França: Face ao terrorismo, líderes políticos e religiosos apelam à coesão nacional

França: Face ao terrorismo, líderes políticos e religiosos apelam à coesão nacional
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No dia a seguir ao atentado de Saint Etienne-du-Rouvray, um pouco por toda a França, sucedem-se as cerimónias religiosas em memória das vítimas.

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No dia a seguir ao atentado de Saint Etienne-du-Rouvray, um pouco por toda a França, sucedem-se as cerimónias religiosas em memória das vítimas. Em muito locais, cristãos e muçulmanos participam juntos nas homenagens. Os membros do governo apelam à unidade nacional. Em Lyon, o Perfeito, Michel Delpuech, lança também um apelo.

Michel Delpuech: “Apelo uma vez mais ao espírito de concórdia e fraternidade, porque os inimigos da república, os inimigos dos nossos valores, os inimigos da nossa liberdade só têm um sonho: é que a sociedade francesa se fragmente, que a hostilidade entre grupos e comunidades se desenvolva e é contra isso que é preciso agir: espírito de concórdia, espírito de fraternidade, espírito republicano e uma grande firmeza, uma grande determinação na aplicação do Estado de Direito.

Euronews: Acha que o Estado corre perigo?

M.D: “Não é o Estado que está em perigo, o Estado é a força do Estado de Direito, a força da lei. O que está ameaçado é a nossa vida republicana. É preciso muita atenção e vigilância e fazer tudo para defender esta vida republicana comum, ou seja, unir a comunidade nacional, apelar à coesão e, sobretudo, evitar o comunitarismo, o isolamento, lutar contra todas as derivas identitárias, o isolamento individual, evidentemente. É a república e os seus valores que estão ameaçados pelos ataques de que são vítimas há já demasiado tempo”.

E: A França está em estado de emergência, vamos passar ainda a um nível mais elevado? Existe esse nível? E o que vai fazer o Estado com os locais de culto?

M.D: “A lei sobre o estado de emergência prevê expressamente que (os locais de culto) possam ser encerrados se se produzirem incidentes. No anterior estado de emergência foi o que fizémos. Aqui em Lyon mandei encerrar uma sala, dita “A Mesquita”, certamente lembra-se. É isso, temos que estar presentes. Eu apelei ao sentido de responsabilidade e tenho confiança nos responsáveis muçulmanos, para que saibamos quem oficia, que desempenha o papel de imã, o que se passa nas mesquitas. A comunidade muçulmana tem que ajudar-nos a promover e a defender os valores republicanos e eu estendo-lhe a mão e tenho confiança nela. E isto é o futuro.

Futuro, para muito franceses, escreve-se com quatro letras: “medo”. Garantir a segurança é uma tarefa gigantesca: a França conta quase 50 mil espaços de culto entre igrejas, mesquitas e sinagogas.

Hasni Abidi: “É importante não cair na armadilha da guerra entre religiões”

euronews:
Vamos falar com Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudos e de Pesquisa Sobre o Mundo árabe e o Mediterrâneo em Genebra. O que é que esta vaga de ataques em França e noutros países revela da estratégia do grupo Estado Islâmico (EI)?

Hasni Abidi:
Estas ações mostram que há uma mudança de paradigma e de doutrina depois do EI ter passado a uma etapa mais importante e mais perigosa que constitui uma viragem.
Hoje assistimos a elementos que chamamos de ‘lobos solitários’, mas não são assim tão solitários para cometerem os atentados nos locais onde se encontram e quando têm oportunidade. Trata-se de uma estratégia de oportunismo político e de segurança, que se aproveita das falhas de segurança para levar a cabo atentados. Ao mesmo tempo, esta estratégia revela que o grupo Estado Islâmico está enfraquecido pelos ataques da coligação e esta perda de território e de influência na Síria e no Iraque, claro que se traduz por uma vontade de semear o caos, a desordem e o choque nos territórios e estados onde podem levar a cabo estes ataques.

euronews:
O impacto criado por estas ações pode verdadeiramente modificar as nossas sociedades europeias?

Hasni Abadi:
Eu espero que não, pois o objetivo da organização é o de provocar o medo e o choque para lá do impacto direto dos atentados. O objetivo é o de abalar a opinião pública. O grupo EI quer que os estados que participam na coligação militar renunciem à participação nesta coligação. O grupo quer também virar uma parte da populaçâo contra a outra e sabe que as nossas sociedades europeias são, ao mesmo tempo, democráticas, vulneráveis e plurais.

euronews:
Como evitar que esta situação termine numa guerra civil como pretende o grupo Estado Islâmico?

Hasni Abadi:
É verdade que aqueles que cometeram estes atentados, estes terroristas não representam a comunidade muçulmana, não representam o Islão, mas é importante reconhecer que há uma parte de responsabilidade. É importante que os muçulmanos saiam do silêncio e que digam que sim, que se tratam de membros desta comunidade muçulmana. O segundo elemento é que é verdade que há um problema com todos estes percursos pessoais caóticos, tanto ao nível familiar como escolar e de integração e essa é uma responsabilidade local.

euronews:
Este clima de tensão com a comunidade muçulmana ou de cólera contra a impotência dos estados faz também parte da estratégia dos jihadistas?

Hasni Abidi:
Sim. É por isso que é importante não cair na armadilha da guerra entre religiões. O grupo Estado Islâmico não representa a religião, o terrorismo não tem religião, mas existe um risco, o de criar uma tensão social, uma tensão civil no seio das populações, pois atacar-se a uma igreja, a um padre, é o mesmo que atacar um elemento fundamental de identidade e é preciso que a sociedade comece a refletir como apreender este terror, como encontrar uma boa estratégia para resistir ao pânico e ao caos que o grupo EI quer implantar nas nossas sociedades.

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