Newsletter Boletim informativo Events Eventos Podcasts Vídeos Africanews
Loader
Encontra-nos
Publicidade

Irão: "A geração mais jovem e as gerações posteriores querem normalização das relações do Irão com o resto do mundo"

Irão: "A geração mais jovem e as gerações posteriores querem normalização das relações do Irão com o resto do mundo"
Direitos de autor 
De Maria-Joao Carvalho
Publicado a
Partilhe esta notícia Comentários
Partilhe esta notícia Close Button
Copiar/colar o link embed do vídeo: Copy to clipboard Copied

O dossiê sobre a produção nuclear do Irão é a peça central da mais longa maratona de negociações da história contemporânea, depois do processo de paz

PUBLICIDADE

O dossiê sobre a produção nuclear do Irão é a peça central da mais longa maratona de negociações da história contemporânea, depois do processo de paz no Médio Oriente. As dúvidas sobre a natureza do programa surgiram em 2002, quando se constatou que Teerão estava a construir, sem aviso prévio, uma central subterrânea de enriquecimento de urânio, em Natanz, e um reator de água pesada, em Arak, para produzir plutónio.

Desde 1984 que se temia o desenvolvimento desta atividade clandestina.

Em 2003, a Agência das Nações Unidas para a Energia Atómica, AIEA, assinou um acordo com Teerão, que a autorizou a inspecionar o terreno, pois a produção do urânio enriquecido tanto podia ter uso civil como militar.

Em 31 de outubro do mesmo ano, num primeiro acordo com três ministros dos Negócios Estrangeiros europeus, Teerão comprometeu-se a suspender as atividades de enriquecimento de urânio.

Mas as negociações para um acordo final estagnaram porque os Estados Unidos se opuseram a qualquer acordo que não incluísse o fim das atividades de enriquecimento de urânio.

Em agosto de 2005, Teerão rompeu o acordo com a União Europeia e retomou as atividades no centro de Isfahan. A França, a Alemanha e o Reino Unido ameaçaram levar o caso à Organização das Nações Unidas.

A eleição de Mahmud Ahmadinejad, em 2005, abriu nova etapa de hostilidades:

O novo presidente anunciou, em abril de 2006, que o Irão se iria tornar uma potência nuclear. Em junho seguinte, a cimeira dos 5 + 1, ou seja, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança mais a Alemanha, apresentou um plano, mas o regime de teerão recusou a suspensão do programa nuclear.

Em dezembro de 2006, o Conselho de Segurança aprovou, por unanimidade, um primeiro pacote de sanções proibindo a venda de produtos tecnológicos a Teerão, suscetíveis de serem utilizados no programa nuclear ou em mísseis balísticos.

Depois de cinco anos de impasse, em janeiro de 2012, a União Europeia bloqueou a importação de petróleo iraniano. Nos meses seguintes, foram dados os primeiros passos para uma verdadeira negociação, baseada nas sanções e no diálogo.

A vitória do moderado Hassan Rohani, nas presidenciais de 2013, abriu a via diplomática para a resolução da crise.

No dia 27 de setembro, antes de deixar Nova Iorque, onde esteve na Assembleia geral da ONU, o novo presidente iraniano fala ao telefone com o presidente norte-americano Barack Obama.

Barack Obama, presidente dos Estados Unidos: - Só o facto de haver esta comunicação entre os presidentes americano e iraniano, desde 1979, sublinha a profunda desconfiança dos nossos dois países mas também indica a perspetiva de ultrapassar esta história difícil.

No dia 24 de novembro de 2013, o Irão e o grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, e Alemanha) assinaram, em Genebra, um acordo provisório histórico que fazer as negociações.

Foi adiado uma primeira primeira vez em julho de 2014 e em novembro do mesmo ano, para dar mais tempo às negociações.

Por fim, no dia 2 de abril de 2015, em Lausanne, foram estabelecidos os parâmetros de um pacto definitivo, apesar de o prazo de 30 de junho ter sido ultrapassado.

Hossein Alavi, euronews – Sadegh Zibakalam, professor de ciências políticas na Universidade de Teerão, finalmente, depois de mais de 12 anos de confronto, o Irão e as seis potências mundiais chegaram a um acordo histórico. Esse acordo pode abrir a porta para a reintegração do Irão na comunidade internacional e, nomeadamente para a normalização das relações com os Estados Unidos?

Sadegh Zibakalam – É o acordo nuclear mais importante com o ocidente, um acontecimento histórico a 14 de julho de 2015, o problema é precisamente o ponto que foca: penso que as gerações futuras vão lembrar este dia como um ponto de viragem na história Revolução Iraniana, a reconciliação com o mundo, com a Europa, com os Estados Unidos. O dia em que, de certa medida, marcou alguma distância com essa cultura radical revolucionária de desejar a morte a países, outras nações, outras civilizações.

euronews – Muitos iranianos esperaram por este acordo durante muito tempo e agora, especialmente, celebram o levantamento das sanções económicas. Perante as novas circunstâncias, será que o governo vai Hassan Rohani de ser capaz de cumprir as promessas económicas e políticas?

Sadegh Zibakalam – Penso que a geração mais jovem e as gerações posteriores à revolução não estão tão preocupadas com o impacto económico sofrido, mas sim com as expetativas de normalização das relações entre o Irão e o resto do mundo. A geração jovem tem uma outra forma de ver as coisas e esperava este acordo. Agora, parece que estas expectativas se vão materializar, o que vai ajudar o governo de Rohani. Um governo que foi capaz de devolver a paz, a felicidade e o sorriso ao Irão e ao resto do mundo.

euronews – Muitos especialistas e analistas, incluindo o senhor, questionaram em várias ocasiões, o valor económico do enriquecimento de urânio para o país. A questão é se o Irão realmente beneficiou com as dezenas de milhões de dólares investidos no enriquecimento de urânio?

Sadegh Zibakalam – Pode colocar-se a mesma questão em relação a muitos aspetos das principais políticas iranianas dos últimos 36 anos. Pode mesmo perguntar-me: em que é que beneficiou os interesses nacionais a animosidade nacional contra o ocidente, os Estados Unidos e a Europa? Infelizmente, temos de dizer que a abordagem ideológica que mantivémos com todo o programa nuclear causou sérios danos aos interesses nacionais e à economia do Irão. Como resultado das sanções por causa do programa nuclear sofremos perdas de muitos milhões de dólares. Como poderia a economia iraniana e os interesses nacionais beneficiarem com isso?

euronews – Um dos desejos dos ativistas de direitos civis no Irão é avançar em matéria de direitos humanos, especialmente de direitos das mulheres. Depois do acordo nuclear, o governo de Rohani terá vontade e capacidade de responder a essas expectativas?

Sadegh Zibakalam – Penso que necessitamos ser cautelosos am relação às expetativas do governo de Rohani. No entanto, não devemos esquecer que o seu governo e, fundamentalmente, o poder executivo, apenas representa uma pequena parcela de poder no Irão. Infelizmente no Irão, o poder não está nas mãos de instituições eleitas pelo povo. Portanto, devemos ter expetativas moderadas.

Ir para os atalhos de acessibilidade
Partilhe esta notícia Comentários

Notícias relacionadas

Netanyahu diz que acordo com Irão vai financiar o terrorismo

Teerão está pronto para conversações nucleares se EUA tomarem medidas para restabelecer a confiança

Irão vai consultar Rússia e China antes das conversações nucleares de sexta-feira com os países europeus