As ruínas de Allianoi não sabem nadar

As ruínas de Allianoi não sabem nadar
De  Euronews
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

Todos os dias, milhares de jovens percorrem as ruas de Istambul, uma cidade que não envelhece. Ainda assim, os sinais do tempo estão bem presentes e relembram que a Turquia é uma herdeira privilegiada de séculos de história e de arte.

Mas, nem sempre impera o respeito pelos mais antigos. No ano passado, um importante sítio arqueológico foi engolido pelas águas de uma barragem. Allianoi, uma cidade termal do século dois antes de Cristo, situada a poucos quilómetros da antiga cidade de Pérgamo, está agora submersa.

Durante anos, o arqueólogo Ahmet Yaras tentou salvar as ruínas da ruína. Várias pessoas, oriundas de diferentes cidades e com percursos universitários distintos, juntaram-se à causa. É o caso de Onur Karahan. “No final do meu primeiro ano de faculdade de arquitetura, quando fui ver os resultados dos exames, vi um cartaz”, conta. “Estavam à procura de estudantes de arquitetura que pudessem fazer desenhos de Allianoi para salvar o sítio, devido à construção uma barragem.” Onur não hesitou.

Nesrin Ermis também se juntou ao grupo. Coube-lhe a tarefa de receber e guiar os convidados até Allianoi. “Eu e as pessoas que estavam comigo assistimos à inundação progressiva do sítio de Allianoi”, lamenta.

Preservar um tesouro intemporal ou construir uma barragem para estimular a agricultura? Há quem pense que uma coisa não implicava a eliminação da outra. Hasbi Parlak, que também integrou o grupo de voluntários para salvar Allianoi, defende que havia alternativas à barragem. “Podia ter sido construída num local diferente. Claro que a água é necessária, mas havia alternativas”, diz.

Os esforços para salvar Allianoi foram em vão, mas a iniciativa dos jovens turcos não passou despercebida. É uma das vinte e oito campanhas distinguidas com o Prémio do Património Cultural da União Europeia, atribuído pela Fundação Europa Nostra.

Baris Altan, representante da Europa Nostra na Turquia, deixa um alerta: “Estes sítios arqueológicos e esta herança cultural são o nosso futuro. Não apenas para os jovens que trabalham na arqueologia ou na arquitetura mas para a sociedade em geral. Infelizmente, este tipo de finais infelizes, como o de Allianoi, pode desmotivar os jovens mas não devemos ficar desanimados. Devemos trabalhar para definir os próximos passos.”

A luta está longe do fim. A campanha para salvar Allianoi inspirou milhares de pessoas a manifestarem-se contra cerca de mil e trezentas centrais hidroelétricas e barragens que ameaçam vários sítios arqueológicos. É o caso da aldeia milenar de Hasankeyf, situada nas margens do Rio Tigre, no sudeste da Turquia.

As autoridades dizem que as barragens têm um tempo de vida útil reduzido e depois são desmanteladas. Para Hasbi Parlak, será tarde demais. “Cinquenta anos depois, o local estará completamente coberto de lama. Por isso, suponho que restaurar Allianoi será muito difícil. Mas se isso acontecer, claro que vamos tentar recuperar Allianoi.”

Nesrin Ermis é conclusiva: “As gerações mais novas deviam conhecer melhor o seu passado. As pessoas que não conhecem a sua história não podem reconhecer o valor da sua vida atual nem ver o seu futuro.”

(Filme sobre Allianoi, cortesia de Mehmet Güngör;
Música, cortesia de Koma Azad)

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

A vida de Allianoi antes da barragem

Objetivo: "Impedir a destruição do património cultural"

Found in translation: Quando os tradutores se tornam protagonistas