O julgamento do antigo presidente do Chade, Hissene Habré, é o culminar de uma longa luta da associação das vítimas de crimes cometidos durante o
O julgamento do antigo presidente do Chade, Hissene Habré, é o culminar de uma longa luta da associação das vítimas de crimes cometidos durante o mandato do chefe de Estado. Os membros da associação tiveram de esperar vinte e cinco anos desde que foram libertados da prisão e 15 anos após terem apresentado a primeira queixa.
Clement Abaifouta é o presidente da associação e passou quatro anos nas prisões do regime: “É a primeira vez que um chefe de Estado africano é julgado pelas atrocidades que cometeu durante o seu mandato, mas é preciso que isto sirva de lição, caso contrário esta longa marcha de 25 anos não terá servido para nada.”
O presidente assim como a secretária da associação, Ginette Ngarbaye, são duas das cem vítimas que vão testemunhar, num processo que envolve 4000 partes civis. Na prisão, Ginette foi torturada, violada e teve um parto em condições desumanas. As feridas ficaram por cicatrizar e hoje ela quer que justiça seja feita.
“No mercado é-se preso, na igreja é-se preso, no trabalho, na rua é-se preso. Até hoje não sei porque me prenderam. Será simplesmente a maldade humana? Quero saber porque me prenderam.”
Desde 1999 que o advogado norte-americano Reed Brody acompanha as vítimas de Hissene Habré. O ativista dos direitos humanos é porta-voz da ONG Human Rights Watch e já foi retratado num documentário de 2007 como o caçador de ditadores.
“O que este caso mostra é que os sobreviventes com tenacidade, perseverança e imaginação podem realmente levar um ditador à justiça e isto é uma mensagem muito poderosa. O que esperamos é que esta conquista das vítimas em levar Hissene Habré a tribunal inspire outras vítimas e outros ativistas no mundo inteiro”, declarou.
O advogado chadiano Mahamat Hassan Abakar foi presidente da Comissão de Inquérito sobre os crimes do regime de Hissène Habré: “Todos estes ditadores não poderiam ter ido tão longe se não tivessem tido o apoio do Ocidente. O Habré, na altura, tinha quase sido adotado pela América de Reagan. Ele via-o como um grande defensor da África Negra contra a expansão de Kadhafi. Mas quanto à vida dos cidadãos dentro do país, nisso eles fecharam os olhos.”
O julgamento de Hissène Habré, acusado de crimes contra a humanidade, de guerra e de tortura de 1982 a 1990, constitui um momento único na história da justiça africana. É a primeira vez que um tribunal de um país africano processa o presidente de um outro país, por crimes contra os direitos humanos. Hissène Habré nega todas acusações e não tem demonstrado qualquer interesse em colaborar com as autoridades.