A Turquia tenta ultrapassar as contradições nestas eleições de 7 de junho e dar um espaço, mas não abertamente, à enorme comunidade de descendentes
A Turquia tenta ultrapassar as contradições nestas eleições de 7 de junho e dar um espaço, mas não abertamente, à enorme comunidade de descendentes arménios – 60 mil turcos. Como o nome arménio termina em “ian” ou “yan”, estes cidadãos não podiam aceder a cargos públicos ou militares. Mas, desta vez, todos os partidos acabaram por admitir membros e dirigentes representantes da comunidade arménia.
Já em 2011, uma lei do AKP, partido da Liberdade e Justiça, no governo, previa a restituição dos bens expropriados a minorias religiosas depois do golpe de 1980.
A evolução das relações também produziu efeitos nas listas eleitorais. Markar Eseyan, colunista de um diário pró-governamental, foi nomeado pelo partido de Recep Tayyip Erdogan, mas afasta a possibilidade de o ser por motivos de identidade:
Markar Eseyan, candidato do AKP:
- Não acredito ter sido nomeado por ser arménio. Mas, sim, esta é uma parte importante da minha identidade. Estou feliz por ser arménio. Penso que é uma coincidência e a minha candidatura é uma prova do progresso da democracia na Turquia. Aos 55 anos um arménio é candidato do partido no poder, o que significa que ele fará parte do executivo.
A oposição do centro-esquerda, no entanto, com Selina Özuzun Doğan como cabeça de lista, defende o direito a esta identidade arménia, ostenta-a, mesmo, em língua arménia:
Selina Özuzun Doğan:
- Quero enfrentar qualquer tipo de discriminação, lutar contra os crimes de ódio, defender os Direitos Humanos e a liberdade de expressão. A minha eleição vai aumentar a visibilidade dos arménios, e vamos ter uma palavra a dizer sobre muitas questões. Os arménios podem voltar a confiar, sem a sensação de serem ignorados.
Garo Paylan é o candidato do Partido Democrático Popular, que reúne o partido curdo e a esquerda. É o mais crítico do poder central. Promete abrir a fronteira com a Arménia.
Garo Paylan, candidato do HDP em Istambul:
- A questão não é ser arménio ou não. As nossas decisões sobre curdos ou turcos serão as mesmas que em relação aos arménios. Este é um processo de normalização. Algumas identidades foram ignoradas pelo sistema, na Turquia.
A normalização aparenta estar em marcha, ao fim de 92 anos de espera. Mas apenas cinco arménios entraram no parlamento moderno.