Enterro de Ríos Montt, o carrasco da Guatemala

Entre a revolta das vítimas e o júbilo dos companheiros de armas, teve lugar o funeral do antigo general do exército da Guatemala, José Efraín Ríos Montt, que governou de facto o país centro-americano com mão de ferro, depois de um golpe de Estado, no início dos 80.
Ríos Montt tinha 91 anos e morreu em casa, vítima de um enfarte. Os críticos não esquecem que é responsável por um dos mais violentos episódios de genocídio da História da Guatemala.
A cerimónia contou com a presença do irmão, o bispo católico Mario Ríos Montt e do seu médico particular e antigo ministro da Saúde, Mario Bolaños (2000-2004).
Em declarações aos media, a filha do antigo general, Zury Ríos, referiu-se a Ríos Montt como "o general dos generais" e disse que ainda que, "embora tivesse incomodado alguns com a sua moralidade, sempre predicou o exemplo".
Durante o enterro, membros da organização Hijos (Filhos), formada por sobreviventes do conflito militar que assolou a Guatemala entre 1960 e 1996, manifestaram-se na Praça da Constituição, no centro da Cidade da Guatemala.
Durante a manifestação, foi pintada uma frase sobre o genocídio pelo qual foi condenado Ríos Montt: "Os povos nem esquecem nem perdoam."
O general Ríos Montt governou a Guatemala entre 1982 e 1983, pondo em prática uma política de terra queimada e de repressão das populações indígenas. Ficou também conhecido pela política conhecida como "Fusiles y Frijoles" (Feijões e Fusis), por mandar entregar feijões e armas às populações, para combater grupos rebeldes.
Os grupos paramilitares criados durante a época de Ríos Montt foram acusados de arrasar mais de 400 aldeias guatemaltecas e de massacrar populações, na altura consideradas "inimigas do Estado".
Uma pena anulada
Os detalhes do que veio a ser considerado como um genocídio foram dados a conhecer por sobreviventes, durante um processo, em 2013. Apesar da condenação, o antigo general nunca chegou a cumprir pena, já que os crimes de que fora acusado tinham prescristo.
Um dos casos mais conhecidos relaciona-se com a morte de mais de mil indígenas maya ixil, processo que o levou, mais uma vez, aos tribunais, depois de, em 2015, a defesa ter informado que Ríos Montt sofria de demência.
O massacre fez com que a Justiça da Guatemala condenasse Ríos Montt a 80 anos de prisão por genocídio e crimes contra a Humanidade.
No entanto, a Corte de la Constitucionalidad (Tribunal Constitucional) anulou a sentença, por considerar que foram cometidos erros durante todo o processo, ordenando um novo julgamento.
Alfonso Portillo, presidente da Guatemala entre 2000 e 2004, lamentou a morte do antigo ditador e agradeceu o apoio que "sempre recebeu do general."
Em 2013, Portillo foi extraditado para os Estados Unidos, onde cumpriu uma pena por branqueamento de capitais, regressando depois à Guatemala.