Massacre de Newtown intensifica discussão sobre a posse de armas nos EUA

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De  Euronews
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Três dias após o massacre na cidade de Newtown, os norte-americanos estão ainda em choque. Polícias, médicos, psicólogos, todos os que trabalharam no local do crime falam da pior experiência das suas carreiras.

Entre as 26 pessoas assassinadas naquela escola primaria de Newtown estavam vinte crianças: 12 meninas e 8 meninos com idades entre os 6 e os 7 anos. Barack Obama prestou-lhes homenagem este domingo, lendo uma passagem da Bíblia.

“Deixem as crianças vir até mim, Jesus disse. Não as impeçam porque o Reino dos Céus a elas pertence”, disse o presidente dos Estados unidos, antes de evocar os nomes das 20 crianças assassinadas: Charlotte, Daniel, Olivia, Josephine, Anna, Dylan, Madeline, Catherine, Chase, Jesse, James, Grace, Emily, Jack, Noah, Caroline, Jessica, Benjamin, Avielle e Allison.

Além das crianças, mais seis adultos que trabalhavam na escola também cairam. Deram o corpo às balas pelos alunos. Morreram como heróis.

Dawn Hochsprung, de 47 anos, era a diretora da escola, foi a primeira. Mary Sherlach, a psicóloga de 56, foi a segunda. As duas fizeram frente ao atirador sem olhar ao perigo. Só pensaram nas crianças.

Victoria Soto, professora de 27 anos, escondeu os seus alunos num armário, disse ao atirador que as crianças tinham ido para uma aula de ginástica. Salvou-os, mas também acabou fuzilada.

Lauren Rousseau, de 29 anos, Rachel Davino, também de 29, e Anne Marie Murphy, de 52, foram, as outras vítimas adultas dos disparos de Adam Lanza, o assassino, de 20 anos.

Emily Parker, de 6 anos, estava a aprender português com o pai e foi na língua de Camões que lhe disse na sexta-feira de manhã que o amava. Depois seguiu para a escola e foi morta. O pai, Robbie Parker, aceitou falar sobre a filha: “A Emily tinha sempre alguma coisa boa para dizer. Era uma pessoa incrível e eu sinto-me abençoado por ser pai dela.”

O Sam, também de 6 anos, teve mais sorte do que a Emily. Ele fazia parte da classe da professora Kaitlin Roig, que se trancou com os alunos numa casa de banho. Sam recorda “uma grande barulheira” e de ver “a professora a correr para a porta”. “Trancou-a e depois fechou-nos a todos na casa de banho”, recordou o pequeno sobrevivente.

Kaitlin, por seu lado, explicou como tentou acalmar os seus alunos face ao que se passava fora da sala de aula: “Disse-lhes: ‘Têm de saber que eu amo-vos muito. Tudo vai correr bem’. Pensava que era a última coisa que todos nós iríamos ouvir”. Não foi. Por causa dela, todos naquela sala sobreviveram ao massacre. Vivem agora, porém, com o trauma.

O nosso correspondente em Washington, Stefan Grobe, acaba de chegar de Newtown e recordou a Jon Davies como foi estar num local onde um crime tenebroso ainda estava fresco na mente das pessoas.

Jon Davies, Euronews: Stefan, começo por perguntar o que é que sente alguém que se desloca, neste momento, àquela cidade?
Stefan Grobe, correspondente em Washington: É terrível. É muito triste quando se passa a conhecer aquelas pessoas, os familiares das vítimas, todos aqueles que lá vivem diariamente e que agora têm de lidar com uma nova realidade. É muito duro.

O que pensas sobre a forma como o presidente Obama tem gerido a situação?
Ele fez um grande discurso, ontem à noite. Este vai ser o Gettysburg de Obama, se nos recordamos do famoso discurso de Abraham Lincoln durante a guerra civil. Obama está no centro de um debate nacional que começou escassas horas depois do tiroteio. A questão é: como é que os americanos vão lidar com a situação? É muito curioso perceber que, nos últimos 20 anos, os americanos têm apoiado cada vez menos o controlo de armas. Em 1990, oito em cada dez americanos queriam leis mais restritivas; em 2010, eram menos de quatro em cada dez que pretendiam o mesmo.

Por vezes, é difícil para os europeus, vivendo deste lado do Atlântico, perceber a relação que o americano comum tem com a questão das armas. Muitas vezes pensa-se: “se aconteceu uma atrocidade destas, e têm acontecido várias, porque é que ainda querem ter armas em casa?”
É algo que está profundamente enraízado na vida deste país. Remonta à Segunda Emenda da Constituição, adotada em 1791. O Supremo Tribunal americano relembra constantemente este facto: os cidadãos têm o direito de possuir armas de fogo, dentro de alguns limites impostos pela lei, para poderem, por exemplo, assegurar a defesa das suas casas. Outro dado interessante é que, em 2012, mais de 16 milhões de americanos pediram autorização para posse de arma. É um recorde. Depois de cada tiroteio a que temos assistido, há mais gente a correr para as lojas de armamento, porque se sentem inseguras. É um debate que se vai prolongar durante os próximos anos, durante todo o segundo mandato de Obama, e creio que se vai tornar mesmo num marco deste mandato.

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