Marcelo brinda a Governo e oposição mais fortes em 2020

O Presidente da República desejou um 2020 “de esperança”, com um “Governo forte, concretizador e dialogante”, uma “oposição forte e alternativa” e pediu que se concentrem esforços “na saúde, na segurança, na coesão e inclusão”.
Numa mensagem de Ano Novo, a partir da ilha do Corvo, nos Açores, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, em Portugal, “esperança quer dizer Governo forte, concretizador e dialogante para corresponder à vontade popular que escolheu continuar o mesmo caminho, mas sem maioria absoluta”, numa referência ao executivo minoritário do PS, chefiado por António Costa.
A esperança também significa “oposição forte e alternativa ao Governo”, acrescentou, na mensagem em que confessou a sua admiração pelos “corvinos e açorianos”, que vivem no meio do Atlântico e em que também pediu "capacidade de entendimento entre os partidos, quando o interesse nacional assim exija".
Como já tinha dito na posse do atual Governo minoritário do PS, em outubro, em que falou dos recursos limitados do país, o Presidente pediu que se concentrem esforços em várias áreas chave ou prioridades.
“Concentremo-nos em 2020 na saúde, na segurança, na coesão e inclusão, no conhecimento e no investimento, convertendo a esperança em realidade”, acrescentou.
Marcelo Rebelo de Sousa enumerou algumas áreas que considera importantes este ano, a começar por uma "justiça respeitada, porque atempada e eficaz no combate à ilegalidade e corrupção".
As Forças Armadas têm que ser "por todos tratadas como efetivo símbolo de nacional" e as forças de segurança "garantes de autoridade democrática", assim como a comunicação social terá de ser "resistente à crise financeira que a vai corroendo" e o poder local "penhor de maior coesão social, descentralizando com determinação e sensatez".
Mas para que estes objetivos sejam alcançados, afirmou ainda, é preciso "crescimento, emprego e preocupação climática duradouros", dando atenção à "inovação na ciência e tecnologia", na área da educação.
E pediu uma "mobilização cívica" para que "com esse crescimento" seja possível enfrentar "chocantes manchas de pobreza, estrangulamentos na saúde, carências na habitação, urgências para com cuidadores informais e sem-abrigo".
"Em suma, esperemos e trabalhemos. Repito: trabalhemos e não só esperemos para um ano de 2020 melhor do que 2019", disse.
Na sua mensagem de Ano Novo, a quarta desde que é Presidente, Marcelo afirmou que o desejo de “um ano melhor” é o seu “voto amigo”, mas “mais do que isso”, o seu “assumido compromisso” num ano que é “um novo ciclo”, no Mundo, na Europa e em Portugal.
No Mundo, afirmou o chefe de Estado, o ano deveria ser de "superação de guerras comerciais entre grandes potências", na defesa dos direitos humanos ou de "maior atenção" ao apelo do secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres.
Assim como ao problema das alterações climáticas, enquanto na Europa "a esperança" é que eleitos e eleitores "evitem adiamentos", "não hesitem no combate climático", que "promovam crescimento e emprego", apontou.
Primeiro-ministro escreve votos para 2020
O primeiro-ministro de Portugal define como “objetivo fundamental e mobilizador de toda a sociedade” manter a “trajetória de convergência” de Portugal com a União Europeia (UE) numa "década decisiva" que tem nas alterações climáticas um "desafio estratégico".
Num artigo com o título “Uma década decisiva”, publicado neste primeiro dia de janeiro pelo Jornal de Notícias, António Costa enumera os “desafios estratégicos” do país até 2030, “ponto de não retorno para o planeta” – as “alterações climáticas, dinâmica demográfica, transição digital e desigualdades”.
No final do texto, e olhando para o passado, o chefe do Governo admite que “foi difícil” o “ajustamento [do país] ao triplo choque competitivo resultante da simultaneidade da criação do euro, do alargamento da UE a leste e da abertura dos mercados pela OMC (Organização Mundial do Comércio)”.
“Por fim, atingimos um ponto de equilíbrio entre crescimento, emprego e estabilidade macroeconómica. Esta é a base sólida sobre a qual temos de construir um futuro de ambição com mais conhecimento, maior investimento, melhor rendimento”, escreveu o primeiro-ministro, no início do mandato do seu segundo Governo minoritário, do PS.
António Costa recorda que “Portugal retomou em 2017 a convergência com a UE, interrompida desde o início do século” e defendeu ser necessário “garantir que estes três anos foram o início de uma década continuada de crescimento sustentado, assente cada vez mais na produção de bens e serviços de maior valor acrescentado”, que permita “atingir em meados da década o objetivo de as exportações valerem 50% do PIB”.
A “chave da competitividade está na inovação”, argumentou, e ela “depende da maior qualificação dos recursos humanos e da incorporação de novas tecnologias e processos de produção mais eficientes”.
“As respostas aos desafios que enfrentamos não são constrangimentos, mas oportunidades para aumentar o nosso potencial de crescimento económico, a modernização do tecido empresarial e a qualificação do emprego”, adverte.
No artigo, Costa descreve os esforços de Portugal para atingir “a neutralidade carbónica em 2050”, com a elaboração de um roteiro de medidas, e dá ainda o exemplo do encerramento de centrais de carvão ou a proposta de eliminar o uso de plástico não reutilizável.
Os outros desafios são também explicados por António Costa, nomeadamente a dinâmica demográfica, com “políticas ativas” de “gestão de migrações” e para que “devolvam às famílias a confiança de poderem ter os filhos que efetivamente desejam”.
O combate às desigualdades também passa, segundo afirma, por lançar um programa de valorização do interior do país, com uma “estratégia articulada de projetos e medidas”.
António Costa afirma-se otimista com o cumprimento dos objetivos e desafios, acrescentando que “Portugal está na linha da frente da transição energética”
“[Portugal] reduziu as suas emissões o triplo da média da UE, nos dois últimos anos a natalidade voltou a aumentar, acompanhando a melhoria do emprego, a revolução 4.0 é a primeira grande revolução produtiva para a qual não partimos em desvantagem por falta de recursos naturais ou desajustada posição geográfica. Atingimos em 2019 o mais reduzido nível de desigualdade, desde que há registos, provando que não há inevitabilidades que resistam a boas políticas”, lê-se no artigo.