Comissão de Von der Leyen não está a conquistar a maioria dos europeus, segundo as sondagens

Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen
Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen Direitos de autor Geert Vanden Wijngaert/Copyright 2024 The AP. All rights reserved
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De  Mared Gwyn Jones
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Artigo publicado originalmente em inglês

Segundo novas sondagens, a taxa de aprovação da Comissão Europeia está profundamente dividida na UE e é alarmantemente baixa num punhado de Estados-Membros, o que levanta questões sobre a candidatura de Ursula von der Leyen a um segundo mandato à frente do executivo comunitário.

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A sondagem exclusiva realizada pela Ipsos para a Euronews revela que a maioria dos eleitores (63%) considera o trabalho da Comissão Europeia negativo ou não tem opinião formada, o que sugere que o executivo da UE não está a chegar à maioria dos europeus.

Numa amostra de 26 000 cidadãos da UE em 18 Estados-Membros, 37% dos inquiridos afirmaram ter uma opinião positiva sobre o trabalho da Comissão de Von der Leyen, enquanto 31% afirmaram ter uma opinião negativa e 32% não sabiam.

O estudo surge dois meses antes de cerca de 370 milhões de eleitores elegerem novos membros para o Parlamento Europeu, dando início a uma corrida à liderança da Comissão, o poderoso ramo executivo da UE que detém amplos poderes para legislar sobre uma série de questões, incluindo tecnologia, cuidados de saúde e direitos sociais.

Von der Leyen, que foi nomeada para o cargo de Presidente da Comissão em 2019, apesar de não se ter candidatado oficialmente ao cargo, está atualmente cotada para garantir um segundo mandato de cinco anos depois de o Partido Popular Europeu (PPE) a ter nomeado como sua principal candidata.

Para garantir esse segundo mandato, terá de ser nomeada pelos líderes da UE e garantir o apoio da maioria no Parlamento Europeu recém-eleito, um teste pelo qual passou por uma pequena margem de apenas nove votos em 2019.

Mas embora tenha construído uma reputação sólida nos círculos políticos, von der Leyen tem sido criticada pelas suas escassas aparições públicas e pela sua relutância em sair à rua para se encontrar com os eleitores, mesmo durante a campanha eleitoral.

O resultado é uma fraca perceção do seu executivo na grande maioria dos Estados-Membros. A maioria dos inquiridos tinha uma opinião positiva sobre a sua Comissão em apenas três dos Estados-Membros inquiridos: Portugal (61%), Dinamarca (54%) e Espanha (54%).

A taxa de aprovação desce para apenas 18% em França, um dos membros fundadores da UE, onde 36% têm uma opinião negativa sobre o trabalho da Comissão e 46% não sabem.

A perceção é também alarmantemente baixa em Estados do centro e do leste da Europa, como a Áustria, onde 41% vêem a Comissão de forma negativa, e a Hungria e a República Checa, onde 38% têm uma opinião negativa.

Os resultados sugerem ainda que cerca de um terço dos europeus não sabe o suficiente sobre a Comissão para poder formar uma opinião sobre o seu trabalho.

A Comissão é impopular entre as franjas políticas

O aumento do apoio a partidos marginais, nomeadamente de extrema-direita, representa também uma espécie de crise de reputação para a Comissão. Estes partidos populistas culpam frequentemente Bruxelas pela recessão económica e pelas dificuldades sociais da Europa, o que alimenta um ceticismo crescente em relação à instituição.

A sondagem mostra que os eleitores dos partidos pertencentes ao grupo de extrema-direita Identidade e Democracia (ID) - como o Rassemblement National de França, a Liga Norte de Itália ou a Alternativa para a Alemanha (AfD) - são os mais críticos em relação ao trabalho da Comissão, com uns impressionantes 61% a considerá-lo negativo e apenas 12% positivo.

A Comissão é também vista de forma negativa pela maioria dos eleitores conservadores e eurocéticos (52%) e por uma percentagem substancial dos eleitores de extrema-esquerda (39%). A sua aprovação é mais elevada entre os socialistas de centro-esquerda e o Partido Popular Europeu (PPE) de Von der Leyen, de centro-direita.

Para muitos partidos de extrema-direita e populistas, a Comissão - encabeçada por Von der Leyen - tornou-se um totem útil da tecnocracia que podem atacar para semear o sentimento anti-Bruxelas.

Um caso representativo é o facto de o partido francês Rassemblement National ter visado Von der Leyen como aliada de Macron, a quem acusam de "vender" a indústria europeia a potências estrangeiras, e até de prejudicar a utilização do francês como língua franca nas instituições europeias.

O partido Fidesz, do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, está a seguir tácticas semelhantes, com o governo de Budapeste a usar dinheiro público para difamar Von der Leyen em campanhas públicas de cartazes.

O apoio à adesão à UE continua a ser elevado

Apesar de a Comissão se debater com a sua reputação em muitos Estados-Membros, a adesão à UE continua a gozar de um amplo apoio em todos os Estados-Membros, segundo as sondagens.

Quando questionados sobre se a adesão à UE é boa ou má para o seu país, uma média de 62% dos inquiridos respondeu "boa", sendo o apoio mais elevado em Portugal, Espanha e Dinamarca e mais baixo na República Checa, França e Itália.

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Não é de surpreender que o ceticismo em relação aos benefícios da adesão à UE seja mais forte entre os eleitores dos populistas de extrema-direita pertencentes ao partido ID, 37% dos quais pensam que é uma coisa má para o seu país.

Este número desce para apenas 3% entre os eleitores dos Verdes, 81% dos quais vêem a adesão à UE como uma coisa boa.

Mesmo entre aqueles que votam em partidos pertencentes ao grupo ECR - como o Vox de Espanha, o Fratelli d'Italia de Itália ou o Lei e Justiça da Polónia - e que são geralmente considerados eurocéticos, 48% vêem a adesão à UE como uma coisa boa.

Mas em todos os grupos de eleitores, a adesão à UE é vista como consideravelmente mais positiva do que o trabalho da própria Comissão. Os eleitores dos partidos pertencentes à esquerda, à ECR ou à ID têm cerca de duas vezes mais probabilidades de considerar a adesão à UE um aspeto positivo do que o trabalho da Comissão.

Os dados confirmam o que se está a tornar evidente nas campanhas eleitorais em muitos países da UE: a Comissão é a instituição mais suscetível de despertar sentimentos de euroceticismo entre os eleitores, e os partidos situados nas extremidades do espetro político estão prontos a tirar partido disso.

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