Claude-Eric Poiroux: "A cultura é essencial como resposta à crise"

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De  Euronews
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No filme da crise europeia, a austeridade ficou com o papel de malvada e no final uma das vítimas é o cinema, a começar pelo de autor.

Tome-se o exemplo da Espanha de Almodôvar. No Festival de Cannes, não há este ano qualquer filme espanhol em competição. No país, ajudas públicas para o cinema caíram de 123 milhões de euros para 55 milhões em apenas três anos.

E a tendência sente-se noutros países europeus. Como consequência, produzem-se menos filmes na União Europeia.

Segundo o Observatório Europeu do Audiovisual, em 2012 foram produzidos 1299 filmes, contra 1336 em 2011, um ano recorde.

Em 2012, graças ao último James Bond, o cinema europeu registou a maior quota de mercado do último século (com 33,6%), mas o número de bilhetes vendidos caiu. É o efeito da austeridade e da subida do desemprego.

No ano passado, venderam-se 933 milhões de bilhetes de cinema, menos 21 milhões do que no ano precedente. E se a queda rondou, em média, os 2,2% na União Europeia, em Portugal as vendas afundaram 12,1%.

Para evocar a crise do setor, a euronews entrevistou em Cannes o diretor geral da “Europa Cinemas”, uma rede de 1170 salas, em 68 países, com uma programação, sobretudo, europeia.

Wolfgang Spindler, euronews: O cinema, para lá do Festival, é também um mercado e salas de cinema que vivem graças à indústria cinematográfica. Numa situação de crise como se comportam as salas de cinema na Europa?

Claude-Eric Poiroux, presidente executivo de “Europa Cinemas”: Os resultados de 2012 estão em ligeira queda, em termos de espetadores. O que significa uma desaceleração do número de entradas e talvez um início de crise. Não sabemos ainda como vai evoluir. O que se passa na Europa também não é homogéneo. Não se vive a mesma situação em todos os países.

Espanha, por exemplo, vive uma verdadeira crise por duas razões. Há uma crise global no país e há uma crise no cinema. O cinema é vítima de duas ou três decisões do governo, por exemplo, a de aumentar o IVA para os bilhetes de 8 para 21%. O que é enorme.

Há depois, ao mesmo tempo uma crise em termos de produção. Não se reflete, talvez, ainda nas salas, o que se passa ao nível da criação, da produção, dos investimentos, do tipo de filme e, também, do que se produz hoje na Europa e cujos efeitos só serão visíveis dentro de alguns meses ou alguns anos.

euronews: Em tempos de crise, há géneros que funcionam melhor do que outros?

C-E Poiroux: Em geral, diz-se que o cinema não sofre crises porque é um valor refúgio. A palavra refúgio é neste caso a sala de cinema, para onde as pessoas vão para esquecer o que se passa no exterior. Foi o que se passou na história por várias vezes. Somos um pouco sortudos em relação a outros setores, que são mais atingidos.

Mas é preciso lembrar que o cinema tem um custo. Felizmente, o bilhete de cinema não é muito caro . Não é o divertimento mais caro e tem-se acesso a um espetáculo de grande qualidade. Por isso, podemos considerar que a relação qualidade-preço ainda é atrativa para o público.

Se queremos que o público continue a ir ao cinema, para se evadir, talvez seja necessário uma mudança do género de filmes. O cinema vai tornar-se mais um divertimento, haverá menos espaço para a reflexão, através de uma expressão artística, que procura um certo prazer.

euronews: Como se pode resumir a crise e o cinema na Europa em poucas palavras?

C-E Poiroux: Penso que, hoje, devem ser colocadas certas questões, porque muitos países não fazem o esforço de compreender que a cultura é essencial como resposta à crise. É uma das preocupações em certos países. Em Espanha, sobretudo. Mas também em Itália e em certos países da Europa Central, como a Hungria. Hoje, há ameaças à existência do cinema de autor, que a Europa sabe fazer muito bem, que é, em geral, é de muita boa qualidade e pode agradar ao público. O cinema tem, na realidade, muita força e não deve ser contido. A única exigência é deixá-lo exprimir-se.

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