Meimarakis: Syriza estava mal preparado e fez erros de negociação

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De  Nelson Pereira
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O líder do partido grego Nova Democracia, Vangelis Meimarakis, integrou vários governos de centro-direita acusados pela esquerda de ter conduzido o

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O líder do partido grego Nova Democracia, Vangelis Meimarakis, integrou vários governos de centro-direita acusados pela esquerda de ter conduzido o país à beira de uma crise financeira. Agora é o principal adversário de Alexis Tsipras, segundo os resultados das últimas sondagens. A euronews entrevistou-o alguns dias antes das legislativas gregas.

euronews:
Nove meses depois de ter sofrido uma derrota importante contra o Syriza, as sondagens colocam o seu partido, o Nova Democracia ao lado do partido de Alexis Tsipras. O que mudou desde então ?

Vangelis Meimarakis:
A Grécia mudou, e nós também. Alexis Tsipras mentiu muito em janeiro. Há nove meses atrás, a Grécia tinha um superavit fiscal e a perspectiva de crescimento estava à vista. Agora, o país está de volta ao vermelho, com um défice alto e desemprego elevado. Os investimentos desapareceram, porque o senhor Tsipras correu com eles.

Nos últimos nove meses, os gregos tiveram a oportunidade de comparar o país com aquilo que era em janeiro, antes das falsas promessas de Tsipras. Agora conseguem ver claramente o contraste entre aquilo que lhes foi prometido e o que realmente aconteceu. As condições de vida são muito piores do que aquelas que tínhamos em janeiro e a maioria dos cidadãos gregos sofre as consequências.

euronews:
Sim, mas diz que se ganhar as eleições vai fazer alianças com outros partidos, incluindo o Syriza.

Vangelis Meimarakis:
A verdade sobre esta questão é que, nos últimos anos, percebemos que a Grécia não pode avançar sem colaboração e entendimento.

Não é coincidência que, em todos os outros países onde foi aplicado ou está em curso um programa de resgate, os poderes políticos e todos os partidos governantes se puseram de acordo para implementar um programa que aceitaram todos, sem renunciarem à sua autonomia política ou ideológica.

Por isso acredito fortemente que, na actual fase, o país só pode avançar se houver cooperação entre as forças políticas e as instituições.

euronews:
O seu partido votou a favor do acordo entre Tsipras e os credores. Se na segunda-feira for o novo primeiro-ministro, vai honrar esse acordo ou vai tentar alterá-lo, pelo menos até certo ponto ?

Vangelis Meimarakis:
Demos o nosso apoio à permanência da Grécia no percurso europeu, porque estamos cientes de quão devastadora seria para o país uma saída da União Europeia.

A Europa está a ajudar-nos – temos os subsídios de apoio aos nossos agricultores, os fundos do QREN, os fundos de solidariedade, o pacote Junker e a ajuda ao setor bancário. Todos estes apoios seriam perdidos, se não houvesse um acordo com a Europa. Mas as atuais medidas de austeridade são o resultado de como Tsipras negociou. A Europa não quer destruir-nos. A Europa quer ajudar-nos.

Tendo isto presente, se a Europa vir que um novo governo grego procura racionalizar e colocar as coisas em ordem durante o seu primeiro ano de governação, mostrando que existe uma forte vontade política no país para implementar o programa de resgate, então estou confiante de que os compromissos que foram acordados mas não podem ser aplicados porque criam mais recessão, poderão regressar à mesa de negociações – mas só depois de ter passado algum tempo.

Seria errado acreditar que, no primeiro ano despois do novo acordo, vamos poder renegociar com os credores, pois contam com a plena aplicação do acordo. Se queremos que confiem em nós, temos que avançar com as privatizações, as reformas e as mudanças estruturais que foram acordadas, enquanto aproveitamos os benefícios do financiamento da União Europeia e as grandes oportunidades de investimento. Só assim conseguiremos que a Europa colabore connosco.

Infelizmente o governo Tsipras não apresentou argumentos sérios durante a negociação, em muitas questões políticas essenciais, como pudemos descobrir quando discutimos essas questões com os parceiros europeus.

Gostaria de dar um exemplo, relativo ao rendimento dos agricultores. Explicámos aos parceiros europeus que não é uma renda fixa mensal e por esta razão não pode ser antecipadamente tributada na totalidade. Responderam-nos que isso nunca foi mencionado pelos ministros de Alexis Tsipras. Ou seja, os ministros gregos estavam mal preparados e mal informados e fizeram erros de negociação que se refletiram num acordo deficiente.

euronews:
Se ganhar estas eleições, vai representar a Grécia nas conversações com Junker, Angela Merkel, François Hollande e os restantes líderes europeus. O que tem para lhes dizer é diferente daquilo que lhes dizia o seu predecessor no Nova Democracia, Antónis Samarás?

Vangelis Meimarakis:
Antes de mais, deixe-me explicar-lhe que até ao final de 2014 tentámos implementar o acordo de resgate acordado em 2012 da melhor maneira possível, limando as arestas. Fizémos avançar as reformas.

Claro que nos faltou a celeridade e a determinação necessárias, mas trabalhámos em circunstâncias extraordinárias. O mercado estava em baixo e não surgiram compradores interessados em pagar os preços que o governo grego tinha considerado satisfatórios.

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Na altura, como presidente do Parlamento, consegui uma maior elasticidade dos três grupos parlamentares que compunham a maioria governativa. Apesar de diferenças ideológicas significativas face a questões essenciais, conseguimos que o parlamento funcionasse, tendo a bordo populistas e extremistas, sem falar de todos aqueles que protestavam fora dele.

Conseguimos trazer o país de volta a uma normalidade que teria continuado a melhorar se não tivesse sido interrompida pelas eleições gerais antecipadas que resultaram das presidenciais de dezembro passado.

euronews:
Ao longo das últimas semanas, assistimos a um movimento maciço de refugiados que atravessa o território grego. Qual a sua opinião sobre esta crise e sobre a reação dos países europeus que são destino final destas pessoas ?

Vangelis Meimarakis:
A crise dos refugiados é uma bomba-relógio com a qual vamos ter de lidar quando ganharmos as eleições. Tornou-se uma bomba, porque o governo do Syriza não soube lidar com a situação.

Há que ser pró-ativo em situações como estas, porque se o problema nos ultrapassa, só nos restam opções de emergência. É nesta situação que nos encontramos. O governo interino, que substituiu a administração Syriza, já fez mais em sete dias que Tsipras em sete meses.

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A forma como o governo interino enfrentou o problema, com a ajuda valiosa do Presidente da República, que pediu a organização de uma cimeira da União Europeia, parece prometer uma solução. Temos de ver quantos refugiados podem deixar o país. Não está certo o que diz – os refugiados não são migrantes ilegais, são vítimas da guerra na Síria, fogem a uma tragédia para salvar a vida. Esta é uma situação de caráter humanitário e têm que ser adotadas políticas europeias que lhe dêm resposta.

Estas novas políticas devem ser decididas numa cimeira europeia, com o envolvimento das Nações Unidas. Precisamos é de uma melhor coordenação, de um melhor sistema de controlo fronteiriço, de melhores centros de refugiados. É necessário igualmente dar uma utilização mais eficaz ao apoio económico que recebemos da UE, para lidar urgentemente com a questão.

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