A Euronews esteve em Przemyśl, na Polónia, a ouvir as histórias daqueles que deixaram a Ucrânia e a guerra para trás.
Elizaveta olhou para mim e para o microfone. Eu esticava-me na sua direção. Ela inspirou profundamente. A mãe olhou para ela e deu-lhe a mão.
Durante esse momento, antes de Elizaveta começar a falar, o meu sangue gelou. Aquele gesto entre estas duas gerações de mulheres ucranianas deu-me um choque emocional. Significava amor, dor e força. Ainda incrédula sobre o que tinha mudado a sua vida de um dia para o outro, começou a falar: "Na Ucrânia, há um grande problema. Putin está a matar os nossos filhos. Tantas crianças".
Não estava a chorar, mas as lágrimas começaram a descer-lhe pelos olhos. Não consegui manter qualquer distância emocional, como jornalista, em relação ao que testemunhava. Os olhos de Thierry, atrás da câmara, também estavam cheios de lágrimas e Karolina, os nossos "olhos e ouvidos" locais também não conseguiam segurá-las.
A mesma cena repetiu-se vezes sem conta durante a nossa missão de dez dias na Polónia, na fronteira com a Ucrânia. Não conseguíamos manter a nossa distância. Aquela onda de tristeza e dor acabou por nos atingir a todos. Uma pergunta recorrente continuava a circular na minha cabeça. Porque é que tudo isto está a acontecer?
Muitas vezes, senti-me uma intrusa. Mas, muitas vezes, fiquei surpreendida com a resposta. Estas mães, avós e jovens mulheres estavam conscientes de que tinham um papel a desempenhar, mesmo longe de casa, mesmo como refugiadas.
"O mundo precisa de saber", disse-me Lyuba no centro de autocarros em Przemyśl, a principal cidade polaca perto da fronteira com a Ucrânia. Abalada e ainda em choque, ela descreveu como todo o seu mundo tinha virado de cabeça para baixo:
"Putin é o agressor. Pessoas inocentes estão a morrer. Os tanques estão a disparar por todo o lado. Uma jovem, de 18 anos de idade, está ali parada com uma metralhadora. É horrível. Tanques na cidade. Em todo o lado. As pessoas estão a usar uniformes militares. Detenham-no ou haverá uma guerra nuclear. Detenham-no. Amanhã ele estará na Europa. Detenham-no", disse-nos, emocionada.
Veronika, de 20 anos, estava a fazer fila embrulhada num grande cobertor na estação de autocarros de Przemyśl, um parque de estacionamento reconvertido para ajudar os refugiados. Ela disse-me que a Ucrânia vai ganhar porque "a Rússia luta com um exército. A Ucrânia luta com o povo". Este forte sentido de pertença e resistência é algo com que me deparei em todos os refugiados com quem falei.
E houve também Lyudmilla, uma médica reformada de 67 anos, que afirmou: "Vamos ultrapassar isto".
Tentou sorrir enquanto o dizia. Nesse sorriso forçado que se transformou em lágrimas, vi toda a resiliência de uma população que luta pela justiça, democracia, e liberdade. Não é eles os valores que a União Europeia se baseia?