Daniel Cohn-Bendit: "A Europa precisa da Turquia"

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Cohn-Bendit: Ainda acredita que a Turquia vai entrar para a União Europeia? Tenho a impressão que já não acredita…

Recep Tayyip Erdogan: Se nos levarem, então nós aceitamos…

Cohn-Bendit: Sim, mas, sabe, para entrar é um trabalho comum. Eu concordaria que uma parte da Europa não gosta disto…

Se o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, se mostra parco em palavras quanto à candidatura do país à entrada na União Europeia, Daniel Cohn-Bendit pode ser um dos maiores defensores. De passagem por Istambul, no início de Novembro, o líder da bancada dos Verdes no Parlamento Europeu tentou reanimar um processo de adesão, que perdeu o fôlego nos últimos tempos.

Euronews: Daniel Cohn-Bendit, estamos aqui, junto ao rio Bósforo. A partir daqui, que imagem se tem da Europa?

Cohn-Bendit: Digamos que a Europa não é totalmente compreendida, vista daqui. Havia muita esperança na Turquia, numa parte da Turquia, nesse processo de adesão e que, agora, há a impressão que a Europa bloqueia a Turquia. E, por conseguinte, em reacção, a Turquia não se sente tão atraída pela Europa. O que não é bom.

E: Sabemos que é favorável à adesão da Turquia. Considera-se como uma espécie em vias de extinção?

CB: Digamos que por agora, aqueles que defendem a perspectiva da adesão estão em minoria. Não se trata de uma espécie em vias de extinção, mas uma espécie que quando muito é ameaçada. Mas creio que se tivermos em conta a importância da Turquia hoje, a importância diplomática, política, económica, a Europa deve interrogar-se bastante, porque as relações entre a Europa e a Turquia estão cada vez mais interligadas. E não se pode sair deste processo, dizendo simplesmente um “não”. Portanto, creio que o futuro vai mostrar que a Europa precisa da Turquia e que a Turquia precisa da Europa.

E: Mas, politicamente, aumenta o fosso entre as opiniões públicas e também entre as classes políticas…

DCB: Eu creio que sim, neste momento. Mas creio que quando vemos as tarefas que temos diante de nós, ou seja, o problema do Médio Oriente, o problema das negociações com o Irão, a Turquia necessita, realmente, de um apoio na Europa e nos Estados Unidos para continuar a desempenhar o seu papel. Esse papel é reconhecido, porque há um processo de negociação com a Europa. Se esse processo também fosse interrompido, a Turquia não poderia também desempenhar esse papel. Portanto, creio que vamos ter de regressar, nos próximos meses, a um clima muito mais pacífico, que ainda não existe hoje.

E: O facto é que as negociações de adesão não avançam…

DCB: As negociações não avançam… Bem, agora há eleições em Junho na Turquia. Mas creio que é preciso resolver o problema do Chipre. O Chipre não é o mais importante, mas, ao mesmo tempo, bloqueia enormemente. Portanto, é preciso fazer pressão para abrir as negociações… Digamos que pode haver trocas económicas directas com o Chipre do Norte. Para isso, é preciso que a Europa pressione para que sejam abertos o porto e o aeroporto de Chipre do Norte. Aí, os turcos vão abrir os portos e os aeroportos da Turquia aos cipriotas gregos. A Turquia deve fazer um esforço com uma agenda de redução das tropas turcas no Chipre do Norte. Isso pode resolver-se se houver vontade política para tal. O nosso papel é pressionar para que haja essa vontade.

E: Como é que o senhor convence um cidadão da necessidade da adesão da Turquia?

CB: Primeiro, é preciso convencer os políticos. Ao cidadão, é preciso demonstrar que hoje, tendo em conta a globalização das trocas, das economias, uma Europa-potência que regula a economia, a ecologia, precisa da Turquia. E que para os conflitos que nós temos com determinados países muçulmanos, com um radicalismo islâmico, etc… para o conflito no Médio Oriente, a Turquia pode trazer uma mais-valia de que precisamos. É assim que temos de tentar convencer os cidadãos.

E: É preciso também livrar-se dos clichés sobre o véu?

CB: As mulheres turcas não usam véu, mas um lenço. Há cinquenta anos, as mulheres francesas usavam um lenço no campo. Portanto, isso não é um véu. Elas não usam véus, elas têm um lenço na cabeça. Para mim, o problema não é o lenço, mas aquilo que se tem na cabeça. Nós temos um estado secular. E o debate na Turquia sobre a próxima Constituição, que deve ser formulada depois das eleições de Junho, será fundamental. Um Estado que protege todas as liberdades dos indivíduos, as liberdades de crença, as liberdades de não-crença, as liberdades de orientação sexual, o que está na Carta dos Direitos Fundamentais europeus. Isso é o futuro da Turquia, com ou sem lenço, e sem véu. As pessoas não usam véus na Turquia.

E: Parece que, neste momento, as relações entre a Europa e a Turquia atravessam um momento crítico. Pode encontrar-se uma solução? E se sim, quando?

CB: Eu não tenho uma bola de cristal, mas, evidentemente, que isso se vai resolver… Vai resolver-se, porque os interesses comuns, o envolvimento de uns e de outros é muito profundo. Quando? Eu não sei. Mas é preciso… A nossa actividade política deve passar por pressionar para que os capítulos da negociação sejam reabertos, para que as leis na Turquia, as leis sobre os sindicatos, por exemplo, sejam decididas pelo Parlamento. E que depois das próximas eleições em Junho, haja uma verdadeira abertura constitucional na Turquia.

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