Recordar a purga de Erdogan, nas palavras de ex-oficial turco na NATO

Recordar a purga de Erdogan, nas palavras de ex-oficial turco na NATO
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De  Gülsüm AlanIsabel Marques da Silva
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Alertar o mundo para os horrores da purga que se seguiu ao golpe de Estado falhado na Turquia, em 2016, e que se mantêm até hoje. Este é o objetivo de Cafer Topkaya, ex-oficial militar turco ao serviço da NATO, em Bruxelas, detido por traição, mas que conseguiu escapar ao julgamento.

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Alertar o mundo para os horrores da purga que se seguiu ao golpe de Estado falhado na Turquia, em 2016, e que se mantêm até hoje.

Este é o objetivo de Cafer Topkaya, um ex-oficial militar turco ao serviço da NATO, em Bruxelas, detido por traição, mas que conseguiu escapar ao julgamento.

Cafer Topkaya disse à jornalista da euronews, Gulsum Alan, que tudo começou com a convocatória para uma reunião urgente na Turquia.

"Os meus colegas avisaram-me de que que era uma conspiração, que me estavam a preparar uma armadilha. Mas eu respondi que era inocente, que não tinha nada a temer e que, além disso, sou um oficial e tenho de obedecer às ordens".

O ex-capitão-tenente da Marinha turca deslocou-se a Ancara (capital) e, depois de uma reunião no Ministério da Defesa, foi detido por, alegadamente, ser partidário dos golpistas.

"Fui levado para um ginásio que foi transformado em centro de detenção após a tentativa de golpe. Talvez tenha visto fotografias de quando havia centenas de oficiais nus deitados no chão do ginásio. Fui levado para lá, havia mais mais de cem pessoas. Isso aconteceu a 13 de outubro. Estavam lá altos funcionários do governo, jornalistas, políticos, burocratas e alguns adidos militares a quem, tal como eu, havia sido ordenado que regressassem a Ancara e que foram ali detidos".

"A polícia era muito violenta, estavam sempre com ameaças, gritavam, praguejavam e faziam todo o tipo de maus-tratos. Várias pessoas foram torturadas naquele local. Vi algumas compressas ensaguentadas pelos cantos, por baixo de cadeiras do ginásio, estavam por todo o lado. Havia colchões para dormir durante a noite no chão, todos estavam cobertos de sangue ".

Doze dias depois de ter entrado no ginásio, Cafer Topkaya deu entrada na prisão de Sincan, para onde o governo do presidente Recep Tayyip Erdoğan enviou dezenas de milhares de pessoas com o mesmo tipo de acusações.

"Havia três membros do grupo terrorista Daesh na cela ao lado. Era possível falar com eles através da parede. Um disse-me que foi autorizado a telefonar para a família na Alemanha, mas eu não podia telefonar à minha família em Bruxelas. Só pude enviar uma carta à minha esposa ao fim de dois meses".

Passariam 16 meses até que o ex-oficial visse a família. Libertado condicionalmente, antes do julgamento, Cafer Topkaya usou um passaporte civil e alguma ajuda para fugir da Turquia e regressar à Bélgica, onde lhe foi concedido asilo político.

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