"Acredito que as eleições em geral foram justas"

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Qasym-Jomart Toqayev dá uma entrevista ao "The Global Conversation", onde, enquanto presidente do Cazaquist´ão recém-eleito, fala dos problemas internos e das relações internacionais.

Qasym-Jomart Toqayev acaba de ser eleito presidente do Cazaquistão, substituindo Nursultan Nazarbayev, que renunciou em março, após quase três décadas à frente do país.

Ao "The Global Conversation", falou de como pretende lidar com os opositores ao poder, das relações com a Rússia e a União Europeia e da relação que vai manter com Nursultan Nazarbayev, o antigo presidente, que esteve à frente dos destinos do país por quase três décadas.

As eleições

Admito que houve violações em algumas assembleias de voto. Claro que haverá uma investigação detalhada e, se essas violações forem confirmadas, serão tomadas medidas organizacionais.
Qasym-Jomart Toqayev
Presidente do Cazaquistão

Galina Polonskaya: O relatório da OSCE fala em violação de liberdades fundamentais, nas últimas eleições, e diz que é impossível garantir uma contagem de votos justa. Planeia averiguar a veracidade destas conclusões?

Qasym-Jomart Toqayev: Foram criadas todas as condições para a realização de eleições abertas. Admito que houve violações em algumas assembleias de voto. Claro que haverá uma investigação detalhada e, se essas violações forem confirmadas, serão tomadas medidas organizacionais.

GP:O mundo inteiro viu as imagens dos protestos no dia da eleição. Centenas de pessoas que acreditam que estas eleições foram antidemocráticas foram detidas. O que pensa sobre a prisão desses manifestantes?

QJT: As pessoas saíram à rua para protestar e as suas exigências estão a ser analizadas. O meu trabalho é analizar essas exigências, ouvir as pessoas que foram para a rua. Acho que precisamos de estabelecer um diálogo entre as autoridades e o povo. Para tal, criei um comité de confiança pública.

GP:E aqueles que não estão satisfeitos com a transferência de poder que viram nos últimos meses? Essas pessoas também estavam nas ruas.

QJT: No que diz respeito à transferência de poder, tanto quanto sei, não houve queixas sérias contra as autoridades, mas a troca de palavras é inaceitável. Não me vejo como passageiro numa transferência, não estou a mudar de avião ou de comboio, sou um presidente eleito e pretendo servir todas as pessoas sem exceção.

GP:Sei que tem uma conta no Twitter e talvez saiba que as hashtags #WakeUpKazakhstan e # KazakhSpring se tornaram muito populares ultimamente. Para além de que os protestos sobre as eleições não terminaram. Acha que há o risco de o movimento de protesto crescer no Cazaquistão? Qual é a sua estratégia em relação a esse movimento?

QJT: A nossa estratégia é construir diálogo. Este movimento que mencionou é formado principalmente por jovens criativos. A minha prioridade política é atrair jovens para o poder, ajudar a resolver questões de importância nacional. Naturalmente, representantes de todos esses movimentos serão convidados, para que nos possamos resolver os problemas à mesa de negociação e não nas ruas, num ambiente de agitação e caos.

Vai ser criada uma lei que permitirá às pessoas que queiram expressar-se em manifestações entrar em contacto com as autoridades para receberem um lugar especial para se reunirem e expressarem as suas opiniões.
Qasym-Jomart Toqayev
Presidente do Cazaquistão

GP:Então o protesto de rua será suprimido?

QJT: Naturalmente que tudo o que é ilegal será interrompido. O gabinete do procurador-geral alertou repetidas vezes sobre a ilegalidade destes ajuntamentos nas ruas, das manifestações não autorizadas, de motins, porque interferem com pessoas que não querem participar. Portanto, vai ser criada uma lei que permitirá às pessoas que queiram expressar-se em manifestações entrar em contacto com as autoridades para receberem um lugar especial para se reunirem e expressarem as suas opiniões.

GP:Voltando ao tema das detenções, o que vai acontecer a essas pessoas?

QJT: Instruí o procurador-geral para tratar do assunto detalhadamente. Se entre os detidos houver pessoas que cometeram erros, mas não causaram danos sérios à segurança pública, é claro que vão ser libertados assim que possível. Disseram-me que há pessoas que estavam no local por acaso e foram detidas. Pedimos-lhes desculpas e é óbvio que serão libertados rapidamente. O problema será resolvido.

GP:E aqueles que disseram que as eleições não eram justas, o que é que lhes vai acontecer?

QJT: Claro que serão libertados, porque essa é a opinião deles. Eu, por exemplo, acredito que as eleições, em geral, foram justas. E é isso.

Relações com o exterior

A Rússia é absolutamente necessária para o Cazaquistão, como um grande Estado, um Estado que nos é próximo e que é um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Mas, sem o Cazaquistão, a Rússia também seria um pouco diferente.
Qasym-Jomart Toqayev
Presidente do Cazaquistão

GP:A 4 de abril, duas semanas depois de se tornar presidente interino, foi à Rússia e encontrou-se com Vladimir Putin. Também citou Nazarbayev ao dizer que as relações entre a Rússia e o Cazaquistão são fundamentais. Putin convidou-o? Por que razão foi à Rússia? Ele pediu garantias?

QJT: O facto de eu ter feito minha primeira visita de Estado à Rússia, a convite do presidente russo, é lógico, já que estamos unidos - não divididos, mas unidos - pela fronteira mais longa do mundo. Tivemos negociações muito boas em Moscovo, negociações importantes, assinámos declarações conjuntas. Falando de garantias, é claro que o Presidente da Federação Russa não as pediu, já que há um entendimento comum da necessidade de aumentar a cooperação. O meu princípio é o de que a Rússia é absolutamente necessária para o Cazaquistão, como um grande Estado, um Estado que nos é próximo e que é um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Mas, sem o Cazaquistão, a Rússia também seria um pouco diferente.

GP:Como vê o futuro das relações estratégicas com a Europa? E quais são os princípios fundamentais dessas relações?

QJT: A União Europeia é o maior parceiro comercial do Cazaquistão. O volume de comércio é superior a 33 mil milhões de euros. Isso é mais de metade do volume de negócios do Cazaquistão. Portanto, a importância da cooperação com a União Europeia é absolutamente óbvia. O Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, esteve aqui recentemente. Tivemos boas negociações. Clarificámos as áreas principais, portanto estou muito optimista relativamente à cooperação com a União Europeia. Falámos de cooperação comercial e económica, investimento, diálogo sobre a parceria estratégica na arena internacional e com base na experiência dos países europeus desenvolvidos, em termos de transformação política da sociedade.

GP:A China e os Estados Unidos estão em guerra comercial. O Cazaquistão ocupa uma posição estratégica no caminho das rotas comerciais chinesas que fazem parte da iniciativa "Uma Faixa, uma Rota". Perpetiva aqui algum risco para a economia do Cazaquistão?

QJT: Existem riscos. Estamos preocupados com a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, já que o Cazaquistão é um grande exportador de uma série de recursos naturais para a China. Os preços dos produtos do Cazaquistão podem cair, esse é o principal risco. Mas acreditamos que a China e os Estados Unidos, mais cedo ou mais tarde, vão chegar a acordos bilaterais. Conheço a psicologia dos líderes chineses e do povo chinês e penso que um compromisso será alcançado.

GP:Como especialista na China e que fala chinês, que conselho pode dar a Donald Trump?

QJT: Não meta os chineses a um canto. Porque, para os chineses, a perda de prestígio é muito grave.

A sucessão

Há três anos e meio, ele disse-me: "será o próximo presidente". Era uma questão de tempo, estávamos a escolher o momento certo.
Qasym-Jomart Toqayev
Presidente do Cazaquistão

GP: A sua primeira decisão foi mudar o nome da capital Astana para Nursultan. Nursultan Nazarbayev governou o país e é líder do partido no poder, o Nur Otan. Como isso vai influenciar o seu trabalho? Vão encontrar-se regularmente? Podemos antever uma mudança no sistema do governo iraniano?

QJT: No que diz respeito a Nursultan Nazarbayev, ele é o fundador do nosso estado e continua envolvido na política. Eu considero que consultá-lo em questões estratégicas é necessário e faço isso regularmente, como uma questão de princípio. O próprio Nursultan Nazarbayev disse que não haverá poder bipartido no Cazaquistão, que está de saída. Mas vai estar a ajudar o presidente. Por quanto tempo dependerá dele.

GP:Quanto tempo levou ele a escolher o sucessor? O senhor estava ao corrernte do que ia acontecendo?

QJT: Há três anos e meio, ele disse-me: "será o próximo presidente". Era uma questão de tempo, estávamos a escolher o momento certo.

GP: E não tinha dúvidas de que seria o escolhido?

QJT: Há sempre dúvidas. Mas eu não cheguei à política vindo das ruas. Fui primeiro-ministro, fui ministro dos Negócios Estrangeiros durante 10 anos e fui presidente do Senado, durante outros 10. Dirigi o nosso escritório da ONU em Genebra durante quase três anos. A maioria das pessoas conhece-me, dentro e fora do Cazaquistão.

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