Taxa de contágio dispara 46% no Amazonas

Desde palafitas a favelas, a extrema proximidade nos aglomerados de casas em Manaus ajuda a explicar a gravidade do pesadelo sanitário. Parte do auxílio médico chega de barco, percorrendo os afluentes do Amazonas. Se os números têm diminuído na capital, no resto deste Estado brasileiro a disseminação da Covid-19 tem sido galopante. Muitas vezes, as famílias das vítimas mortais não têm qualquer certeza do diagnóstico.
Edgar Silva, o pai de Eliete das Graças, faleceu há dois dias em casa. Para ela, foi o agravamento do Alzheimer que o levou. Já Leandro Beiton, que lhe prestava cuidados de enfermagem, conta que Edgar tinha desenvolvido entretanto graves dificuldades respiratórias.
O Estado do Amazonas regista cerca de 30 mil casos de contágio e perto de 1.800 mortos. Quase metade das infeções aconteceu em Manaus, onde os serviços médicos estão claramente sobrelotados. Mesmo assim, é para aqui que convergem muitos pacientes, à falta de infraestruturas noutros pontos da região.
"O que mais me marcou foi o entendimento da população de que a pandemia não é real", afirmava Sandokan Costa, médico nos serviços de urgência.
Manaus não implementou o confinamento e tornou-se controverso o alinhamento do governador estadual com o presidente brasileiro, na resistência à aplicação de restrições.
"Como é que você vai parar abruptamente a economia? Mesmo que tivesse fechado a cidade durante 30 dias - ninguém entra, ninguém sai - nalgum momento teria que abrir, nalgum momento o vírus ia chegar aqui", declara Wilson Lima, governador do Estado do Amazonas.
O objetivo de reabrir gradualmente o comércio em todo o Estado a partir do dia 1 de junho é ensombrado pela taxa de contágio, que disparou 42% numa semana.
As imagens de valas comuns em Manaus continuam a correr mundo. O Brasil ultrapassa, neste momento, os 376 mil casos de Covid-19 e regista mais de 23 mil mortes.