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Roberto Azevêdo: OMC tem de se modernizar para sobreviver

Roberto Azevêdo: OMC tem de se modernizar para sobreviver
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Depois de oito anos de liderança do francês Pascal Lamy, a Organização Mundial do Comércio (OMC), criada há 18 anos, tem o primeiro diretor-geral com origem na América Latina: o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo, de 55 anos. A euronews veio até Genebra, na Suíça, onde fica a sede da OMC, para falar sobre o futuro da organização, que está na encruzilhada.

Isabel Marques da Silva/euronews (IMS/euronews): “O senhor trabalha na OMC há 16 anos, defendendo os interesses do Brasil que, para algumas pessoas, é um campeão de protecionismo Qual será a sua atitude, tendo em conta a máxima diplomática de que há não uma segunda oportunidade para uma boa primeira impressão?”

Roberto Azevêdo/OMC (RA/OMC): “Como Diretor-Geral não posso ser outra coisa senão um facilitador do compromisso e do consenso, numa busca incessante pela liberalização do comércio, que é um dos elementos essenciais para o crescimento económico global, não apenas para alguns países. Isso aplica-se principalmente aos países mais pobres, que necessitam de abertura comercial, que precisam de novos mercados para colocarem os seus produtos.”

IMS/euronews: “É importante distinguir os países de rendimento médio, como a Índia, a China ou o Brasil, dos países que enfrentam dificuldades em África, nas Caraíbas ou no Sudeste Asiático. O senhor deseja restaurar uma iniciativa chamada “Ajuda para o Comércio” a fim de dar, de facto, mais oportunidades para esses países fazerem comércio, em vez de tentar aumentar a sua capacidade institucional, algo a longo prazo. Pode explicar como vai dinamizar esta iniciativa?”

RA/OMC: “Esses países precisam de maior atenção por parte do sistema de comércio multilateral, devemos dar-lhes mais oportunidades para se ajustarem às cadeias de comércio e de produção, que são atualmente transfronteiriças. Um produto não é mais feito apenas em um país, mas em vários. No entanto, as oportunidades não surgem a partir do nada, é preciso trabalhar para identificar essas oportunidades e permitir que esses países participem de forma mais ativa nesses fluxos.”

IMS/euronews: “O primeiro teste que irá enfrentar é a reunião ministerial em Bali, na Indonésia, em dezembro, para tentar ressuscitar a chamada Ronda de Doha, estagnada desde 2008. O que seria um acordo mínimo para que considere a reunião bem-sucedida? “

RA/OMC: “Provavelmente, o resultado vai concentrar-se em questões como a agricultura, a facilitação de comércio, a segurança alimentar, questões ligadas ao desenvolvimento. Como, de que forma, em que medida e em que profundidade, é o que vamos negociar.”

IMS/euronews: “Mas está otimista?”

RA/OMC: “Eu tenho formação em engenharia. Um engenheiro não pode ser otimista, porque o prédio vai cair, mas também não pode ser pessimista, porque vai gastar muito dinheiro! Basicamente, sou realista: acho que há dificuldades, os países membros terão que fazer um esforço para chegar a um entendimento, mas eu acho que esse esforço é possível”.

IMS/euronews: “Por causa do impasse nas negociações da Ronda de Doha, temos vindo a assistir a uma série de acordos bilaterais e regionais, acho que existem mais de trezentos. Alguns académicos dizem que esses acordos são como “térmitas” que minam um pouco o multilateralismo”.

RA/OMC: “Esses acordos bilaterais, em que a negociação é mais fechada e envolve poucos países, tende a testar os limites da negociação. Eles vão até o limite do que é possível em termos de negociações de liberalização do comércio e da criação de novas regras. O acordo multilateral, que envolve um maior número de países, tende a ser um pouco mais lento, não indo até à fronteira, mas harmoniza tudo de uma forma muito mais rápida. “

IMS/euronews: “Mas, se um desses acordos regionais é entre duas das maiores economias do mundo, os Estados Unidos e a União Europeia, não é um golpe fatal para a OMC?”

RA/OMC: “De modo nenhum, pode até ajudar muito! Pode ajudar muito, porque significa progresso em algumas áreas de trabalho que podem, eventualmente, ser usadas ​​como inspiração para entendimentos multilaterais”.

IMS/euronews: “Isto significa que pode haver a necessidade de alterar a metodologia. Algumas vozes argumentam que, em vez de um único compromisso, com consenso sobre todos os temas, pode-se avançar a velocidades diferentes, com vários grupos de trabalho. Essa geometria variável é uma possibilidade para si ou considera que o consenso é a melhor maneira de avançar as negociações, apesar do impasse?”

RA/OMC: “Eu não vejo nenhuma possibilidade de uma organização como a OMC decidir sem ser por consenso. O que podemos fazer é criar ritmos diferentes em algumas negociações, temos que ser flexíveis no processo. Acho que não é sustentável que a organização continue o seu papel de disciplinador do comércio internacional se não atualizar os campos de trabalho”.

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IMS/euronews: “Mas pode especificar quais são esses campos de trabalho e que nova dinâmica pretende dar?”

RA/OMC: “Por exemplo, na área agrícola. A legislação agrícola, os subsídios, as barreiras fitossanitárias de hoje não são as que existiam na década de 80, quando a Ronda do Uruguai foi concluída. No domínio da propriedade intelectual, há uma enorme quantidade de mecanismos que foram desenvolvidos nos últimos 30 anos, o mesmo se aplica nas áreas de serviços e da economia digital”.

IMS/euronews: “Algumas pessoas argumentam que estas questões, chamadas barreiras não-tarifárias, são novas formas de protecionismo, encapotado. Não é esse o seu entendimento?”

RA/OMC: “É a atitude dos governos que leva o mercado a ser mais aberto ou mais fechado. Então, podemos ter campos de trabalho que os governos usam como base para uma abertura, para a liberalização, mas também podem ser usados para o fechamento, para a proteção, se for essa direção que um determinado governo está tomando”.

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IMS/euronews: “De qualquer forma, o comércio mundial cresceu apenas 2% em 2012, uma das mais baixas médias das últimas duas décadas. Quais são as suas expectativas, os estudos que tem, sobre o progresso para o próximo ano, ou até mesmo para os próximos quatro anos, que é a duração do seu mandato? “

RA/OMC: “Em geral, o comércio mundial tem uma relação muito estreita com o crescimento económico. O importante é dar os países membros a capacidade de agirem e interagirem com outros mercados de uma forma previsível e equilibrada, sem regras que favorecem um determinado grupo dos países, em vez de outro. Que exista uma relação equilibrada e previsível “.

IMS/euronews: “Muito obrigada por ter aceite o convite da Euronews”.

RA/OMC: “Eu é que agradeço”.

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