Depois de ter praticamente secado, a fonte do rio que desagua no Porto voltou a correr após a queda de precipitação na Serra de Urbião
A água voltou a brotar da nascente do rio Douro, na Serra de Urbião, em Sória, Espanha.
Expectativa é chegar a novembro de 2018 com uma nova Convenção de Albufeira
Ministro português do Ambiente
No primeiro dia de novembro, Agustín Sandoval, responsável pela entidade "Meteoduruelo, meteorologia e natureza", publicou um vídeo na respetiva conta na rede social Twitter a mostrar uma secura nunca antes testemunhada pelo próprio, nesta altura do ano.
As imagens (que pode visualizar em baixo) tinham sido registadas junto à nascente do Douro, a cerca de 2000 metros de altitude.
No último sábado, o mesmo Agustín sandoval publicou os primeiros registos fotográficos conhecidos do regresso da água à nascente do rio que nasce nos picos espanhóis de Urbião, passa por Duruelo de la Sierra, a primeira localidade que banha, e que desagua no Atlântico junto ao Porto, em Portugal.
Divulgamos estas fotografias de Agustín Sandoval no mesmo dia em que Portugal e Espanha se sentam à mesa, exatamente no Porto, para debater a atual situação de seca que afeta a Península Ibérica.
O encontro luso-espanhol acontece no âmbito da XX reunião da Comissão para a Aplicação e Desenvolvimento da Convenção de Albufeira, com a presença de ambos os ministros do Ambiente.
O ministro português João Pedro Matos Fernandes já admitiu que o preço da água pode vir a subir, mas garantiu que as tarifas vão manter-se no próximo ano porque já estão aprovadas.
Matos Fernandes afirmou que pretender começar a discutir com Espanha a "gestão comum das águas", admitindo tratar-se de um "problema" que o preocupa.
"Há um conjunto de temas que queremos acrescentar à discussão que temos vindo a fazer: o tema da qualidade da água (...), a gestão comum das águas e as alterações climáticas no novo regime de planeamento", disse aos jornalistas, quando questionado sobre a agenda desta reunião plenária.
Do lado espanhol, marca presença nesta reunião a ministra da Agricultura e Pesca, Alimentação e Meio Ambiente, Isabel García Tejerina.
ZERO defende revisão da Convenção
A ZERO, Associação Sistema Terrestre Sustentável, defende a revisão e a melhoria da Convenção de Albufeira entre Portugal e Espanha, alertando que os caudais acordados para o Douro, Tejo e Guadiana não têm sido respeitados do lado espanhol.
Contactada pela agência Lusa, a vice-presidente da ZERO, Carla Graça, indicou que a associação avaliou os registos dos caudais destes rios em 2016 e 2017, e concluiu que houve vários períodos em que não foram assegurados.
"Verificámos que os caudais acordados não têm sido assegurados por Espanha, e também que, por vezes, ou a água é retida ou demasiado aberta, o que provoca flutuações que não são adequadas" para Portugal, disse a responsável da ZERO, que tem a seu cargo a área dos recursos hídricos.
A ZERO analisou os caudais dos três rios e identificou que, no Douro, Espanha não assegurou o caudal integral anual de 3500 hectómetros cúbicos no último ano hidrológico, entre 01 de outubro de 2016 e 30 de setembro de 2017, como previsto no regime de caudais convencionado.
No entanto, "assegurou sempre os caudais integrais trimestrais e semanais, que, mesmo cumpridos, podem resultar num caudal integral anual muito mais reduzido", indicou.
No rio Tejo, "houve uma semana em setembro de 2017 em que não foi respeitado o caudal semanal integral", indicou ainda.
Quanto ao rio Guadiana, "no último ano hidrológico, entre 01 de outubro de 2016 e 30 de setembro de 2017, houve 38 dias em que não foi respeitado o caudal afluente médio diário de dois hectómetros cúbicos, tendo ocorrido mais seis dias sem se atingir esse valor desde 01 de outubro de 2017".
A ZERO defende que o acordo entre Portugal e Espanha "deve ser revisto e melhorado, aplicado de forma transparente, e mais fiscalizado", salientou Carla Graça.
Pela análise que a associação fez dos dados dos caudais integrais afluentes diários de cada um dos rios, concluiu ainda que "Espanha não faz uma gestão equilibrada à escala semanal, com dias quase sem água a passar para Portugal, compensados por dias com volumes muito maiores para atingir os mínimos acordados".
A ZERO também defende "o estabelecimento de volumes de água mínimos diários, que devem ser contextualizados com valores de caudais semanais que sejam pelo menos o dobro dos atualmente em vigor para os rios Douro e Tejo".
A associação também considera que o sítio internet da Comissão para a Aplicação e o Desenvolvimento da Convenção "precisa de uma grande melhoria em termos de transparência, devendo passar a disponibilizar toda a informação atualizada sobre os caudais verificados em cada um dos rios internacionais, incluindo também o rio Minho". A Convenção assinada pelos dois países na Cimeira de Albufeira em 30 de novembro de 1998, e em vigor desde janeiro de 2000, define as normas para a proteção e o desenvolvimento sustentável das águas transfronteiriças e criou a Comissão para a Aplicação e o Desenvolvimento da Convenção (CADC), sede adequada à coordenação da gestão das águas dos rios comuns.