Jean Nallit: um herói da Resistência para reviver a história

Jean Nallit: um herói da Resistência para reviver a história
De  Maria-Joao Carvalho
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No dia 8 de maio de 1945, a França foi libertada da ocupação nazi. 70 anos depois, a euronews encontrou Jean Nallit, que entrou na Resistência aos 18

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No dia 8 de maio de 1945, a França foi libertada da ocupação nazi. 70 anos depois, a euronews encontrou Jean Nallit, que entrou na Resistência aos 18 anos, na célula Charette, em Lyon, seguindo o exemplo da mãe, Antoinette. Foi preso pela Gestado nas mesmas instalações em que foi preso e torturado, por Klaus Barbi, o herói Jean Moulin, e morreu dos ferimentos). Nallit foi deportado para Buchenwald e libertado pelos americanos.

Lyon era a capital da Resistência e Nallit trabalhou na sombra: distribuia panfletos e jornais clandestinos. A euronews transmite o seu testemunho na primeira pessoa:

Espiávamos, tínhamos esconderijos por todo o lado e documentos falsos. Produzimos entre 25 a 30 mil falsos papéis.
Sabíamos que seríamos presos de um momento para o outro e fuzilados. Fui detido a 31 de março de 1944, trensferido imediatamente para a escola de saúde militar. Fizeram-me a tortura do balde de água, reanimavam-me com pontapés, bastonadas e chicotadas. Não pude sentar-me durante seis meses, por causa das dores na coluna e nas nádegas.

No dia 8 de maio, os alemães embarcaram-me com outros num comboio de transporte de animais, mas com 120 pessoas por vagão. À chegada havia uma dezena de mortos em cada, e todos chegámos meio enlouquecidos com a falta de água, oxigénio e espaço. Tive a sorte de ir comprimido contra a fenda da porta do vagão, onde colei a boca para respirar. O comboio levou-nos até Buchenwald. Registaram-nos. Deixei de ter nome e tive de passar a pronunciar o número em alemão, 49839. Ficou gravado até à morte.

Primeiro puseram-nos sob umas telas de lona, em quarentena, e dormíamos sentados na terra, pernas abertas e costas contra costas. Depois destinaram-me ao trabalho na pedreira, onde partia pedra durante 12 horas por dia, sem direito a reerguer-me ou falar. Tudo estava preparado para nos aniquilar.

Depois, já na manutenção de peças de aviões, não foi tão mau, porque nos vingámos. Nunca percebi porque tinham um preso da Resistência numa fábrica de armas. Não queria trabalhar. Um outro preso belga tinha-me perguntado isso mesmo, e eu disse que não…” E Tu?” “Eu também não….” “Então vamos entender-nos bem”. Foi o que nos levou a enviar para amontagem peças defeituosas. A sabotagem atingiu toda a linha de montagem.

A ordem de exterminação chegou para todos: judeus e todos os que estavam nos campos. Mas a ofensiva russa avançou. Para não serem apanhados pelos russos ou pelos americanos, as SS fizeram-nos caminhar aos ziguezagues Decerto para nos afogarem no mar báltico. Caminhámos 900 km.

Fui libertado no dia 8 de maio de 1945. No início da marcha forçada, éramos 50000. Quando chegámos, éramos menos de 500. Cheguei com 38 kg de peso e demorei três anos para conseguir pesar 50 kg.

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