O mais recente capítulo da crise na zona euro deixou alguns eurodeputados desconcertados. Um deles é o líder dos liberais, Guy Verhofstadt, que se interroga: “O que é que aconteceu no sábado de manhã?”
O eurodeputado refere-se à proposta de resgate de Chipre negociada pela Comissão Europeia e pelo Eurogrupo, entretanto rejeitada pelo parlamento de Nicósia.
Da parte da Comissão Europeia, o porta-voz Olivier Bailly explicou que “embora este programa não correspondesse, em todos os seus elementos, às propostas e preferências da Comissão; a Comissão sentiu o dever de o apoiar visto que as alternativas apresentadas eram mais arriscadas e menos favoráveis para a economia de Chipre”.
As instituições europeias parecem paralisadas pela decisão da pequena ilha de um milhão de habitantes de não cobrar uma taxa sobre os depósitos bancários. Dizem que a “bola” está do lado de Chipre.
Zsolt Darvas, analista do Instituto Bruegel, admite que “a margem de manobra dos parceiros da zona euro é extremamente limitada. Não antevejo que o Parlamento alemão diga simplesmente: “OK, o Parlamento cipriota não quer taxar os depositantes russos milionários, então vamos pedir aos contribuintes alemães para ajudarem”“.
Mas para o presidente do Parlamento Europeu, é exatamente a Comissão e os 17 países do euro que têm de encontrar uma solução, face ao risco de perda de credibilidade.
“Precisamos de uma solução europeia, no âmbito da União Europeia e da zona euro. Penso que não devemos mostrar ao resto do mundo que a UE não é capaz de resolver os seus próprios problemas, dentro das estruturas que possui”, disse Martin Schulz.
A correspondente da euronews em Bruxelas, Efi Kotsukosta, entrevistou Athanasios Orphanides, ex-governador do Banco Central de Chipre (2007-2012) e atualmente professor na MIT Sloan School of Management, nos EUA.
Face à decisão do governo cipriota de pedir ajuda à Rússia, que detém muitos ativos nos bancos cipriotas e que emprestou dinheiro ao governo de Nicósia no passado, Athanasios Orphanides diz que “é um momento muito triste no projeto político que é a União Europeia”.
“A Rússia tem quase o monopólio do fornecimento de gás para a Europa continental e foram feitas descobertas significativas de gás nas águas territoriais de Chipre. De uma perspetiva económica, a chantagem que os governos europeus têm feito com Chipre acabou por empurrar o país para o lado da Rússia. Isso vai levar ao aumento de preços do gás e terá um custo económico enorme para a Europa. Espero que os líderes europeus estejam à altura das suas responsabilidades e encontrem uma solução europeia para este problema antes que fique pior”, acrescentou.
(veja a entrevista na íntegra em vídeo)