O barómetro do Diário de Notícias e da Aximage coloca, pela primeira vez na história da democracia em Portugal, um partido fora do habitual "arco da governação" em primeiro lugar nas intenções de voto. Em exclusivo para a Euronews, Germano Almeida fala dos possíveis cenários.
Pela primeira vez em 51 anos de democracia, um partido fora do habitual arco de governação dominado pelos partidos do centro está à frente nas sondagens em Portugal: o partido de direita radical Chega, liderado por André Ventura, é primeiro nas intenções de voto.
Segundo a mais recente sondagem do Diário de Notícias realizada pela agência Aximage, o partido de André Ventura seria o mais votado se houvesse legislativas agora, com 26,8%, mais um ponto percentual que a AD, coligação de centro-direita atualmente no poder, formada pelo PSD do primeiro-ministro Luís Montenegro e pelo CDS.
O Partido Socialista, que já nas últimas legislativas foi ultrapassado pelo Chega em termos de número de deputados, seria terceiro neste cenário.
A sondagem acontece quando o país está em contagem decrescente para as eleições autárquicas, marcadas para 12 de outubro, em que o Chega pode, pela primeira vez, chegar à liderança de câmaras municipais.
A notícia surge também depois de uma "gaffe" de Ventura ter dado que falar, quando toda a bancada do partido votou contra uma deslocação do presidente Marcelo Rebelo de Sousa à Alemanha para participar na Bürgerfest (festa da cidadania), organizada pelo chefe de Estado alemão Frank-Walter Steinmeier, confundindo o evento com um "festival de hambúrgueres". O líder do Chega aproveitou o "buzz" criado pelo deslize para publicar um vídeo nas redes sociais, em que comemora o primeiro lugar nas sondagens comendo um hambúrguer, dedicando o momento à "imprensa que o persegue, fazendo da destruição do Chega um cavalo-de-batalha".
Para o comentador político Germano Almeida, ouvido pela Euronews, esta sondagem não surpreende, "tendo em conta que há, desde as últimas eleições, três grandes blocos políticos em Portugal, sendo que os resultados dos três estão muito próximos. Além disso, estes resultados estão dentro da margem de erro, pelo que não considero que estejamos, de facto, perante uma viragem para uma liderança do Chega". "Destaco, no entanto, a importância simbólica desta sondagem, já que é a primeira vez em democracia que uma sondagem é liderada por um partido que não o PS nem o PSD", acrescenta o jornalista e comentador.
Quanto às possíveis causas deste avanço do Chega, Germano Almeida aponta várias: "a habilidade política de André Ventura, os ziguezagues do governo e a liderança ainda muito recente e por afirmar de José Luís Carneiro no PS. Já quanto à possibilidade de o Chega vir alguma vez a ser governo em Portugal, considera-a "pouco provável, mas possível, como mostra esta sondagem". "Se os resultados de uma futura eleição forem iguais aos desta sondagem, com o Chega a vencer por uma margem muito reduzida, dificilmente o Chega viria a formar governo, já que os outros partidos facilmente conseguem encontrar uma maioria parlamentar que bloqueie esse cenário". "A grande questão está em saber qual seria a opção da AD neste caso. Se prefere viabilizar um governo do Chega por via parlamentar, ou até entrando no governo, ou se prefere a via de uma barragem democrática, aliando-se ao PS". "Não será no próximo passo que o Chega entra no governo, mas não seria inteligente ignorar a possibilidade de que isso aconteça", acrescenta.
A tendência de crescimento da extrema-direita não é um exclusivo de Portugal: "França, Alemanha e Reino Unido, os três maiores países europeus, têm neste momento partidos de extrema-direita a liderar as sondagens: o Rassemblement National, a AfD e o Reform UK, respetivamente. Em outros países, como os Países Baixos, foi possível evitar que a extrema-direita chegasse ao governo", conclui Germano Almeida.
Entretanto, o antigo líder do Partido Socialista e candidato às próximas eleições presidenciais António José Seguro disse, numa entrevista à CNN Portugal, que nomearia André Ventura primeiro-ministro em caso de vitória do Chega numas eleições legislativas: "Até agora, todos os Presidentes da República deram posse ao líder do partido ou à coligação mais votada. Eu tenciono manter esse princípio", disse Seguro, que ainda não conseguiu obter o apoio formal do PS à sua candidatura.