É a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que um partido de extrema-direita parece estar a caminho de entrar num parlamento estadual, com o AfD a obter mais de 32% de acordo com as sondagens à boca das urnas publicadas no domingo.
O líder do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) na Turíngia, Björn Höcke, considerou o sucesso do seu partido nas eleições estatais de domingo uma “vitória histórica”.
O AfD a obteve mais de 32% dos votos, de acordo com as sondagens de domingo, e assim é a primeira vez, desde a Segunda Guerra Mundial, que um partido de extrema-direita consegue entrar num parlamento estadual.
“Estou muito contente. Estou orgulhoso da minha associação estatal. Estou orgulhoso dos muitos, muitos voluntários que vieram até nós, especialmente das associações do oeste do país, e fizeram campanha aqui. Alcançámos um resultado histórico”, afirmou Höcke.
Höcke regozijou-se também da força que o partido ganhou. “Pela primeira vez na sua ainda jovem história partidária, o AfD tornou-se a força parlamentar mais forte ao fim de 11 anos. E isso enche-me de grande, grande, grande orgulho e satisfação”.
A conservadora União Democrata-Cristã (CDU) caiu para o segundo lugar em termos de popularidade no estado, com mais de 23% das sondagens.
Em declarações à estação pública alemã ARD, Höcke avisou que a criação de uma coligação governamental sem o seu partido “não seria boa para o Estado”, acrescetando que “quem quiser estabilidade na Turíngia tem de integrar o AfD.”
Sem o apoio de outros partidos, o AfD não pode governar na Turíngia, mas encontrar parceiros de coligação dispostos a trabalhar com ele deverá ser um desafio.
O sucesso do partido nas urnas também foi elogiado pelo líder do AfD no parlamento alemão, o Bundestag. Tino Chrupalla disse ser claro que “os eleitores querem uma mudança de política”.
“Na Turíngia estamos claramente à frente por mais de dez por cento, o que é um mandato governamental claro, o que é efetivamente democracia, algo de que os outros partidos falam sempre", lembrou Chrupalla.
No estado vizinho da Saxónia, onde também se realizou a votação estadual, a CDU tem uma vantagem muito estreita, 31,9% contra 30,6% da AfD.
"Na Saxónia, estamos lado a lado com a CDU, talvez até consigamos tornar-nos o partido mais forte também aqui”, afirmou.
A um ano das eleições federais, o AfD está em segundo lugar nas sondagens nacionais e, de acordo com a co-líder do partido, Alice Weidel, é a prova de que os eleitores de ambos os estados querem o partido no governo. “Sem nós, um governo estável já não é possível”, afirmou.
Em Dresden, o ministro presidente da CDU na Saxónia, Michael Kretschmer, disse que o seu partido estava pronto para governar.
“Fomos a pedra no sapato, mantivemos esta coligação unida, mantivemos este governo unido, trouxemos estabilidade a este Estado e estamos prontos, com este resultado, para assumir novamente a responsabilidade”, afirmou.
Porém reconheceu as dificuldades. “Não vai ser fácil, não precisamos de discutir isto esta noite, mas uma coisa é certa: com muita conversa e vontade de fazer algo por este Estado, podemos dar à Saxónia um governo estável que sirva o Estado e que caminhe com humildade, e é por isto, senhoras e senhores, que todos temos lutado”, disse n seu discurso.
O partido de esquerda liderado por Sahra Wagenknecht (BSW), com apenas um mês de existência, ficou em terceiro lugar em ambos os estados, 15,8 na Turíngia e 11,8 na Saxónia.
Os Verdes (Grüne), um dos três partidos que compõem a coligação governamental alemã, tiveram um desempenho fraco em ambos os estados, obtendo 3,2% dos votos na Turíngia e 5,2% na Saxónia.
O líder do partido dos Verdes no Bundestag, Omid Nouripour, disse que estava mais desiludido com a forte presença do AfD do que com as fracas sondagens do seu próprio partido.
“A minha dor esta noite é marginal quando comparada com o facto de estarmos perante um ponto de viragem profundo e de um partido de extrema-direita se ter tornado, pela primeira vez desde 1949, a força mais forte num parlamento estadual. E isso preocupa e assusta muita gente”, afirmou.
O presidente da Câmara de Berlim, Kai Wegner, do partido de centro-direita CDU, fez eco destes comentários e classificou os resultados nos dois estados como um “alerta”.
Segundo ele, os resultados “mostram, de uma forma chocante, que muitas pessoas no nosso país já não se sentem representadas pelos partidos democráticos centristas”.
Muitos consideraram os resultados destas eleições como um barómetro do sentimento público em relação ao atual governo, tendo em vista as próximas eleições nacionais na Alemanha, previstas para o próximo ano.
Mas os resultados inconclusivos em ambas as regiões federais significam que a formação de um governo será muito difícil.
O que pode esperar o AfD agora?
É extremamente improvável que qualquer outro partido concorde em colocar o AfD no poder, juntando-se a ele numa coligação, com o secretário-geral nacional da CDU, Carsten Linnemann, a dizer que o seu partido vai manter a sua recusa de longa data em trabalhar com o grupo de extrema-direita.
“Como a força mais forte estamos naturalmente incumbidos, de acordo com o costume parlamentar, de fazer as ofertas adequadas. Resta saber se os políticos estabelecidos e as outras forças vão continuar com os seus conceitos falhados ou se estão dispostos a discutir connosco”, disse o porta-voz do AfD na Turíngia, Stefan Möller, à Euronews.
“No mínimo, estamos prontos para falar com toda a gente e explorar como, juntos, podemos criar melhores políticas para a Turíngia do que as que temos visto nos últimos dez anos”, afirmou.
René Aust, eurodeputado do AfD, afirmou que o seu partido tem sido uma “força construtiva” no Estado.
“Aceitamos humildemente este resultado, conscientes da grande confiança que o povo da Turíngia depositou em nós. É por isso que vamos realizar uma reunião da direção estadual na próxima semana e depois convidar outras pessoas para conversações exploratórias”, disse em entrevista à Euronews.