O papel das cidades na luta contra o aquecimento global

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De  João Peseiro Monteiro com Christophe Garach, Sophie Desjardin
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Paris acolhe um conclave de autarcas durante a Cimeira do Clima. A reunião tem por objetivo alcançar um consenso quanto aos compromissos

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Paris acolhe um conclave de autarcas durante a Cimeira do Clima. A reunião tem por objetivo alcançar um consenso quanto aos compromissos relativamente ao combate contra a poluição e o aquecimento global. Este é um momento fundamental da COP21 porque as cidades têm um papel-chave a desempenhar.

Os centros urbanos são responsáveis por 70 por cento das emissões mundiais de dióxido de carbono. A COP21 tem objetivos ambiciosos para as cidades, nomeadamente a redução das emissões anuais de CO2 em 3,7 gigatoneladas até 2030 e a generalização das energias 100 por cento renováveis até 2050.

Lutar contra a poluição das cidades é, antes do mais, buscar alternativas aos transportes poluentes, grandes responsáveis pela contaminação atmosférica. Esvaziar as cidades dos veículos movidos a energias fósseis e generalizar a utilização de viaturas verdes é uma utopia que os participantes nesta cimeira querem transformar em realidade, apesar do custo financeiro.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 90 por cento dos residentes urbanos vivem num ambiente com uma qualidade do ar degradada. Em particular na Ásia, continente que possui muitas das cidades mais poluídas do mundo. Em Pequim, ainda esta semana foram impostas restrições à indústria, aos transportes e à construção para atenuar a poluição atmosférica que cobria a cidade.

No ano passado 54 por cento da população mundial residia em centros urbanos. Uma proporção que vai aumentar nas próximas décadas. A ONU estima que em 2050 dois terços dos seres humanos, ou seja mais de 6,3 mil milhões de pessoas, vivam em cidades.

Montreal e o “regresso do Canadá”

Denis Coderre, presidente da câmara de Montreal desde 2013 e presidente da Comunidade Urbana de Montreal efetuou uma visita a Lyon, durante a estada em França, e respondeu às perguntas da euronews.

Christophe Garach, euronews:

O senhor esteve em Paris esta segunda-feira, o dia em que o presidente da COP21, Laurent Fabius, pediu um acordo dinâmico, justo e vinculativo. Parece-lhe credível o pedido, quando temos 150 pessoas em torno da mesa?

Denis Coderre:

Parece-me credível porque, como disse Ban Ki-moon, não há um plano B para o planeta. Penso que é incontornável. Mas é preciso ser realista. Devemos assegurar-nos que é possível executar o acordo. Para o conseguir, na minha opinião, a solução encontra-se no interior das cidades. Como dizem os ingleses temos de “pensar globalmente e agir localmente”. Se quisermos assegurar uma perenidade desta agenda, ela deverá ser aplicada e realizada pelas cidades.

euronews:

O senhor, como autarca, apela aos seus colegas a nível internacional para agirem porque é ao nível local que se podem fazer mais coisas?

Denis Coderre:

A presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, e o antigo edil de Nova Iorque, Michael Bloomberg, que é atualmente o braço direito de Ban Ki-moon para os Assuntos Urbanos, vão estar em Paris na quinta-feira numa reunião que vai juntar centenas de autarcas com um agenda muito clara e bastante precisa. Devemos, portanto, assegurar-nos que podemos, seja através dos transportes ou do controlo dos gases com efeito de estufa, encontrar soluções com economias circulares: por exemplo, a questão da gestão dos resíduos urbanos. É preciso criar uma agenda pragmática e exequível, porque no fundo apercebemo-nos que os problemas são os mesmos nas diferentes cidades. É claro que há realidades diferentes mas os problemas com a água, os resíduos urbanos ou a eletrificação, penso que são ferramentas que nos podem ajudar a realizar esse plano.

euronews:

O que é que pode fazer a curto e a médio prazo, na sua cidade, para lutar contra o aquecimento climático?

Denis Coderre:

43 por cento das emissões de gases com efeito de estufa provêm dos transportes. 99 por cento da energia utilizada em Montreal e no Quebeque é de origem hidroelétrica ou renovável. Apostamos por isso na eletrificação dos transportes, no investimento em infraestruturas e num trabalho mais intenso em torno da economia circular. Temos, por exemplo, um processo de descontaminação por fitorremediação. Trata-se de uma descontaminação pelas plantas, e em seguida podemos reutilizar essas plantas para fazer biocarburantes. Tudo isto vai ter um impacto na questão dos gases com efeito de estufa e em toda a estratégia da gestão da água, como é evidente.

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euronews:

Isso está tudo orçado?

Denis Coderre:

Falamos de vários milhões de dólares, talvez dezenas ou mesmo centenas, mas trata-se de um investimento e, afinal de contas, o dinheiro que podemos poupar com a hidroeletricidade, os transportes elétricos, os transportes híbridos, relativamente à utilização das energias fósseis, é um investimento que vai criar emprego, que vai ter um impacto no desenvolvimento económico e no desenvolvimento social, e, é claro, vai ajudar na luta contra o aquecimento do planeta.

euronews:

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O Canadá é o quinto produtor mundial de petróleo e é muitas vezes apontado como um mau exemplo. Mas o Canadá chegou à COP21 com objetivos muito ambiciosos, dizem as ONG. O novo governo de Trudeau pode reverter a situação de forma duradoura?

Denis Coderre:

Eu creio que sim. Num primeiro momento temos, como é evidente, um novo governo e não podemos exigir que chegue a Paris com uma nova agenda alguns dias, algumas semanas depois da sua eleição. Mas temos o senhor Trudeau que investiu maciçamente milhares de milhões de dólares na questão da mudança climática e temos agora os governos das províncias, das cidades e o executivo do Canadá a falar a uma só voz. A energia fóssil existe, é um recurso, mas temos de encontrar alternativas e assegurarmos que podemos, ao nível dos transportes por exemplo, ter um impacto certo ao transformar e estabelecer fases de transição. Nós estamos prontos, até porque já o fazemos.

euronews:

A situação mudou?

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Denis Coderre:

Já mudou e penso que a atitude mudou. Os ingleses dizem que o “Canadá está de volta” e eu acredito sinceramente que é possível sentir desde já que houve uma mudança de governo em Otava.

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