Está a ganhar força na Escócia a opinião de que o país estará melhor ser for independente da Rainha Isabel II e a forma como está a ser gerida a #Covid19 pode ser determinante
Está a ganhar força na Escócia a opinião de que o país estará melhor ser for independente do Reino Unido e puder voltar a fazer parte de forma soberana da União Europeia. A forma distinta como está a ser gerida a Covid-19 pelo executivo central em Inglaterra e o executivo escocês pode revelar-se determinante.
No topo da Câmara Municipal de Glasgow, a terceira maior cidade do Reino Unido, apenas a bandeira da Escócia esvoaça. Aqui, a larga maioria votou pela independência em 2014, mas não foi suficiente para arrastar o voto nacional. Algo que agora tem novo alento.
Antigo apoiante unionista, Iain Johnson explicou à Euronews ter mudado de "trincheira" porqwue de repente viu-se "arrastado para fora da União europeia contra a vontade".
O foco da campanha independentista de 2014 passava por sugerir que uma Escócia soberana poderia aderir individualmente à União Europeia, algo que o Reino Unido afastou.
Agora, a Covid-19 voltou a levantar a questão. Muitos pensam que o governo escocês geriu melhor a epidemia que o executivo liderado por Boris Johnson, cujas medidas se limitavam constitucionalmente a Inglaterra.
Também as recentes declarações de Boris Johnson a considerar "o maior erro" de Tony Blair a decisão de "devolver" poderes parlamentares legislativos à Escócia em 1997.
Nicola Sturgeon aproveitou para lembrar que "a única forma de garantir proteção e força ao parlamento escocês é através da independência".
O "não" à independência da Escócia continuou a dominar as sondagens desde o referendo de 2014 e assim foi aé julho de 2019, quando pela primeira vez o "sim" foi o preferido.
Agora, em nove sondagens realizadas durante a pandemia, a maioria voltou a manifestar a preferência pelo "divórcio" com Londres.
O professor John Curtice, da Universidade de Strathclyde, em Glasgow, salienta tratar-se da "primeira vez na história das sondagens na Escócia em que o apoio à independência esteve acima dos 50% de uma forma tão consistente".
A pergunta que se impõe é se esta tendência tem força para continuar?
"O Brexit certamente não vai desaparecer amanhã. A Covid-19, por outro lado... Se, nos próximos seis a doze meses, o governo escocês deixar de ser elogiado como tem sido na gestão da pandemia, talvez o apoio à independência também perca força", perspetiva o professor de Ciência Política.
Confronto de nacionalismos
Os nacionalistas escoceses alegavam que o referendo de 2014 tinha sido um evento único, mas o Brexit, garantem, mudou essa perspetiva. Só se um bom acordo for alcançado é que talvez o caso mude de figura.
O correspondente da Euronews no Reino Unido, Tadhg Enright, coloca, no entanto, um outro dado na mesa: "Não nos esqueçamos do impacto cultural dos eleitores escoceses no meio de um movimento dominado por nacionalistas ingleses a tomar decisões por eles nem o novo estilo do conservadorismo populista que mantém o poder em Londres."
Iain Anderson é outro eleitor escocês com quem falámos e este, embora continue fiel ao poder centralizado em Westminster, admite que, "dois anos depois do referendo, o Brexit representou uma mudança substancial nas circunstâncias".
Só o governo de Londres pode autorizar um novo referendo na Escócia, mas o primeiro-ministro britânico Boris Johnson tem vindo a resistir aos pedidos da chefe de governo escocesa, Nicola Sturgeon, para permitir um novo um novo referendo sobre o "divórcio" no seio do Reino Unido.
No próximo ano, a Escócia vai eleger um novo governo e, se as sondagens estão corretas e os nacionalistas vencerem, vai ser difícil a Boris continuar a dizer não a Nicola.