Venezuela sobrevive como uma "narcotirania", diz Antonio Ledezma

Venezuela sobrevive como uma "narcotirania", diz Antonio Ledezma
De  Isabel Silva
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A Venezuela realizou três eleições em apenas cinco meses: locais, regionais e para a Assembleia Constituinte, que deram quase poder absoluto ao regime comunista bolivariano de Nicolás Maduro.

A oposição boicotou as urnas, alegando irregularidades e falta de confiança no Conselho Eleitoral Nacional. Há mais de 300 presos políticos no país, mergulhado numa crise económica profunda.

Um dos opositores mais notáveis é Antonio Ledezma, ex-presidente da câmara de Caracas, a capital venezuelana, que esteve preso três anos, mas que conseguiu fugir para o exílio no passado 18 de novembro.

A jornalista da euronews, Ana Lazaro, entrevistou-o no Parlamento Europeu, onde foi um dos laureados com o Prémio Sakharov de Liberdade de Pensamento, atribuído à Oposição Democrática da Venezuela.

euronews: O senhor chegou a Estrasburgo depois de ter protagonizado uma fuga que qualificou de cinematográfica. Suponho que não tenha sido fácil para si abandonar a Venezuela. Gostaria que me dissesse qual foi o momento mais difícil nessa decisão de deixar o seu país.

Antonio Ledezma: Quando fechei a porta do meu apartamento, senti que estava a fechar a porta da fronteira do meu país. Quando me despedi da minha casa, do meu quarto, das fotografias da minha família, da minha esposa, dos meus filhos, quando acariciei os meus livros… Com essa despedida, estava a dizer adeus à Venezuela, à terra que deixei mas que trago no meu coração. Foi o mais difícil.

euronews: No início do ano vimos manifestações muito espetaculares, muito dramáticas, com pessoas mortas na rua. Como está a Venezuela que deixou?

Antonio Ledezma: É uma Venezuela que sobrevive a uma narcotirania. Tem um povo que não quer desistir, que recusa resignar-se e viver sem poder usufruir do direito de se expressar, de pensar livremente, de usufruir dos direitos humanos dos quais Sakharov falou e que são inalienáveis.

euronews: Não foi favorável à participação no diálogo proposto pelo governo do Presidente Maduro, nem quis participar nas eleições autárquicas. Que caminhos há para sair desta crise se não se pode votar, se não se pode debater?

Antonio Ledezma: Resistir e lutar, porque nem o povo da Venezuela nem nós próprios estamos contra o diálogo, mas pomos em causa um diálogo falso. Um diálogo que começou no ano passado, mas agora pode ver que ainda há mais presos políticos, maior perseguição política e maior obstrução às vias eleitorais. Propusemos um referendo de revogação, mas esse direito à consulta popular foi-nos roubado.

euronews: O que pensa sobre o anúncio do presidente Maduro de que aqueles que não participaram nas eleições autárquicas não poderão participar nas presidenciais de 2018?

Antonio Ledezma: Bem, isso é uma brutalidade que só pode vir de alguém que não tem espírito democrático, que não respeita as leis, que não respeita a dissidência. Esse tipo de ameaças é típico dos ditadores.

euronews: Gostaria que falássemos da população da Venezuela porque nos parece, aqui na Europa, que há uma situação muito fragmentada. Houve eleições e Maduro alcançou bons resultados. É verdade que era algo previsível porque a oposição não participou. Mas ainda assim, existe uma massa significativa de eleitores que o apoiam, nomeadamente entre as camadas mais humildes da população. Acredita que as políticas neoliberais da década de oitenta têm uma responsabilidade no que está a acontecer agora?

Antonio Ledezma: Não me recuso a analisar o que aconteceu na Venezuela nos últimos cinquenta anos. O que quero realçar é que Chávez e Maduro lideraram o país nos últimos 20 anos, receberam a oportunidade de administrar um orçamento colossal alimentado por petrodólares e hoje o que temos é um país endividado, um país que não soube usar os recursos do petróleo para transformar a educação, a saúde, para dar melhores oportunidades aos venezuelanos. O que eles fizeram foi endividar a Venezuela e mergulhar a maioria dos venezuelanos na pobreza.

euronews: O que propõe, então, para reconciliar a população venezuelana?

Antonio Ledezma: Primeiro, livrarmo-nos desta narcotirania, porque na Venezuela sofremos a dureza de uma narcotirania. Em seguida, iniciar um processo verdadeiramente transparente para as eleições, que permita que as pessoas escolham um governo legítimo. E com esse governo legitimo iniciar um processo de reconciliação da sociedade venezuelana e um relançamento económico e social do país. A Venezuela tem um potencial extraordinário que me faz ver o futuro com grande otimismo.

euronews: Gostaria de mudar de assunto para lhe perguntar sobre Espanha e a crise catalã. O Presidente Maduro disse que há presos políticos em Espanha e que o governo espanhol deveria iniciar um diálogo político. Gostaria de saber o que pensa sobre essas declarações e se considera que existem em Espanha presos políticos.

Antonio Ledezma: Qualquer pessoa que seja julgada pelas suas ideias pode ser considerada um preso político, mas neste caso não estamos a falar de alguém que defende as suas ideias, estamos a falar de alguém que propõe – nada mais, nada menos – do que violar a unidade territorial de Espanha.

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