A avalanche contínua de imagens que os ecrãs despejam desde o início da crise dos refugiados não autoriza mais que a emoção de uns instantes fugazes
A avalanche contínua de imagens que os ecrãs despejam desde o início da crise dos refugiados não autoriza mais que a emoção de uns instantes fugazes. Que vida é a destas pessoas, quando depois de traumas de guerra e muitas vezes de abusos durante a viagem até à Europa, são confrontadas com a falta do país de origem e dos familiares? A integração é um processo difícil, excessivamente exigente para quem carrega uma bagagem de sofrimento, solidão e desespero.
Um dos poucos lugares que disponibilizam na Europa um acompanhamento psicossocial aos refugiados situa-se em Milão, na Itália. A euronews visitou o centro de apoio psicossocial do Hospital de Niguarda – o serviço de etnopsiquiatria desta unidade hospitalar acolhe cerca de 300 refugiados e requisitantes de asilo.
Enterrado vivo
Jawan Kais é de origem curda. Fugiu da Síria por razões políticas há quinze anos. Longe da família, vive num centro de acolhimento. Procura desesperadamente trabalho.
Diz que se sente “enterrado vivo”. Sofre com a falta do seu país e com a ausência da mãe. Confessa-se dececionado com a Europa e diz que só não se afundou numa depressão graças ao apoio que recebeu aqui.
Pontes
No centro de apoio psicossocial do Hospital de Niguarda o apoio aos pacientes estrangeiros faz-se adaptando os métodos a cada caso.
Os psiquiatras e psicólogos são auxiliados por mediadores culturais, como Istarlin, que hoje veio acompanhar uma jovem somaliana vítima de abusos e de torturas nas prisões líbias, depois de ter fugido do seu país.
Os mediadores não são apenas tradutores, ajudam principalmente os pacientes a ganhar confiança, explica Istarlin Abdulle Yusuf:
“O acompanhamento dos mediadores – uma equipa de homens e mulheres – ajuda os pacientes a falar dos seus problemas.”
É a partir desta estruturação da confiança que se torna possível estabelecer um diagnóstico e tratamentos.
Psiquiatras, psicólogos, médicos e assistentes sociais, trabalham em conjunto para dar uma resposta adaptada à situação e realidade cultural de cada paciente.
Em colaboração com os serviços sociais da cidade, os centros de acolhimento e as organizações humanitárias, acompanham um percurso de integração que é difícil, explica o responsável pelo centro, Carlo Pagani:
“Há uma abordagem completa de vários aspectos em cada caso. Ocupamo-nos de desordens psíquicas e de doenças físicas, mas também há um apoio social, porque estas pessoas estão, em muitos casos, privadas de qualquer apoio social.”
Terapia pela arte
Ateliers de pintura e desenho ajudam a reforçar o trabalho terapêutico de uma equipa pluridisciplinar. O objetivo é criar as condições para que estas pessoas consigam libertar as emoções difíceis de exprimir por palavras, diz a terapeuta Eleonora Bolla:
“Quando chegam, as emoções que carregam são claramente depressivas. No início usam muito o preto e o branco, só mais tarde começam a usar cores.”
Guerra, tortura, miséria. Os traumas são múltiplos, relacionados com os sofrimentos que viveram nos países de origem, durante a viagem até à Europa, ou ligados a condições de vida difícil que encontram à chegada.
A reconstrução depois do que sofreram é difícil, mas não é impossível.
“Em geral, a capacidade de resiliência, a capacidade de ultrapassar o trauma é muito forte nas pessoas que atravessaram muitas dificuldades e que vão provavelmente ser confrontadas com outras dificuldades. É difícil dizer onde acaba a viagem, para eles. Para alguns deles dura para sempre”, remata Carlo Pagani.