Europa continua dividida sobre mecanismo de rotulagem
O projeto de rotulagem "verde" da energia nuclear e do gás, apresentado pela Comissão Europeia, foi alvo de acusações de "greenwashing" (propaganda enganosa em matérias ambientais), de ameaças de ações legais por parte de alguns países europeus e de críticas à chamada "taxonomia verde" da União Europeia(UE), que estabelece os critérios para considerar atividades económicas sustentáveis no quadro das alterações climáticas.
A que se deve a polémica?
Na quarta-feira, a Comissão Europeia deve aprovar os planos mais recentes para a taxonomia da UE, um sistema de rotulagem que ajuda os investidores privados a identificar que investimentos em energia são sustentáveis.
O objetivo é canalizar fundos para fontes de energia sustentáveis e ajudar o bloco europeu a alcançar o ambicioso plano de ser neutro em carbono até 2050.
A proposta atual causou algum alvoroço ao rotular a energia nuclear e o gás como fontes sustentáveis de energia, provocando a indignação de ativistas e organizações verdes.
Quando a Comissão Europeia adotar o Ato Delegado, o Parlamento e o Conselho Europeu terão dois meses para levantar quaisquer objeções. Caso contrário, entrará em vigor.
A maioria dos eurodeputados ou 20 dos 27 Estados-membros podem bloquear os planos, mas antes de isso acontecer, os argumentos a favor e contra a rotulagem das duas fontes de energia como sustentáveis terão de ser apresentados.
Quais são as fontes?
Energia nuclear
Para muitos, a energia nuclear representa a oportunidade perfeita para maximizar a produção de energia, minimizando as emissões de carbono. Para outros, simboliza apenas mais um problema ambiental, com uma solução para a gestão de resíduos radioativos ainda por ser encontrada.
Para o eurodeputado francês Christophe Grudler, não há outra alternativa senão incluir a energia nuclear como fonte sustentável.
“Se queremos cumprir as metas do Pacto Ecológico Europeu (Green Deal), não temos escolha. Temos que incluir a energia nuclear na taxonomia”, disse Grudler à Euronews.
“A questão é: queremos cumprir as metas do Green Deal? Se quisermos fazer isso, precisamos de energia descarbonizada, como a nuclear. A Comissão Europeia disse que precisamos de cerca de 15% de energia nuclear no mix de energia em 2050 para atingir a meta.”
Sobre o lixo nuclear, o eurodeputado – que é membro do partido “República em Marcha” do presidente francês Emmanuel Macron – diz que se está a trabalhar para encontrar uma resposta para o problema.
“Claro que vamos olhar para a frente para não ter mais desperdício. Então, é um tema muito importante também. Mas, passo a passo, muitos investigadores estão à procura de encontrar soluções para os resíduos provenientes da energia nuclear. Mas, neste momento, precisamos de tecnologia nuclear”, sublinhou Grudler.
Já o eurodeputado alemão Michael Bloss, do Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, diz que simplesmente não é correto rotular a energia nuclear como sustentável.
“Queremos ter a taxonomia para aquilo a que se destina, que é canalizar dinheiro para soluções sustentáveis como energias renováveis, mas chamar a energia nuclear e o gás de sustentável não é correto. Tem de se chamar as coisas que são sustentáveis de sustentáveis e não todas as coisas."
Bloss acrescentou que acredita que é França, que tem uma grande indústria nuclear, que está a pedir à Comissão Europeia a inclusão da mesma no portefólio de taxonomia da UE.
“Penso que a Comissão Europeia é muito pressionada por França. São os franceses que estão a tentar colocar o próprio parque de centrais nucleares no rótulo de sustentabilidade”, referiu o eurodeputado à Euronews. “Na verdade, está-se apenas a favorecer os franceses e Emmanuel Macron”, rematou Bloss.
Energia a gás
Embora as emissões de carbono da energia nuclear continuem muito baixas, quando o assunto é o gás a história é outra.
A Comissão Europeia reconhece que o gás é um combustível fóssil, mas afirma que é necessário como energia de transição para cumprir os objetivos do Pacto Ecológico Europeu.
O eurodeputado alemão Michael Bloss reconhece que em alguns casos o gás pode ser necessário, mas, no entanto, ainda não é sustentável.
“Se observarmos as condições [na taxonomia] para o gás, elas são feitas para centrais de energia a gás que são um back-up para o sistema de energia, e isso não tem problema. Num mundo renovável, pode haver momentos em que o sol não está a brilhar ou o vento não está a soprar. Então é preciso ter alguma capacidade de backup. E isso é bom”, disse o eurodeputado verde.
“Mas o que precisamos discutir agora é como é que será essa nova realidade neutra em relação ao clima? E na realidade neutra em relação ao clima, não há gás fóssil, então rotular o gás fóssil como sustentável simplesmente não faz sentido.”
Já o eurodeputado francês Christophe Grudler diz que, embora o gás não seja a sua fonte de energia de eleição, aceita que, como combustível de transição, é a maneira mais rápida de reduzir as emissões de carbono do carvão.
“O mais importante é parar o carvão porque é o pior - traz muita emissão de CO2. E com o gás, claro, teremos metade das emissões em relação ao carvão e podemos fazer isso muito rapidamente. Temos uma meta de 2030. Se usarmos gás, podemos parar muito rapidamente com as emissões de carvão”, disse Grudler.