Estudo demonstra origem do alto índice de desemprego em África

Panorâmica da baia de Luanda, Angola, 17 de setembro de 2018. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
Panorâmica da baia de Luanda, Angola, 17 de setembro de 2018. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA Direitos de autor © 2018 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.JOSÉ SENA GOULÃO
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De  Neusa Silva
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Saiba até que ponto o Investimento direto estrangeiro contribui para a redução do desemprego nos países Africanos

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O Congo, a Namíbia, a África do Sul, Angola e Lesoto lideram o ranking de países cujas taxas de desemprego são as mais elevadas em África.

Dois destes países no caso a África do Sul e o Congo também lideram outro ranking. O dos 5 países que mais beneficiaram de Investimento direto estrangeiro em 2018

A questão com que os gestores africanos se debatem diariamente para contrapor o elevado índice de desemprego é a seguinte:

Qual será o verdadeiro impacto do investimento estrangeiro na criação de empregos e na vida e bem-estar dos trabalhadores locais?

Um estudo feito entre a SOAS Universidade de Londres em colaboração com a Universidade Agostinho Neto Angola, a Universidade Renmin de Beijing e a Ethiopian Economics Association vem responder a esta questão.

De acordo com Fernandes Wanda especialista em Economia Política do CIC, da Faculdade de Economia da UAN em Angola O estudo demonstrou que apesar da Angolanização do setor ser real ela existe, mas que po0dia ter sido melhor implementado.

Fernandes Wanda diz que a conclusão do estudo considerou preocupantes os prazos de execução dos projetos atribuídos no setor da construção civil e das obras públicas, uma vez que quando o executivo determina prazos de execução muito apertados as empresas são forçadas tecnicamente a recrutar pessoas mais qualificadas e mais experientes para despacharem e atingirem os prazos de execução. E quandoisso acontece as mesmas socorrem-se da mão-de-obra expatriada a vários níveis.

Já o investigador principal deste estudo Carlos Joy professor titular na SOAS Universidade de Londres, Departamento de Estudos e Desenvolvimento de Londres referiu que a pesquisa evidenciou o fato de que no caso dos gestores das grandes empresas, existe um forte domínio e predomínio de gestores estrangeiros, e que isso não é só evidente no caso das empresas chinesas mas também até nas outras empresas estrangeiras, e ainda em algumas das grandes empresas angolanas nacionais predominam os gestores estrangeiros, sobretudo de Portugal ou Brasil

Fernades Wanda complementa dizendo que um dos aspetos que contribui para este fenómeno é o que diz a lei de investimento privado Angolana, que permite que cerca de 20 ou 30% dos postos de trabalho a serem criados pelo Investimento Directo Estrangeiro (IDE) sejam ocupados por mão-de-obra expatriada, o que levanta a seguinte questão: será que isso é necessário em todos os setores?

O presente estudo centrou-se nos dois setores em que as contribuições na criação de emprego podem impactar diretamente na redução do índice de desemprego local, no caso o da indústria e da construção civil e teve como estudo de caso Angola e a Etiópia por serem os países Africanos com maior presença de grandes grupos empresarias internacionais.

Foram analisados principalmente os investimentos chineses, porque o investimento chinês cresceu muito em África e também foram feitos estudos comparados com o investimento português, porque estes representam investimentos muito importantes em Angola, mas também foram analisados alguns investimentos británicos e indianos na Etiópia

O relatório final deste estudo conjunto mostra claramente que independentemente do volume de investimento direto estrangeiro que os países em África possam vir a beneficiar, se não houver uma regulação direta do estado no que se refere a contratação de mão-de-obra local, o índice de desemprego tende a aumentar.

Ao contrário do que acontece por exemplo na Etiópia que também foi objeto deste estudo onde o Governo tem uma política bem definida e as empresas estrangeiras são obrigadas a contratar pelo menos 90% de mão-de-obra local

Conclusão do Relatório final sobre o impacto do IDE na criação de empregos em África

Globalmente, as diferenças salariais e de condições de trabalho são mais determinadas pelo setor em que as empresas operam e pelo nível de qualificação dos trabalhadores do que pela origem nacional da empresa.

Dentro destas categorias, o facto de uma empresa estar localizada num parque industrial é um fator explicativo importante.

É muito mais provável que as empresas dentro dos parques industriais estejam ligadas a redes globais de produção sofisticadas, servindo geralmente os mercados de consumo dos países de rendimento elevado.

Os compradores dessas redes exercem uma forte pressão sobre os seus fornecedores no sentido de manterem os custos baixos, cumprindo simultaneamente objetivos exigentes em termos de qualidade e prazos de entrega das encomendas. Além disso, a natureza das cadeias de valor globais em questão, vestuário e produtos de couro, significa que as margens de lucro dos produtores são geralmente baixas. As empresas podem perceber que é do seu interesse manter os salários baixos, pelo menos a curto prazo.

Os parques industriais agem, portanto, como espaços particulares de fixação de salários e controle do trabalho. As barreiras físicas em torno do parque proporcionam aos gestores de empresas um grau muito maior de controlo sobre a sua força de trabalho, e os órgãos de coordenação entre empresas, tais como as associações de inquilinos, pelo menos potencialmente permitem que as empresas dentro dos parques se coordenem entre si. Como o acesso aos parques é controlado, os empregadores também acham mais fácil restringir as atividades sindicais nos parques.

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