Centenário sim, genocídio arménio não: turcos contra o mundo por causa de uma palavra

Centenário sim, genocídio arménio não: turcos contra o mundo por causa de uma palavra
Direitos de autor 
De  Maria-Joao Carvalho
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

Silvard tem 103 anos. Tinha apenas três em 1915. Vive em Erevan, na Arménia, onde a família se refugiou, depois de escapar ao massacre do seu povo

PUBLICIDADE

Silvard tem 103 anos. Tinha apenas três em 1915.
Vive em Erevan, na Arménia, onde a família se refugiou, depois de escapar ao massacre do seu povo, com a ajuda dos soldados franceses. Os pais, ela e a irmã, foram salvos, mas os tios e tias, primos e primas foram mortos. Silvard jamais verá realizado o seu desejo:

Silvard – Se os turcos reconhecerem o genocídio arménio, todos os arménios, todos os arménios perseguidos, os descendentes, aqueles que contaram ao mundo o que se passou, podem, enfim, regressar a casa, a missão estará cumprida.

Desde o século XV que os cristãos arménios estavam sob domínio do Império Otomano. A ideia de independência começou a ganhar força entre os arménios, até ao massacre, em 1909, de 20 mil arménios. Na I Guerra Mundial, quando o Império os convocou para a guerra, as minorias étnicas ergueram-se contra o recrutamento. O Império reuniu 250 intelectuais arménios, em 2015, deteve-os, deportou uns e executou outros. Depois de privar o povo dos dirigentes, começou a deportação e o massacre dos arménios que habitavam os territórios asiáticos do império.

Um milhão e meio de arménios foram deportados, quase metade de um povo que os turcos, ainda hoje, definem como Povo de Confiança. Os cristãos com quem os muçulmanos turcos têm mais afinidade.

O governo turco considera um insulto que se fale da deportação dos arménios para os 25 campos no deserto entre a Turquia, Síria a Iraque, com o objetivo dos exterminar. Mas há testemunhos dos que viram queimar vivos os familiares, ou enforcar, ou lançar ao rio Eufrates, ou deixar morrer à fome, ou inocular tifo ou vender como escravos.

Pouco mais de 20 países reconhecem o genocídio arménio. Em França, celebra-se com dignidade: a orquestra que se apresenta durante a semana em Paris, Armenian World Orchestra, é composta por músicos arménios vindos de todo o mundo e tem a participação de três elementos da Orquestra Gulbenkian .

Três dias apenas depois do Papa Francisco, o Parlamento Europeu também provocou a fúria do governo turco, depois de ter aprovado uma resolução por ocasião deste centenário do genocídio arménio. A resolução, que foi apoiada por todos os grupos políticos representados solicita à Turquia “o reconhecimento do genocídio arménio e, assim, abrir caminho a uma verdadeira reconciliação entre os povos turco e arménio.”

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, repete que não há qualquer sombra na história da Turquia que possamos definir como genocídio. Terá sido a fome, que atacou turcos e arménios, a causa deste massacre.

No ano passado, o primeiro-ministro turco endereçou, pela primeira vez, condolências às famílias das vítimas arménias de 1915.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Acidente com teleférico na Turquia causa um morto e sete feridos

Morreu o estilista Roberto Cavalli aos 83 anos

Sete pessoas julgadas por fornecer droga suicida a mais de 600 pessoas nos Países Baixos