Neutra, do ponto de vista militar, com claras aspirações europeias, uma economia fortemente dependente tanto do Ocidente como da Rússia, a Moldávia é o vizinho mais frágil da Ucrânia.
Quais são os riscos reais que a Moldávia enfrenta depois da invasão da Ucrânia pela Rússia?
Com um estatuto de neutralidade, em termos militares, claras aspirações europeias e uma economia fortemente dependente tanto do Ocidente como da Rússia, a Moldávia é o vizinho mais frágil da Ucrânia.
Passei três dias a viajar pelo país e conheci dezenas de pessoas, pró-ocidentais e pró-russos, falantes de moldavo e de russo, ministros e proprietários de pequenas empresas. Fiquei com a impressão de ter visto um país que sustém a respiração.
O meu primeiro encontro, com a família Maxemchuk, decorreu num parque em Chisinau, a capital da Moldávia. Parecia um passeio descontraído, domingo de manhã, mas na verdade, a tensão e a angústia tornaram-se num sentimento frequente para o casal americano-moldavo com quatro filhos.
Após dezanove anos de vida na Moldávia, a família Maxemchuk preparou as malas, caso seja necessário fugir. "A maioria das pessoas aqui percebe que podemos ser o próximo alvo. É uma situação geopolítica muito semelhante à da Ucrânia", disse à euronews John Maxemchuk.
“Nós não temos assim tanta gente para defender o país. Os ucranianos são corajosos. Os homens e mulheres ucranianos defendem-se a si próprios. Aqueles que ficaram lá”, sublinhou Aliona Maxemchuk.
E acrescentou: "Não queremos que os nossos filhos vejam isto. Que ouçam bombardeamentos, tiros. Não queremos deixar os nossos pais e os nossos irmãos aqui para lutar, porque... esta não é a nossa luta. Esta é a nossa casa".
A família Maxemchuk ilustra o medo e a ansiedade que a guerra vizinha está a suscitar na Moldávia.
O país mais pobre da Europa
Com 2,6 milhões de pessoas, a antiga república soviética é o país mais pobre da Europa. Desde a independência da União Soviética em 1991, os partidos pró-ocidentais e pró-russos polarizaram fortemente a política local.
Um sentimento de fragilidade
Depois de condenar com veemência a invasão russa, o governo pró-ocidental candidatou-se oficialmente à adesão à União Europeia. Nicu Popescu, vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros afirma que o país se sente vulnerável.
"A maioria dos vizinhos meridionais da Ucrânia faz parte da União Europeia e da NATO. Têm garantias de segurança externa. Têm um nível de resiliência muito superior. Têm economias que funcionam melhor. Orçamentos mais consolidados. Instituições mais fortes. A Moldávia tem sido mal governada há muitos anos. A Moldávia tem tido altos níveis de corrupção. A Moldávia tem tido problemas de fraqueza institucional. A Moldávia tem um conflito separatista", disse à euronews Nicu Popescu. "Neste sentido, a Moldávia é um Estado frágil, numa região muito difícil. Com esta guerra, a nossa prioridade tem sido manter a sociedade unida, e posso dizer que, em grande medida, esta guerra uniu a nossa sociedade", afirmou Nicu Popescu.
Socialistas moldavos querem reforçar neutralidade
Tradicionalmente eurocéptica e russofílica, a oposição parlamentar tem contribuído, até agora, para esta unidade. Entrevistei um deputado do Partido Socialista da Moldávia. O grupo composto por 22 deputados tem pedido repetidamente negociações de paz. Propôs também legislação para reforçar o estatuto de neutralidade da Moldávia, que se encontra inscrito na Constituição.
"Penso que, na medida em que continuamos a ser neutros, estamos a salvo", afirmou Adrian Lebedinschi. "Há exemplos de outros países, como a Suíça, a Áustria ou o Liechtenstein, e muitos outros, que anunciaram a vontade de ser neutros. Isso permitiu-lhes, até agora, ficar fora de conflitos militares".
Preocupação aumenta na Transnístria
A Moldávia já acolhe um conflito militar latente. Após uma guerra mortífera no início dos anos 90, a região pró-russa da Transnístria declarou a independência, um estatuto que não foi reconhecido pelos países das Nações Unidas. Há cerca de 1400 tropas russas e um consulado russo no território.
Em reação aos esforços moldavos para aderir à União Europeia, a região renovou o apelo para ser reconhecida internacionalmente. Não fomos autorizados a filmar. Telefonei a um engenheiro informático russo que vive em Tiraspol, a capital da região.
"A atmosfera não é muito má. Mas muitas pessoas não sabem quem apoiar, não sabem quem está certo ou errado. Há aqui muitos reformados russos que recebem algum dinheiro da Rússia. É o grupo de pessoas mais problemático. Sentem muito stress", afirmou a testemunha que preferiu manter o anonimato.
O engenheiro informático afirma que perdeu metade do salário desde o início da invasão russa da Ucrânia e sublinhou: “As pessoas na Europa devem compreender que a Transnístria não é um agressor. Não tomamos partido, somos sempre pela paz".
A região da Gagaúzia não quer tomar partido
A 35 quilómetros da fronteira com a Ucrânia, a Gagaúzia é um território autónomo com laços políticos, sociais e culturais muito fortes com a Rússia. Num referendo, há oito anos, a esmagadora maioria dos eleitores optou por reforçar os laços com a Federação Russa em relação à integração na UE. Hoje, as autoridades locais preferem manter-se discretas.
“Mesmo que sejamos provocados a tomar partido, não podemos fazê-lo. Apenas esperamos que a situação acabe e que haja paz”, disse à euronews o deputado Gheorghii Leiciu, membro da Assembleia Nacional Popular da Gagaúzia.