Seca ibérica: Água volta a brotar da nascente do Rio Douro

Água volta a correr na fonte do Rio Douro
Água volta a correr na fonte do Rio Douro Direitos de autor Agustín Sandoval/ Meteoduruelo
Direitos de autor Agustín Sandoval/ Meteoduruelo
De  Francisco Marques com Agência Lusa
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Depois de ter praticamente secado, a fonte do rio que desagua no Porto voltou a correr após a queda de precipitação na Serra de Urbião

PUBLICIDADE

A água voltou a brotar da nascente do rio Douro, na Serra de Urbião, em Sória, Espanha.

No primeiro dia de novembro, Agustín Sandoval, responsável pela entidade "Meteoduruelo, meteorologia e natureza", publicou um vídeo na respetiva conta na rede social Twitter a mostrar uma secura nunca antes testemunhada pelo próprio, nesta altura do ano.

As imagens (que pode visualizar em baixo) tinham sido registadas junto à nascente do Douro, a cerca de 2000 metros de altitude.

Vídeo da seca na nascente do Douro (02/nov/2017)

No último sábado, o mesmo Agustín sandoval publicou os primeiros registos fotográficos conhecidos do regresso da água à nascente do rio que nasce nos picos espanhóis de Urbião, passa por Duruelo de la Sierra, a primeira localidade que banha, e que desagua no Atlântico junto ao Porto, em Portugal.

Divulgamos estas fotografias de Agustín Sandoval no mesmo dia em que Portugal e Espanha se sentam à mesa, exatamente no Porto, para debater a atual situação de seca que afeta a Península Ibérica.

O encontro luso-espanhol acontece no âmbito da XX reunião da Comissão para a Aplicação e Desenvolvimento da Convenção de Albufeira, com a presença de ambos os ministros do Ambiente.

O ministro português João Pedro Matos Fernandes já admitiu que o preço da água pode vir a subir, mas garantiu que as tarifas vão manter-se no próximo ano porque já estão aprovadas.

Matos Fernandes afirmou que pretender começar a discutir com Espanha a "gestão comum das águas", admitindo tratar-se de um "problema" que o preocupa.

"Há um conjunto de temas que queremos acrescentar à discussão que temos vindo a fazer: o tema da qualidade da água (...), a gestão comum das águas e as alterações climáticas no novo regime de planeamento", disse aos jornalistas, quando questionado sobre a agenda desta reunião plenária.

Em janeiro, já o ministro do Ambiente admitia uma revisão da Convenção

Do lado espanhol, marca presença nesta reunião a ministra da Agricultura e Pesca, Alimentação e Meio Ambiente, Isabel García Tejerina.

ZERO defende revisão da Convenção

A ZERO, Associação Sistema Terrestre Sustentável, defende a revisão e a melhoria da Convenção de Albufeira entre Portugal e Espanha, alertando que os caudais acordados para o Douro, Tejo e Guadiana não têm sido respeitados do lado espanhol.

Contactada pela agência Lusa, a vice-presidente da ZERO, Carla Graça, indicou que a associação avaliou os registos dos caudais destes rios em 2016 e 2017, e concluiu que houve vários períodos em que não foram assegurados.

"Verificámos que os caudais acordados não têm sido assegurados por Espanha, e também que, por vezes, ou a água é retida ou demasiado aberta, o que provoca flutuações que não são adequadas" para Portugal, disse a responsável da ZERO, que tem a seu cargo a área dos recursos hídricos.

A ZERO analisou os caudais dos três rios e identificou que, no Douro, Espanha não assegurou o caudal integral anual de 3500 hectómetros cúbicos no último ano hidrológico, entre 01 de outubro de 2016 e 30 de setembro de 2017, como previsto no regime de caudais convencionado.

No entanto, "assegurou sempre os caudais integrais trimestrais e semanais, que, mesmo cumpridos, podem resultar num caudal integral anual muito mais reduzido", indicou.

No rio Tejo, "houve uma semana em setembro de 2017 em que não foi respeitado o caudal semanal integral", indicou ainda.

Quanto ao rio Guadiana, "no último ano hidrológico, entre 01 de outubro de 2016 e 30 de setembro de 2017, houve 38 dias em que não foi respeitado o caudal afluente médio diário de dois hectómetros cúbicos, tendo ocorrido mais seis dias sem se atingir esse valor desde 01 de outubro de 2017".

A ZERO defende que o acordo entre Portugal e Espanha "deve ser revisto e melhorado, aplicado de forma transparente, e mais fiscalizado", salientou Carla Graça.

PUBLICIDADE

Pela análise que a associação fez dos dados dos caudais integrais afluentes diários de cada um dos rios, concluiu ainda que "Espanha não faz uma gestão equilibrada à escala semanal, com dias quase sem água a passar para Portugal, compensados por dias com volumes muito maiores para atingir os mínimos acordados".

A ZERO também defende "o estabelecimento de volumes de água mínimos diários, que devem ser contextualizados com valores de caudais semanais que sejam pelo menos o dobro dos atualmente em vigor para os rios Douro e Tejo".

A associação também considera que o sítio internet da Comissão para a Aplicação e o Desenvolvimento da Convenção "precisa de uma grande melhoria em termos de transparência, devendo passar a disponibilizar toda a informação atualizada sobre os caudais verificados em cada um dos rios internacionais, incluindo também o rio Minho". A Convenção assinada pelos dois países na Cimeira de Albufeira em 30 de novembro de 1998, e em vigor desde janeiro de 2000, define as normas para a proteção e o desenvolvimento sustentável das águas transfronteiriças e criou a Comissão para a Aplicação e o Desenvolvimento da Convenção (CADC), sede adequada à coordenação da gestão das águas dos rios comuns.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Seca ibérica revela aldeia galega afundada em 1992

Seca alarmante na Península Ibérica

Portugal Continental numa situação de seca severa ou extrema