A economia do país é muito dependente do mercado comunitário, mas o descontentamento vem crescendo, face a divergências ligadas à utilização dos fundos europeus, às regras de disciplina orçamental e sobre como impor o respeito pelo Estado de direito no bloco.
Qual deve ser o posicionamento dos Países Baixos na União Europeia, sobretudo desde o rude golpe da saída do Reino Unido, um importante aliado na política comunitária?
Os neerlandeses escolhem, esta semana, o seu novo governo e este tema tem sido bastante debatido porque havia, habitualmente, uma sintonia com o governo britânico em temas como economia, comércio e política externa.
"A saída do Reino Unido significou, efetivamente, que os neerlandeses perderam um aliado na maneira como pensam e operam politicamente. Os neerlandeses sempre olharam para o Ocidente na forma de conduzir a sua ação política", disse Maria Demertzis, analista política no Instituto Bruegel, em entrevista à euronews.
"Por outro lado, sem o Reino Unido passou a haver menos um governo com voz de grande peso nos assuntos europeus. Agora só há o eixo franco-alemão com peso para fazer avançar as coisas na União Europeia. Os neerlandeses estão preocupados que outros governos possam ser postos de lado, querem assegurar-se de que outros países também serão ouvidos", acrescentou a vice-diretora do Instituto Bruegel.
Próximo país a fazer exit?
Sendo um Estado-membro fundador da União Europeia, a população dos Países Baixos é, tradicionalmente, bastante pró-europeia.
A economia do país é muito dependente do mercado comunitário, mas o descontentamento vem crescendo, face a divergências ligadas à utilização dos fundos europeus, às regras de disciplina orçamental e sobre como impor o respeito pelo Estado de direito no bloco.
Durante o debate sobre o fundo de recuperação económica para fazer face ao impacto da pandemia da Covid-19, chegou mesmo a falar-se do risco de um segundo Brexit, mas os analistas dizem que é um rumor pouco consistente e sem impacto no resto da União Europeia.
"Penso que se trata apenas de polémica na bolha política sobre algo que não existe . Não penso que haja uma preocupação real na população do resto da União Europeia sobre isso", afirmou Dharmendra Kanani, analista político no centro de estudos Friends of Europe, em entrevista à euronews.
"Considero que a questão realmente importante é ver como é que políticos populistas e nacionalistas poderão, potencialmente, reivindicar mais espaço na política interna de cada país, caso os governos não atuem bem na gestão dos orçamentos e da dívidas públicas que são historicamente elevados”, acrescentou o diretor do Friends of Europe.
O aumento do nacionalismo é, de facto, bastante visível nos Países Baixos, com os políticos dessa área a alegarem que as instituições da União Europeia, e mesmo a alguns Estados-membros, são prejudiciais aos interesses e progresso do país.