O percurso singular do campeão angolano de golfe Victor Marçal

Quando começou a aprender a jogar golfe, Victor Marçal nunca pensou que chegaria tão longe. Na infância, "Manucho", como é conhecido em Angola, observava os jogadores de golfe e recuperava as bolas.
No início, um casal francês ajudou-o a aprender golfe e deu-lhe algum equipamento. "Eles começaram a perguntar-nos ‘vocês querem aprender a jogar também? Nós dissemos: sim, nós queremos aprender. Eles disseram: batam numa tacada'. Nós batíamos e a partir daí...", recordou o campeão de golfe angolano, em entrevista à euronews.
Os primeiros passos com o "pai do golfe angolano"
Pouco a pouco a paixão pelo golfe aumentou. Victor Marçal tornou-se caddie. Ao fim de algum tempo, o aluno superou o próprio professor, Manuel Pedro, conhecido como o "pai do golfe Angolano".
“Demos-lhe a oportunidade para eles começarem a competir, primeiro em torneios de caddie, depois em torneios de caddie e jogador. Depois foi-lhes dada uma formação, independentemente da formação que eles já tinham que era de caddie. Eles passaram a receber formação de jogadores. Foi nessa época que Manucho se destacou, além de alguns outros miúdos, mas Manucho foi o número um entre os que se destacaram. Por isso, foi nessa altura que o Manucho apareceu", contou à euronews Manuel Pedro.
Um percurso extraordinário e inventivo
Hoje, o campeão nacional de Angola recorda, com carinho, os primeiros dias de um percurso extraordinário, quando, em casa, em Luanda, não tinha equipamento e era obrigado a improvisar.
"Pegávamos num varão, dobrávamos o varão uma vez e fizemos outra dobra em cima, que era para agarrar e aguentar o gripe. E Inventávamos bolas porque também não tínhamos bolas. Pegávamos nas rolhas de cortiça e tampas das garrafas de vinho. E uma tábua de madeira fazia de tapete. E aí executávamos as pancadas", recordou o jogador.
O trabalho árduo, a dedicação e a perseverança valeram a pena. Hoje, aos 38 anos, Manucho já conquistou mais de 60 títulos em campeonatos, em Angola.
"Já ganhei 62, 63 troféus. Mas há um troféu que é mais importante. É o troféu que marca os 45 anos da independência de Angola. É um troféu que significa muito na minha vida", sublinhou Victor Marçal.
Quando está fora do campo de golfe, Manucho trabalha como motorista de um banco. “O Victor é uma pessoa fantástica. É muito humano. Gosta das pessoas. E é campeão de Angola. Ele é muito bom no seu trabalho, como motorista e como jogador de golfe”, garantiu Alexandre Chivinga.
O crescimento do golfe profissional em Angola
O golfe profissional continua a crescer em Angola. Há novas infraestruturas e equipamentos. Manucho espera inspirar outros jogadores e quebrar estereótipos.
"Os rapazes que às vezes ensino já perguntaram muitas vezes,‘ mas este jogo é apenas para pessoas que se vestem bem? ’Não, não. Eu digo-lhes, 'se tu também te tornares um profissional, vais vestir-te assim e vais continuar a ser a mesma pessoa que és. Isso não vai mudar nada. O golfe é para o nível social de cada um, não tem importância", concluiu o campeão angolano.