocracia para impulsionar a competitividade.

Há quem considere que a cedência às pretensões pode fragilizar a autoridade de Bruxelas. Mas também há quem realce que uma eventual saída teria um impacto devastador sobre a União Europeia e provocaria um recuo significativo no PIB britânico.

Os nossos convidados no debate no Parlamento Europeu, em Bruxelas, foram: Nina Schick, diretora de Comunicação do grupo de reflexão Open Europe, que defende a necessidade de reformas na União Europeia; Giles Merritt, secretário-geral doutro grupo de reflexão, o Friends of Europe, que advoga o envolvimento dos cidadãos no debate europeu; e Guntram Wolff, diretor do Bruegel, um think tank económico baseado em Bruxelas.

Chris Burns, euronews:

Uma primeira questão: há quem veja o acordo com Cameron como uma cedência para moldar a União Europeia à sua visão. Os líderes europeus devem aceitar esse acordo?

Nina Schick:

Os objetivos de Cameron são muitas vezes considerados como sendo demasiado à medida dos britânicos. Mas ao olhar para as crises que afetam a União Europeia – a crise económica, os migrantes, a falta de competitividade -, há quem prefira dizer que as propostas atingem o cerne dos problemas europeus e questionam o caminho existencial a tomar.

euronews:

É demasiado à medida dos britânicos?

Giles Merritt:

Se for, é apenas um aperitivo. Os britânicos já tiveram um banquete há 20 anos. É uma questão irrelevante.

euronews:

Considera o mesmo?

Guntram Wolff:

Os líderes europeus estão dispostos a dar mais liberdade e soberania aos britânicos, mas não a permitir que as leis europeias deixem de ser aplicadas no Reino Unido.

euronews:

As pretensões britânicas podem vir a comprometer o papel das instituições europeias?

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Giles Merrit:

Creio que não. A União Europeia necessita de reformas em várias vertentes. Isso não é exclusivo das pretensões de Cameron.

euronews:

Um dos aliados mais próximos de Angela Merkel afirmou que a proposta de acordo efetuada por Donald Tusk dá ao Reino Unido uma série de possibilidades de escolha em relação às normas da União Europeia. Trata-se de um acordo aceitável para todos os líderes ou podemos cair num impasse?

Nina Schick:

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Penso que não. Os líderes europeus sabem que Cameron necessita de convencer o público britânico sobre o acordo. Se ele não obtiver algumas das reformas que apresentou, existe a possibilidade real de o Reino Unido sair. Economicamente, seria um desastre para Bruxelas. Simbolicamente, também. Não creio que os líderes europeus queiram enfrentar esse cenário.

euronews:

Mas será que isto não vai abrir uma caixa de Pandora? Os outros Estados-membros também podem pedir exceções. O Reino Unido não é o único a reivindicá-las…

Guntram Wolff:

O Reino Unido é um caso particular em vários aspetos. Os britânicos já dispõem de um leque de mecanismos optativos maior do que os outros países. Os países de leste que ainda não integram a zona euro pretendem continuar na União Europeia, para manterem uma associação sólida que lhes permita defenderem-se. Mesmo a adesão à zona euro continua a ser uma possibilidade, porque é uma proteção contra o medo do poder militar russo.

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euronews:

Uma das mudanças em debate é a limitação dos direitos atribuídos aos trabalhadores migrantes no Reino Unido, sendo que muitos cidadãos britânicos se dizem preocupados com o volume do fluxo migratório rumo ao seu país. Este tipo de soluções contribui para resolver a crise dos migrantes ou vai agravar as coisas?

Nina Schick:

Há aqui duas questões muito diferentes. Uma é a crise dos refugiados. No Reino Unido, esse debate foi agregado à questão da migração dentro da União Europeia. Cameron tem de conseguir mudanças no que toca à liberdade de circulação de trabalhadores, porque essa é a questão que mais preocupa os britânicos. Não tem nada a ver com racismo, tem a ver com o controlo do governo da quantidade de pessoas que entra no país.

euronews:

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Limitar os direitos dos trabalhadores migrantes desemboca no mesmo discurso que está a ser feito em relação aos refugiados também…

Guntram Wolff:

Os números falam por si. Antes de mais, o Reino Unido beneficia com a vinda de migrantes doutros Estados-membros. Em segundo lugar, há muito pouca imigração motivada pelas ajudas sociais. Os indicadores revelam claramente que as pessoas não vão para o Reino Unido por causa dos apoios sociais. Vão por causa das oportunidades de trabalho e para terem uma vida melhor. Sou a favor da atribuição de alguns mecanismos de proteção. Creio que é um debate secundário em relação a toda a problemática.

euronews:

Se as coisas mudarem, os outros países não vão também querer refrear as condições dos migrantes ou refugiados?

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Giles Merrit:

Não. Acho que tem havido um grande exagero. Concordo com a ideia de que o verdadeiro problema está em fazer com que os eleitores britânicos percebam que a crise dos refugiados não tem nada a ver com o direito dos cidadãos europeus a trabalharem noutros Estados-membros, até porque é algo que tem beneficiado enormemente a economia britânica.

euronews:

O jornal Independent listou algumas das vantagens de fazer parte da União Europeia: facilidade de circulação no espaço europeu, as oportunidades de negócio noutros Estados-membros, proteção ambiental e dos consumidores. São razões suficientemente fortes para ficar ou até podem ser motivos para sair?

Nina Schick:

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É o debate que tem assolado os britânicos nos últimos 40 anos. É uma crise existencial. O acordo inicial com a Europa era de natureza comercial. A ideia não era partir para uma união política. Este é o cerne do discurso dos cidadãos britânicos. Será que a União Europeia pode tornar-se flexível ao ponto de aceitar diferentes graus de envolvimento ou vai continuar a ser o mesmo peso e medida para todos? Se for este o caminho, o Reino Unido vai acabar por sair…

euronews:

Se o Reino Unido sair efetivamente, qual será o impacto económico tanto sobre o Reino Unido, como sobre a União Europeia?

Guntram Wolff:

Como sempre, depende de muita coisa. Depende do tipo de acordos estabelecidos posteriormente. Uma coisa é certa: se o “Não” ganhar o referendo, os mercados vão oscilar bastante e vamos assistir a um longo e doloroso processo de renegociação de acesso ao mercado único. O Reino Unido também teria de renegociar os acordos comerciais estabelecidos com o resto do mundo.

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euronews:

Muitos consideram que a saída implicaria uma perda significativa de influência para a União Europeia, que já se encontra fragilizada. Até onde poderiam ir as consequências políticas?

Giles Merrit:

As consequências seriam mostrar ao mundo que a União Europeia deixa de falar a uma só voz. Gostava só de voltar a algo que a Nina disse, sobre o problema existencial britânico. Enquanto britânico, acho que é um problema mais emocional. Os britânicos não se veem como europeus, mas são racionais. Na altura da verdade, no referendo, vão querer ficar.

euronews:

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Até que ponto é que não há aqui um sentimento de revolta… A crise financeira fez com que a classe média britânica se revoltasse e culpasse a União Europeia pelo que aconteceu. Daí a vontade de sair…

Nina Schick:

Não concordo com essa perspetiva. Comparando com outros países europeus, a economia britânica está de boa saúde. Isto não é um protesto, é um debate que fervilha há 40 anos. Chegou o momento de os britânicos saberem se têm condições para continuarem na União Europeia, sendo que a ideia original era o estabelecimento de uma parceria comercial.

euronews:

Há também o aspeto eurocrata da questão. O fenómeno é idêntico em Washington. Muitos europeus estão zangados com os responsáveis de Bruxelas que acusam de tomar decisões sem conhecer a realidade. Até que ponto é que isto é verdade?

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Guntram Wolff:

Isso é parte do problema. Mas a questão fundamental é que os países da zona euro compõem a maioria na União Europeia. Os países que estão do lado de fora pretendem garantias que devem ser fornecidas. Afinal de contas, é a zona euro que detém a maioria nas tomadas de decisão.

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