Geórgia entre a saudade e o repúdio do passado soviético

Geórgia entre a saudade e o repúdio do passado soviético
Direitos de autor Alexander Zemlianichenko/Copyright 1991 The Associated Press. All rights reserved
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Grande parte dos georgianos olha para o passado com horror e outros com nostalgia

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No centro de Tbilissi, a capital da Geórgia, há um mercado de rua onde se vende memorabilia que traz de volta memórias de um passado que muitos querem esquecer, mas há quem tenha saudades.

Três décadas após o fim da União Soviética, muitos georgianos vêm aqui em busca de retratos ou bustos de Estaline, passaportes soviéticos ou medalhas militares.

Para alguns, estes símbolos representam as alegrias de uma juventude perdida. No entanto, para outros, são objetos que trazem memórias horríveis de um tempo que esperam que não se repita.

"Não havia nada, não havia economia. Se quisesse comprar alguma coisa, tinha de ir a Moscovo buscá-la. Alguns sentem-se nostálgicos em relação à era soviética, mais ou menos devido à estabilidade do tempo", diz um homem.

Outro georgiano tem outra opinião. "Estávamos socialmente seguros - tudo estava disponível - capacidade de viajar, salários elevados e emprego".

Andando pelas ruas da capital da Geórgia, ainda é possível encontrar na arquitetura da cidade as marcas da era soviética, como por exemplo os seus símbolos. Para os mais jovens, a foice e o martelo não despertam grande interesse... A maioria não tem memória dos tempos soviéticos.

Um georgiano refere que "mais importante ainda, a União Soviética lembra-nos que era um Estado terrorista. Um Estado que não permitia aos seus cidadãos nenhuma vontade política livre, onde a liberdade estava fora de questão e banida".

"O passado soviético ainda hoje influencia a sociedade de muitas maneiras, opiniões antigas e as perceções da vida ainda moldam a vida dos jovens e isso é triste", diz uma jovem.

Em 1991, foi provado que o vínculo involuntário de 15 Estados da União Soviética não era tão inquebrável como se pensava. Um império já em desintegração arruinou milhares de vidas.

30 anos depois, a Federação Russa tenta, ainda, controlar as antigas repúblicas e descreve esses Estados como parte da sua esfera de influência.

O historiador Lasha Bakradze, recorda que "Vladimir Putin declarou que a dissolução da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século XX. Agora testemunhamos Putin e a sua Rússia a tentarem declarar os estados pós-soviéticos como parte da esfera de influência de Moscovo. Chegaram de certa maneira a aceitar o facto de terem perdido os Bálticos. Esses estados conseguiram, a tempo, aderir à União Europeia e à NATO. No entanto, é possível observar o número de problemas presentes na Geórgia e Ucrânia".

O império teve um custo elevado para as pessoas que viveram na União Soviética e as consequências sentem-se ainda nos dias de hoje.

"A cultura política da Federação Russa para com os outros Estados pós-soviéticos que surgiram como Estados nacionais continuou. Como disse muito claramente um colega meu: "pode tirar-se a Geórgia da União Soviética, mas não se pode tirar a União Soviética da Geórgia", refere o professor universitário Oliver Reisner.

Apesar destas lutas, a nova geração olha para o Ocidente com esperança e expressou, claramente, a sua vontade através do referendo. Confirmou, firmemente, que não renunciará à sua soberania ou liberdade individual.

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