Terá a Holanda travado o dominó populista?

Terá a Holanda travado o dominó populista?
De  Isabel Marques da Silva
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Para os governos em toda a Europa que enfrentam o aumento do nacionalismo parece haver uma enorme sensação de alívio. O primeiro-ministro holandês, de centro-direita, Mark Rutte, selou uma vitória ele

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Para os governos em toda a Europa que enfrentam o aumento do nacionalismo parece haver uma enorme sensação de alívio. O primeiro-ministro holandês, de centro-direita, Mark Rutte, selou uma vitória eleitoral, que deixou para trás o rival anti-islâmico e eurocético, Geert Wilders.

Depois do Brexit e da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos da América, Rutte disse que a Holanda travou “o tipo errado de populismo”. Mas, numa análise mais em detalhe, o facto é que o Partido de Liberdade, de Geert Wilders, teve melhor resultado nesta eleição do que na anterior, mostrando que não é um falhanço total.

Que conclusões deve o resto da Europa tirar deste escrutínio, tendo em conta que se seguem eleições importantes em França e na Alemanha? Neste programa de análise contamos com a participação de James Franey, enviado especial da euronews à Holanda, e Louise Hoon, professora da Universidade Livre de Bruxelas, que é especialista em política europeia, sobretudo em euroceticismo.

Damon Embling/euronews em Bruxelas: James, depois de teres acompanhado a campanha, que análise fazes do resultado?

James Franey/euronews em Haia: Penso que muitas pessoas por toda a Europa estão a suspirar de alívio por Geert Wilders não ter ficado em primeiro lugar. Mas gostaria de acrescentar uma palavra de cautela, já que Wilders teve um bom resultado e as políticas duras que propõe atraíram mais de um milhão de votos.

A Holanda é um membro fundador da União Europeia, mas as propostas para proibir o Corão e encerrar mesquitas parecem ser muito populares entre uma boa parte do eleitorado. Penso que é muito cedo para falar sobre o fim do efeito dominó a que Mark Rutte se referiu nos últimos dias. Teremos de esperar para ver. Vão desenrolar-se importantes eleições em França e na Alemanha, mas para poder dizer que há um paralelo com a suposta derrota de Wilders é preciso esperar para ver.

Damon Embling/euronews em Bruxelas: Geert Wilders não conseguiu a vitória absoluta que queria, mas teve um bom resultado. Que impacto terá na Holanda, em termos do caminho que o país vai seguir?

James Franey/euronews em Haia: Teve um bom resultado e, para Wilders, uma das suas vitórias é ter sido capaz de definir a agenda de temas debatidos ao longo dos últimos meses. Vimos o primeiro-ministro, Mark Rutte, deslocar-se mais para a direita no tema da imigração e nas relações com a Turquia, e o mesmo aconteceu com os democratas-cristãos. O deputado Wilders realmente definiu a agenda desta campanha eleitoral desde o início.

Sobre que caminho a Holanda vai seguir, teremos que ver qual é a coligação que será formada. Ainda não está claro, poderá levar algumas semanas, ou mesmo mais de dois meses. Há alguma especulação em Haia de que poderá ser uma aliança com a esquerda, incluindo o partido dos Verdes, liderado por Jesse Klaver, mas terão lugar muitas negociações ao longo das próximas semanas.

Damon Embling/euronews em Bruxelas: James, obrigado pela tua análise. Vou conversar agora com a minha convidada, Louise Hoon, da Universidade Livre de Bruxelas. O resultado destas eleições na Holanda passa que tipo de mensagem para os eleitores do resto da Europa?

Louise Hoon/Universidade Livre de Bruxelas: Do ponto de vista do resto da Europa, é interpretado muito claramente como um “não” ao populismo, não se tendo verificado a queda de mais uma peça do dominó. É interpretado como um sinal muito forte para a Alemanha e para a França. Penso que tem um grande valor em si mesmo, que é um grande sinal do ponto de vista simbólico.

Mas, por outro lado, penso que deve ser visto na perspectiva do sistema eleitoral holandês, em que há uma representação muito proporcional. Uma segunda volta entre dois candidatos não teria acontecido de qualquer maneira. O que quero dizer é que não há um vencedor e um perdedor claros neste sistema. Não é um sistema como o francês, que termina com uma corrida entre dois candidatos. Assim, os resultados também devem ser interpretados a partir dessa perspectiva.

Damon Embling/euronews em Bruxelas: Falámos das eleições francesas e alemãs, sendo que, obviamente, as eleições holandesas foram o primeiro desses três momentos-chave. Mark Rutte descreveu-o como os quartos-de-final contra o nacionalismo. Que significado terá este resultado para os partidos AfD, na Alemanha, e Frente Nacional, em França? Qual poderá ser a reflexão que estarão a fazer hoje?

Louise Hoon/Universidade Livre de Bruxelas: Penso que a interpretação que está a ser geralmente apresentada na imprensa internacional de que houve um “não” dos eleitores holandeses ao populismo deve ser vista com muito cuidado e seriedade. Porque, como já disse, é também um efeito do sistema eleitoral holandês. Penso que se tivesse havido uma eliminatória entre Wilders e Rutte, o resultado poderia ter sido completamente diferente.

Penso, também, que estas eleições mostraram que os novos temas ligados à identidade, imigração e integração europeia têm sido extremamente centrais nas campanhas por todo o lado. Incluindo para os partidos progressistas e tolerantes. Os Verdes tiveram um grande resultado, enquanto que o Partido Trabalhista, que está mais alinhado com temas tradicionais ligados à economia, praticamente desapareceu no panorama político da Holanda.

Isto também diz algo sobre as campanhas que estão por vir e que deverão centrar-se muito em torno da imigração, da crise dos refugiados e da Europa. Tal significa que os candidatos populistas, tais como os da Frente Nacional e da Alternativa para a Alemanha, que abordam muito estas questões, também terão uma posição forte nessas campanhas.

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